Hugo Monteiro, o agricultor e fundador da Cooperativa de Cânhamo Industrial Lusicanna, enviou um esclarecimento à DGAV – Direcção Geral de Alimentação e Veterinária, no dia 27 de Agosto, pouco mais de uma semana antes de ser detido pela G.N.R., em Serpa. O e-mail foi enviado na sequência dos atrasos no deferimento do seu cultivo de cânhamo, para o qual tentava obter autorização desde Fevereiro de 2021. Entretanto, Hugo Monteiro já foi ouvido pelo Tribunal Judicial de Serpa e libertado com termo de identidade e residência.
O Cannareporter teve acesso ao documento, endereçado à responsável pela Divisão de Variedades e Sementes da DGAV, Conceição Canas Serra de Carvalho, e transcreve-o abaixo na íntegra.
“Exma. Sra. Dra. M. Conceição Carvalho,
Vimos por este meio esclarecer algum mal-entendido em relação à nossa operação de cultivo de cânhamo industrial.
Somos produtores de plantas aromáticas e medicinais em modo biológico no Parque Natural do Vale do Guadiana, em Serpa, desde 2015. Fomos apoiados no âmbito da instalação de jovens agricultores. Os primeiros anos foram muito difíceis devido à seca extrema que se verificou, o que nos levou a procurar cada vez mais culturas resilientes que possibilitassem maior valor acrescentado. Deixamos culturas perenes de regadio e optámos por culturas perenes de sequeiro, como o Rosmaninho Branco, o Alecrim ou a Perpétua das areias. Experimentámos culturas ancestrais como o açafrão verdadeiro (Crocus sativus) com enorme sucesso, pois é uma cultura adequada a solo pobre, que não precisa de água e alto valor acrescentado.
Desde o início que adoptámos técnicas de regeneração de solos pobres, nomeadamente a cultura em linhas “K-Line” que permitem a retenção da água no solo e a longo prazo o aumento da camada de húmus. Praticamos a “Agricultura Biodinâmica” o que nos permitiu recuperar técnicas ancestrais de cultivo como a sintonia com o calendário lunar e a posição das principais constelações. Todas estas técnicas revelam um bom resultado nas nossas produções e principalmente, na regeneração da nossa exploração.
Depois das grandes perdas de 2017 e 2018, fomos selecionando o que esta terra nos podia dar. Decidimos investir na produção de óleos essenciais, pois tivemos experiências muito positivas com as nossas plantas na destilação. Esta decisão definiu o nosso rumo atual. Não podemos produzir grandes quantidades, pois não temos água, mas podemos produzir plantas com alto teor de óleos essenciais, pois o clima assim o favorece.
Foi neste sentido que surgiu a oportunidade do cânhamo industrial. Iniciámos em 2019 com a primeira plantação, completamente a título experimental. Fomos os primeiros produtores de óleo essencial de cânhamo no país, o que muito nos orgulha. Devo referir que o óleo essencial de cânhamo não tem qualquer quantidade de canabinóides, pois são todos eliminados pela temperatura do vapor. Só tem terpenos, como nos outros óleos que fazemos. Fazemos atualmente a destilação de dezoito plantas desta região. O cânhamo é sem dúvida a nossa inovação.
Como cultura experimental, foi um sucesso, pois a adequação à região foi boa. Desde então temos estado a melhorar o modo de produção com todos os constrangimentos institucionais existentes. Devo realçar que sempre cumprimos, ou tentámos cumprir os regulamentos para as culturas em que investimos. O Cânhamo não foi diferente. Fizemos todos os procedimentos para ter a nossa operação regularizada.
No ano de 2020 a DGAV recusou a autorização que solicitámos e no início de 2021 iniciámos o pedido de autorização. Desde fevereiro que estamos a responder a questões que são solicitadas por vós. Temos todos os requisitos necessários e consideramos o vosso atraso muito prejudicial para a nossa campanha.
No início de 2021, depois de receber as primeiras solicitações de vossas excelências, fizemos as diligências para obter os documentos necessários. Desde fevereiro que estamos neste processo, assim não pode ser imputada à nossa responsabilidade o atraso na autorização de cultivo solicitada. Esta solicitação de autorização em 2021 vem no sentido de complementar a nossa experiência de produção, com produção de óleo a partir da semente prensada a frio.
Depois dos constrangimentos iniciais no processo de autorização inesperados, decidimos semear cerca de mil plantas das sementes que estavam autorizadas em 2019, a fim de fazer a adaptação da cultura para o óleo das sementes. É por esse motivo que temos já algumas plantas no terreno, de sementes autorizadas e certificadas, e aguardamos a vossa autorização para aumentar esta produção experimental. Estas sementes são de um lote certificado e já temos análises da produção que enviamos em anexo.
[…] as políticas restritivas ao cultivo de cânhamo industrial em Portugal, acusando os governos de não os querer ouvir e excluir os pequenos produtores. Alertam ainda para os interesses da indústria farmacêutica em […]
e inadmissível uma demora tão grande