Uma equipa de investigadores da Universidade de Pompeu Fabra, em Barcelona, Espanha, concluiu que um simples comprimido pode tirar os efeitos secundários do THC, nomeadamente a perda de memória, quando este é utilizado para fins medicinais. Por enquanto os testes foram apenas em ratinhos, mas o objectivo é chegar aos ensaios com humanos em breve, contou Rafael Maldonado, um dos investigadores principais do estudo, ao Cannareporter.
O THC, quando utilizado para fins medicinais, pode actuar como analgésico, mas é comum que com ele venham alguns efeitos secundários, como a perda de memória (em particular memórias recentes). Um novo estudo, publicado em Abril deste ano, sugere que há uma maneira de tratar a dor neuropática e evitar este tipo de efeitos indesejáveis. Os ensaios clínicos em ratinhos mostraram que ao aplicar uma biomolécula, chamada peptídeo, por via oral no momento do consumo pode ser suficiente para mitigar o problema, para quem o vê como tal.
Como funciona?
O que faz com que o THC produza efeitos analgésicos é a maneira como se liga aos receptores endocanabinóides CB1. Por sua vez, esses receptores interagem com o receptor da serotonina 5HT 2A, e essa interação causa problemas de memória. Ora, para resolver esse problema é preciso evitar tal interação. Com isso em mente, os investigadores desenharam e produziram peptídeos capazes de pôr fim à dita interacção. Desta forma, será possível que o THC actue contra a dor sem ativar o receptor de serotonina.
“Já tinha sido criado um outro peptídeo que diminuía a perda de memória causada pelo THC, mas o deste estudo é menor e mais estável, ou seja, permite a administração oral”, explicou Rafael Maldonado, um dos investigadores principais do estudo, ao Cannareporter.
Depois de administrar o peptídeo aos ratinhos por via oral, junto com uma injecção de THC, os investigadores avaliaram o limiar de dor e a capacidade de memória. Os resultados mostraram que os ratinhos tratados com THC e o peptídeo optimizado obtiveram os benefícios do THC no alívio da dor e, ao mesmo tempo, mostraram melhor memória em comparação com aqueles tratados apenas com THC.
O THC foi injectado nos ratinhos de forma a conseguir níveis da substância coerentes no organismo, para facilitar o estudo em laboratório. Porém, esclarece o investigador, a eficácia do comprimido, com a biomolécula, será igual, independentemente da maneira que o indivíduo escolher para consumir a canábis ou os produtos à base de canábis.
Rafael Maldonado diz que a equipa está, neste momento, a consultar a EMA (Agência Europeia dos Medicamentos) para que esta os aconselhe como podem proceder para iniciar a primeira fase dos ensaios em humanos, cujo processo demora, regra geral, cerca de 9 meses. Ainda não há, assim, uma data prevista para o começo dos testes, mas é, assegura Rafael, algo que querem ver feito em breve.
Sobre a importância deste tipo de estudos, o investigador diz que “para os pacientes que usam canábis para o propósito medicinal, a possibilidade de minimizar os efeitos da planta é uma excelente oportunidade”. Desta forma, é possível ter os benefícios sem ter as consequências. “Para quem tem dor, este tipo de produto contribuirá para um uso mais seguro da canábis medicinal”, acrescenta.
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