Entrevistas
Graça Castanho: “É preciso devolver a planta às pessoas, trata-se de um direito humano”

Graça Castanho, professora universitária e empresária, é a principal organizadora do I Congresso Internacional do Cânhamo, que decorre a 3 de Outubro na Associação Agrícola dos Açores, na Ribeira Grande, Ilha de São Miguel. O Cannareporter falou com a dinamizadora do evento, para perceber melhor o porquê da realização deste Congresso e porque é que é “urgente colocar Portugal no mapa da produção do cânhamo industrial”.
Ex-Conselheira para o Ensino do Português nos EUA e Bermuda e ex-Directora Regional das Comunidades no Governo Regional dos Açores Graça é actualmente docente na Universidade dos Açores. Detentora de vários graus académicos, nomeadamente dois pós-doutoramentos (um na Universidade de Harvard com um estudo em Moçambique sobre o Ensino da Literacia e o outro na Universidade de Lesley sobre o ensino do Português como língua global), Graça Castanho percebeu o enorme potencial do cânhamo na sustentabilidade e resolveu apostar nesta cultura, investindo na empresa Neuron Bonus, que comercializará produtos à base de cânhamo. Mas além disso, considera necessário investir também no debate e na divulgação de mais informação sobre esta cultura nos Açores, daí estar a organizar este congresso.
Como surgiu a ideia de realizar este congresso e quais são os seus principais objectivos?
Perante as potencialidades no sector da produção, transformação e comercialização do cânhamo industrial nos Açores, ficou claro que a população em geral e os profissionais da área da saúde, educação, agricultura, construção civil, etc. têm pouca informação sobre esta área económica emergente pelo mundo fora. Porque se trata de uma planta com inúmeras utilizações e sendo uma alternativa às práticas agrícolas tradicionais, com benefícios para o ser humano e para a sustentabilidade do planeta, arregaçamos as mangas e desenvolvemos este projecto nos Açores, em parceria com especialistas nacionais e estrangeiros.
Como é a situação do cânhamo nos Açores e que trabalho tem vindo a desenvolver nesta área?
Apesar da crescente procura de novas oportunidades de negócio nesta área por parte de locais, nacionais e estrangeiros, a verdade é que não existe produção de cânhamo industrial nos Açores, por falta de uma resposta mais consolidada dos governantes e por falta de informação sobre as especificidades do cultivo desta planta. No congresso temos a participação do Professor João Madruga, da Universidade dos Açores, que irá falar sobre esta nova linha de investigação nas ilhas, bem como produtores nacionais e cientistas do Canadá e EUA, que irão explorar as questões científicas por detrás do cânhamo e da canábis.
Que principais temas estarão em debate e que oradores destaca neste evento?
O leque é vasto, quer em termos de temas, quer de oradores. Foi nossa intenção proporcionar um momento formativo de elevado interesse e relevância para os agricultores, profissionais de saúde, educadores e decisores políticos sobre as diferentes vertentes da produção, transformação e comercialização do cânhamo industrial, pelo que iremos falar da sua utilização ao nível do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas, na alimentação, cosméticos, construção, têxteis, produtos substitutos dos plásticos e fibras sintéticas, tratamento da dor e das dependências, entre outros.
Como é que vê a situação do cânhamo no mundo, na Europa e em Portugal?
Têm sido dados passos largos sobre a cadeia produtiva do cânhamo no mundo, com base em evidências científicas. Contudo, a aplicação desse conhecimento tem sido feita de forma desigual, em diferentes ritmos pelo mundo fora, chegando ao ponto de grande parte da população recear o uso desta planta, por se julgar que a mesma integra a lista de substâncias ilícitas ou psicotrópicas. O nosso Congresso visa precisamente informar e educar para as potencialidades desta planta para a saúde e práticas produtivas mais ecológicas e consentâneas com as exigências ambientais dos nossos dias.
Quais têm sido os principais entraves para esta cultura no nosso país?
Desinformação e pressão do sector farmacêutico, que tudo faz para roubar o acesso a uma planta natural, cuja existência no planeta sempre acompanhou a evolução da humanidade, com inúmeros benefícios para dores, ansiedade, insónia, depressão, Autismo, Alzheimer, cancro, etc. É preciso devolver a planta às pessoas, trata-se de um direito humano.
Como tem sido a sua relação com as entidades a este nível?
Quando se entra neste ramo de actividade percebemos que a qualidade da relação depende da formação e conhecimento do interlocutor. Da autarquia e do governo regional há abertura para este ramo de negócio. Porém, quando se lida com as entidades policiais e com os organismos nacionais que autorizam a produção e comercialização surgem inúmeras incongruências e atropelos às orientações vindas da União europeia e dos próprios cientistas.
Qual é a sua opinião sobre as apreensões que tem havido no sector do cânhamo e as dificuldades para obter autorizações para o cultivo?
É inadmissível que para a mesma prática e área produtiva estejamos perante leituras, procedimentos e leis completamente diferentes de país para país. É grave, em termos de estado de direito, quando a mesma situação é crime numa área geográfica e totalmente legalizada noutra parte do mundo. Hoje em dia, com o corpus científico disponível sobre o cânhamo e os seus extractos essenciais, não faz qualquer sentido esta diversidade de intervenções mais duras e extremadas junto de uma planta natural, que não oferece quaisquer perigos para o ser humano.
Quais são as utilizações mais promissoras do cânhamo a nível nacional e internacional?
Todas as áreas estão em franca expansão e com um potencial de futuro inimaginável, numa altura em que o bem-estar das populações mundiais está ameaçado e o meio ambiente se encontra numa encruzilhada, em busca de caminhos alternativos mais ecológicos e respeitadores do planeta Terra.
O que é que Portugal tem a ganhar investindo nesta cultura?
É urgente colocar Portugal no mapa da produção do cânhamo industrial, resgatando práticas ancestrais no nosso país, diversificando o tecido empresarial e produtivo e garantindo uma maior distribuição de riqueza e maior controle do governo.
Quais são os maiores desafios para desenvolver este sector?
Mais formação junto dos decisores políticos, mais conhecimento histórico e científico nas escolas e universidades sobre os benefícios do cânhamo Industrial e da canábis em geral, quer na perspectiva recreativa, quer medicinal.
Que conselhos daria aos governantes e também aos agricultores que querem investir no cânhamo?
Não percam tempo a inventar a roda nem queiram andar contra a corrente. Uma aplicação igualitária dos regulamentos Europeus será uma medida assertiva e de justiça social para as populações dos diferentes estados membros.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do XXI Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” em 2018 e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
