Médico Oncologista do Serviço de Oncologia do Hospital da Universidade de Coimbra, Paulo Freitas Tavares nasceu em Outubro de 1961 e licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra em 1985. Há mais de 30 anos que Paulo Tavares aconselha a utilização de canábis aos seus doentes oncológicos, monitorizando e orientando o seu consumo.
Especialista em Hematologia Clínica desde 1993 e em Oncologia Médica desde 1997, Paulo Tavares é também consultor em Hematologia Clínica. Trabalha essencialmente como Oncologista e é responsável pela Unidade de Tumores do Aparelho Locomotor do CHUC (Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra), nomeada “Centro de Referência de Oncologia de Adultos — Sarcomas das Partes Moles e Ósseos” e integrante da European Reference Network (ERN EURACAN). Deu entrevistas na rádio e na televisão e foi convocado como perito por tribunais sobre a importância da utilização médica de uma substância proibida na altura.
No seguimento da notícia da aprovação das flores de canábis com 18% de THC em Portugal, as primeiras a serem autorizadas pelo Infarmed, enviámos algumas questões a Paulo Freitas Tavares, para saber de que modo as poderá utilizar na sua prática clínica.
Na sua opinião, o que representa a aprovação deste primeiro produto no mercado?
Estou espantado com esta aprovação face à informação apresentada. Tudo é estranho. Desde ser uma empresa canadiana a viver de fundos europeus até conseguir plantas com <1% de CBD seguramente por engenharia genética. Não é este o produto que os doentes precisam, e atrevo-me a dizer que até pode ser perigoso. Na canábis é sabido que é a mistura de vários canabinóides naturais que a tornam eficaz e segura, contrariando uns os efeitos secundários de outros.
O folheto para os profissionais de saúde tem toda a informação de que precisa para prescrever?
É claro e notório que não. Os médicos necessitam saber a composição exacta da preparação, saber todos os compostos presentes e em que quantidades. No caso da canábis, conhecer detalhadamente o conteúdo em canabinóides e terpenos. Para além disso, é de boa norma assegurar que foram analisados e não encontrados vários possíveis contaminantes, como metais pesados, pesticidas, bactérias ou fungos.
Quantos pacientes é que estima que possam vir a beneficiar dele?
Prescrito por mim, nenhum.
Qual o preço de venda ao público que, na sua perspectiva, seria o mais acessível e adequado a este tipo de produto?
Defendo que a canábis medicinal, dada a sua importância, deve ser fornecida gratuitamente aos doentes pelas farmácias hospitalares sob prescrição médica. Exactamente como é feito para a maioria dos tratamentos do cancro, das hepatites, da SIDA. O doente não paga nada.
Que outros produtos espera ver aprovados no futuro em Portugal ou quais são os que neste momento mais falta fazem aos pacientes?
Os doentes precisam de uma boa canábis natural, criada ao ar livre, sem pesticidas nem contaminantes e com toda a panóplia de canabinóides que ela possui. Sempre com informação completa da composição! A canábis como produto agrícola terá variações com os terrenos, as sementes usadas, e no mesmo terreno e com a mesma semente, será diferente em cada colheita, como o vinho.
Tem uma ideia de quantos dos seus pacientes beneficiam actualmente de canábis e como a adquirem?
Tenho dezenas de doentes que têm de utilizar canábis para sobreviver e que infelizmente têm que a comprar no mercado negro, a preços especulativos.