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Sébastien Béguerie: “Finalmente sou visto como um pioneiro na indústria, ao invés de um fora-da-lei”

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Sébastien Béguerie, 36 anos, foi recentemente absolvido pelo Tribunal de Justiça da União Europeia, no caso Kanavape, depois de uma longa batalha de seis anos contra os tribunais em França.

Em entrevista ao Cannareporter, Sébastien conta como viveu os últimos seis anos de batalha judicial e o que sentiu depois de o TJUE o ter absolvido, na decisão histórica onde deixou claro que a comercialização de CBD não pode ser proibida entre os estados-membros da UE.

Nascido em Marselha, França, Sébastien fez o Mestrado em Ciências Vegetais, com especialização em Horticultura e Fisiologia Vegetal, na Wageningen University Research (WUR), na Holanda, após obter um patrocínio da Bedrocan, que lhe facilitou o acesso à investigação com canábis medicinal. Em 2010, apresentou um poster sobre a propagação clonal da canábis farmacêutica, no 28º Congresso Internacional de Horticultura, em Lisboa. É co-fundador e coordenador da União Francófona dos Canabinóides como Medicina (UFCM), criada em 2009, e CEO da Alpha Cat e da Golden Buds.

Como é que chegou à indústria da canábis?

Eu envolvi-me na indústria da canábis muito cedo, através da minha formação científica, por isso já tenho mais de 13 anos de experiência nesta área. Em 2007 formei-me em Horticultura e foi graças a esse curso, onde era requerida a realização de um estágio, que consegui trabalhar no Instituto Nacional de Agricultura, em Itália. Ali, tive a sorte de trabalhar com o Professor Giampaolo Grassi, no departamento de investigação de licenças de canábis medicinal de Rovigo. Após terminar a minha licenciatura, e com a realização do estágio, candidatei-me a um Mestrado na Holanda, onde consegui uma bolsa da Bedrocan para continuar os meus estudos, especializados em horticultura e canábis. Sempre fui muito activo na área da canábis medicinal e criei a primeira associação de canábis medicinal, em 2009 no Luxemburgo, seguida da sua filial em França, em 2012. Durante cerca de oito anos conseguimos realizar conferências sobre canábis medicinal em Estrasburgo, onde tivemos os maiores nomes da ciência da canábis, como Ethan Russo, Professor Raphael Mechoulam, Dr. Franjo Grotenhermen, Professor Lumir Hanus, etc. E também tivemos a sorte de os trazer a França para educar os profissionais de saúde franceses. Quando terminei o Mestrado, em 2011, foi quando entrei em contacto pela primeira vez com o CBD, que estava a surgir no mundo da ciência da canábis naquela época, e foi quando tive a ideia de me envolver mais no CBD, para o tornar disponível para as pessoas. Foi quando, em 2014, decidimos criar este novo produto a que chamámos de Kanavape. 

Como é que surgiram os problemas com o Kanavape?

Quando em Dezembro de 2014 anunciámos publicamente o Kanavape todos os jornalistas enlouqueceram e poucas horas depois eles foram entrevistar a Ministra da Saúde francesa daquela época e ela respondeu que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para impedir a venda deste produto e interromper a nossa actividade como empresa. E assim, em Fevereiro de 2015, tivemos uma visita da polícia no meu escritório em Marselha. A partir daí, o problema começou. Dois anos depois de estarmos perante o tribunal de Marselha, que nos considerou culpados, tivemos cerca de 18 meses de prisão suspensa e 10 mil euros de multa. Obviamente que recorremos da decisão e quando entrámos no tribunal de recurso, em 2018, pedimos que fossem colocadas questões a nível europeu. No ano passado, em Outubro de 2019, estivemos no Luxemburgo e o resto da história vocês já sabem.

Como é que estes processos judiciais afectaram a sua vida pessoal e profissional?

Profissionalmente, mudaram muitas coisas, porque depois disto decidi mudar-me para Praga, na República Checa, onde tínhamos outra empresa que estava a tratar da produção. A República Checa oferece, desde que me estabeleci, um ecossistema muito bom para negócios de CBD, ao contrário da França. Pessoalmente esta situação também me afectou muito, pois estive sob bastante pressão e stress. Também me fez abandonar o meu próprio país, o que não foi uma sorte, mas foi assim.

Como é que evoluiu a sua situação profissional a partir daí?

Durante todos esses anos, eu realmente comecei o meu projecto original no negócio de canábis, com a Alpha Cat, um kit para testar você mesmo o perfil canabinóides do seu produto de canábis. Por conta da situação da Kanavape decidi parar com essa marca e focar-me mais na Alpha Cat e desenvolver uma linha de produtos de CBD e bem-estar. Hoje temos óleos, cápsulas e cosméticos de CBD e também produtos com CBG (Canabigerol) que é um novo canabinóide que está a surgir no mercado. Há dois meses lancei um novo produto, a que chamámos “Golden Buds“, que é como um Kanavape 2.0, com destilado premium de canábis e terpenos, sem quaisquer aditivos. 

O que é que sentiu depois de ouvir a sentença do TJUE? 

Senti um grande alívio, porque sofri muito stress nos últimos seis anos, com algumas acusações pesadas do governo francês sobre mim. Então, é um grande alívio. Finalmente tenho a oportunidade de ser visto como um pioneiro na indústria e no meu país, ao invés de uma pessoa fora-da-lei, então esta é uma excelente notícia e estou muito feliz com isso. É um óptimo momento, e não apenas para mim, na verdade, mas também para a indústria de CBD, que agora tem um futuro brilhante graças ao meu caso. Estou bastante satisfeito com a decisão do TJUE e realmente ansioso pelo futuro da indústria de CBD na Europa.

Como é que vê o futuro da indústria de CBD na Europa?

Estou muito confiante agora, porque a decisão do TJUE acabou com todas a alegações absurdas da Comissão Europeia sobre o CBD ser um narcótico, o que teria implicado, basicamente, que o CBD seria uma substância controlada através da indústria farmacêutica. Graças a Deus que, com o meu caso, isso será retirado de cima da mesa e podemos finalmente discutir sobre o CBD como um produto que pode ser vendido livremente no território. Também a retirada do decreto em Itália, que da mesma forma tentava colocar o CBD como um narcótico, foi incrível. Vejo um futuro brilhante para esta indústria. Agora, todos os estados-membros terão que trazer as suas próprias leis para regular este mercado, mas eventualmente chegaremos lá e seremos capazes de prosperar e dar mais empregos e bem-estar às pessoas.

Como é sentir-se um pioneiro desta indústria? 

Bem, é óptimo, mas não foi sem custos. Tal como um “no pain no gain”, eu tive que pagar contas pesadas em advogados para chegar a este ponto, além de ter suportado muito stress. Em relação à minha saúde, não tem sido fácil desde que fui acusado, mas estou muito feliz pelo facto de o meu caso poder vir a ajudar muitos empreendedores de CBD, que estão na mesma situação. É realmente fantástico ver que, por via da minha iniciativa, fui capaz de impulsionar esta indústria incrível, que está apenas à espera de explodir. Então sim, é uma sensação incrível, e estou ansioso para ver como esta indústria vai evoluir e expandir-se através das fronteiras europeias. 

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do 21º Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “Say What? Lisbon” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

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