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Uruguai exporta maior carregamento de sempre de flor de cannabis com alto teor de THC, mas comprador permanece um mistério
Publicado
3 anos atrásem
Por
Alfredo Pascual

Um carregamento de cannabis medicinal exportada pelo Uruguai para a Europa, no final de 2019, está a levantar polémica acerca da identidade do comprador e do grande volume da carga. Cerca de uma tonelada de flor de cannabis com alto teor de THC foi legalmente exportada do Uruguai para Portugal no final do ano passado, de acordo com os documentos alfandegários uruguaios analisados pelo jornal Marijuana Business Daily. O importador e o destino são desconhecidos.
Como termo de comparação, a Alemanha – o maior importador de flor de cannabis medicinal do mundo – importou uma média de 542 quilogramas por mês, em 2019, para distribuição farmacêutica. O carregamento uruguaio – talvez o maior carregamento internacional de sempre de cannabis medicinal – espelha uma indústria de cannabis medicinal
cada vez mais global, ainda a dar os primeiros passos.
Contudo, o importador, o propósito e o destino final do produto permanecem um enorme segredo.
O documento alfandegário revela que o produtor certificado Fotmer Life Sciences, com sede no Uruguai, exportou a cannabis para Portugal pelo valor de 3,2 milhões de dólares, incluindo custo, seguro e taxas. O importador português não se encontra identificado no documento, datado de 23 de Outubro de 2019. A agência portuguesa reguladora responsável pela autorização de importações (Infarmed) revelou que a informação que o jornal MJBizDaily requereu “não é pública”.
Portugal tem uma moldura reguladora que permite a venda interna de cannabis medicinal. Mas nenhuma empresa portuguesa conseguiu obter a aprovação necessária para iniciar a venda a pacientes em solo nacional. Por essa razão, parece bastante improvável que a flor com alto conteúdo de THC tenha sido enviada para este país europeu no final do ano passado – a menos que tivesse um outro país como destino.
Importador desconhecido
O Director Executivo da Fotmer, Jordan Lewi, admitiu previamente o carregamento de “pouco mais de uma tonelada métrica da flor seca rica em THC para um país da UE”;
Contudo, Vera Tochetti, a Directora de Marketing da empresa, disse à MJBizDaily, em Fevereiro, que a Fotmer não poderia revelar o nome do comprador. O Infarmed, a agência reguladora responsável pela aprovação de importações e exportações de narcóticos, disse igualmente que não iria identificar o comprador: “A informação específica solicitada não é pública, integrando-se no âmbito das actividades das empresas licenciadas”, disse a agência à
MJBizDaily.
Os produtores portugueses de cannabis certificados poderiam ser os presumíveis importadores da planta do Uruguai, uma vez que as suas licenças incluem importação e exportação. Mas o importador poderia ter sido igualmente, por exemplo, um laboratório não ligado à cannabis que necessitasse do produto para efeitos de investigação. Porém, é improvável que tamanha quantidade tenha sido importada com esse propósito. Apenas quatro empresas em Portugal possuíam licença de cannabis na altura em que a importação foi efectuada, segundo a página web do Infarmed. Três das empresas – Emmac Life Sciences, sediada em Londres (através da sua subsidiária Terra Verde), The Flowr Corp., de Toronto (através da sua subsidiária Holigen/RPK Biopharma) e Sabores Púrpura, de Coimbra, Portugal. O produtor canadiano Tilray não confirmou nem desmentiu à MJBizDaily se efectuou ou não a importação: “Por razões comerciais, a Tilray não fornece detalhes sobre quem são os seus fornecedores ou sobre a sua actividade
comercial”, referiu, num email, Sarah Sheppard, a consultora europeia da Tilray.
Destino desconhecido
De momento, os primeiros produtos de cannabis medicinal não começaram ainda a ser comercializados em Portugal, o que sugere que a planta rica em THC poderá ter sido exportada para Portugal, com a finalidade de ser
reexportada para outros países. As únicas empresas que anunciaram publicamente exportações comerciais de
cannabis até ao momento foram: a Tilray para a Canndoc, em Israel – 250 quilogramas em Janeiro de 2020 –
como parte de um acordo de parceria estratégica de 2,5 toneladas métricas.
A Emmac para o Grupo Bazelet, em Israel – 400 quilogramas em Fevereiro de 2020. Antonio Costanzo, Director Executivo da Emmac, disse à MJBizDaily que a empresa “não importou nenhum produto para Portugal” e que a cannabis que exportou para Israel foi “cultivada e colhida na nossa propriedade, Terra Verde”, em Portugal.
O produtor uruguaio Fotmer não tem certificação EU-GMP, segundo a base de dados oficial da EudraGMDP da União Europeia, disponível publicamente, o que poderia limitar a possibilidade de a planta ser vendida sem processamento a pacientes de países como a Alemanha.
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Este texto foi publicado originalmente por Alfredo Pascual no MJBizDaily, a 21 de Maio de 2020, e traduzido para o CannaReporter por Raquel Ralha. Uma actualização com novos dados foi publicada a 3 de Junho.
Imagem de Destaque retirada de um vídeo do website da Canndoc Pharma.

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se a PJ entre outras entidades controlam essa substancia em portugal legalmente nao deveria existir ( compradores misterio ) voces ja devem ter uma ideia onde isto tudo foi parar … provavelmente as maos de traficantes de portugal para compenssar a falta de haxixe que portugal se encontra neste momento e agora sim tudo faz sentido os traficantes andarem a vender o tal ( super Polen ) a preco do ouro …….