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Manel Cruz: “Fiz uma das melhores músicas sob o efeito da canábis”

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Foto: D.R. | Pedro Nascimento

Manel Cruz dispensa apresentações. A sua relação com a canábis começou ainda na adolescência, na altura em que se juntou aos Ornatos Violeta, e até hoje tem variado na maneira e na intensidade com que a utiliza. Sem qualquer problema em assumir que fuma, Manel saiu do armário para falar sobre canábis com a Cannadouro Magazine.

Mais conhecido pela sua carreira nos Ornatos Violeta, Manel Cruz é actualmente membro das bandas rock Pluto e Supernada, além de ter um projecto a solo, Foge Foge Bandido. Natural de Vale de Cambra, Manel vive há muitos anos no Porto, onde frequentou a Escola Artística de Soares dos Reis. A sua primeira paixão foi, aliás, a banda desenhada e só depois se dedicou à música, trabalhando também como ilustrador e pintor. A canábis acompanha-o desde a adolescência, seja no processo criativo, seja apenas para relaxar à noite. Mas há semanas em que prefere não fumar.

Entrevista de João Carvalho e Laura Ramos, publicada originalmente no #1 da Cannadouro Magazine
Fotos: Pedro Nascimento

Na situação da actualidade portuguesa e na tua vida em concreto, porque é que aceitas participar numa entrevista que tem como título “Tira a canábis do armário”?
A razão pela qual aceito, antes demais, é transversal. Não é só por causa do assunto da canábis, porque eu não acho possível que as pessoas sejam esclarecidas sem estarem disponíveis para serem esclarecidas. Portanto, têm que existir esses palcos e eles constroem-se não baptizando as pessoas de drogados, ou negacionistas, ou seja lá o que for. O espaço de diálogo é o espaço que a democracia contempla para existir, precisamente para as pessoas serem menos ignorantes, e é nessa qualidade que eu estou aqui, para eu próprio ser menos ignorante e tentar contribuir um bocadinho para que as pessoas também sejam menos ignorantes. Outra razão é que eu não gosto de “arrotar postas de pescada” sobre matérias que eu não sei. Sobre esta matéria eu também não sou propriamente um conhecedor amplo, mas tenho o que eu posso acrescentar a este diálogo, que é de alguma maneira representar um consumidor de canábis, que está integrado na sociedade, que tem filhos e que trabalha desde sempre, que paga os seus impostos e que tem amigos que lhe mostram que até está a conseguir dar conta do recado. Portanto, nesse sentido, também estou a exercer o meu dever cívico e direito constitucional de poder assumir, e não ter vergonha de assumir, aquilo que sou e aquilo que represento na sociedade.

Desde quando consomes canábis?
Consumo desde os 16 ou 17 anos, não sei precisar. A canábis teve na minha vida, e tem tido sempre, um papel ambivalente. Ou seja, eu gosto de estabelecer os paralelos básicos antes das especificidades, e como toda a gente sabe, existe o bom vinho e o mau vinho. E esse bom ou mau vinho depende mais da pessoa do que do copo. Claro que também é preciso perceber que se houver muitos copos começa a depender menos da pessoa e acho que é isso que é preciso as pessoas perceberem, para não se estigmatizar as coisas. E eu, na minha vida, não posso esconder a parte recreativa e o bem que a canábis me proporcionou, assim como muitas outras coisas. Não me posso esquecer também de registar que sou uma pessoa que cresce e que encontra o lugar para as coisas na sua vida e por isso não posso negar, evidentemente, que as coisas não são inócuas. Ou seja, não é Deus nem o Diabo, é preciso que as pessoas percebam aquela frase “o inferno somos nós”, que tem a ver com a forma como a gente encara as coisas. Se a gente for de alguma forma secretista e se tivermos medo de abordar as coisas, não conseguimos dar um enquadramento real. E esse secretismo não defende ninguém, pelo contrário, é a causa pela qual as pessoas depois não conseguem enquadrar o que se passa nas suas próprias vidas. Eu aqui há uns dias fui falar à escola Soares dos Reis e no fim da conversa uma das perguntas que surgiu foi “qual é o papel das drogas nos ofícios criativos”? E isso é uma pergunta que importa fazer.

Por acaso também tínhamos essa pergunta para te fazer.
E é bom que tenham, porque de facto é a consciência que tu tens que também não estás aqui nem a tentar dourar a pílula nem a fazer a apologia, tu queres que as coisas sejam esclarecidas. E aquilo que eu lhe disse, e que é aquilo em que acredito, foi que numa altura em que andava a exagerar, ainda que sem prejuízo significativo para mim e para os outros, estava a sentir um bocado essa ameaça, quase como quando sais todos os dias à noite. Evidentemente que o teu corpo se vai ressentindo, e tu podes ter mais ou menos consciência disso, e nesse momento senti um bocado aquela frustração e falta de confiança, de pensar porque é que existia. E havia uma questão que se punha na minha cabeça: “tu serias capaz de fazer as mesmas coisas sem essas substâncias?” E só o existir dessa pergunta é algo que eu não posso ignorar. 

A luz só se consegue em contexto de legalidade?
Eu acho que a luz está antes disso, é o que permite eliminar a canábis e as coisas todas, porque a canábis é o que é e deve-se tentar que os miúdos tenham conhecimento das suas escolhas. Não é só importante, acho que não é uma informação honesta intelectualmente dizermos aos miúdos que a droga é má. Primeiro, eu não gosto de falar em droga, gosto de falar em substâncias, porque falar em drogas é uma visão muito redutora. Mas não dizer às pessoas que a droga é má é estar a tapar o sol com a peneira, é como dizer que a droga é boa, mas não se pode dizer que as substâncias também podem ser boas. Se não dissermos isso aos nossos filhos estamos a ser condescendentes, estamos a achar que eles não têm a inteligência de pensar por eles. Eu não faço experiências com os miúdos, tenho muito cuidado e sou muito mais conservador do que aquilo que gostaria de ser, mas respeito a minha ignorância. Há um princípio básico que eu gosto de seguir, que é: se eu tiver vergonha de mim eles também vão ter, se eu tiver confiança em mim eles também vão ter E eu quero que eles percebam que quando se fala de drogas mais pesadas, como a cocaína, temos de explicar porque é que essa droga é perigosa, mas ao mesmo tempo não posso… se eles têm  curiosidade e me começam a fazer perguntas eu vou acabar por ter que falar do problema do traço, por exemplo. O traço é uma parte inerente ao comércio das substâncias e vamos por aí fora. Na canábis também existe adulteração e ninguém te diz qual é o momento a partir do qual tu começas a falar de certas coisas às crianças. És tu que tens de perceber e acho que tem muito a ver com o conhecer as pessoas e conhecer os teus filhos, tratá-los como pessoas pensantes e avaliar se eles de facto estão com essa curiosidade e vontade de verdade.

Mas nem toda a gente tem pais como nós, que têm uma postura mais aberta em relação às drogas. Ou seja, para quem não tem pais informados ou para a sociedade em geral, acreditas que a legalização da canábis traria melhores relacionamentos da juventude e das pessoas com as substâncias?
Eu acredito e até entendo o que dizes, mas os receios de cada pessoa, em cada circunstância social que vive, são diferentes. Uma mãe de um miúdo num bairro onde a droga está constantemente terá outro tipo de problemas e de anticorpos em relação a esse assunto. Portanto, nesse contexto eu acho que sim, que a legalização da canábis contribui para uma sociedade mais equilibrada e se a canábis já cá está, é um facto: a gente vai tapar o sol com a peneira ou vai falar? Se vamos falar, temos que falar dos cuidados a ter, mas também do grande potencial da canábis a todos os níveis. Não podemos esquecer o potencial da canábis ao nível social e económico, que também é algo que tem que se ter em conta. Não é só as pessoas estarem mais informadas no povo para terem uma atitude mais benéfica, mas também pressionar os governos para uma realidade que, muitas vezes, seja por intervenção, seja por omissão, estão a ajudar a estigmatizar ou a viver na sombra. Por outro lado, não nos podemos esquecer que tivemos quase um século de proibição e de lavagem cerebral e que as pessoas não têm a informação que deviam ter. Vai ser necessário algum tempo para as pessoas, que sempre cresceram a ouvir dizer que a canábis era uma droga e que leva ao consumo de outras substâncias, perceberem que a canábis é uma planta com potencial medicinal e que é usada há milhares de anos.

Foto: Pedro Nascimento

Qual é o teu relacionamento com a canábis do ponto de vista profissional e criativo?
Tenho uma relação com a canábis como qualquer outro relacionamento e isso também toca na questão do idealismo. Ninguém vai para um casamento a achar que ele vai falhar, não é? É uma relação dinâmica e quando eu digo casamentos, são os relacionamentos humanos, e a minha relação com a canábis não acabou, esse relacionamento vai mudando comigo. Quando experimentei canábis, a minha reacção foi “Onde é que isto se compra? Quero ter isto para o resto da vida!” Aconteceu-me o mesmo com o sexo e com outras coisas, claro, mas somos miúdos e depois começas a perceber que também há mau sexo. No entanto, tudo vai desde momentos em que me quis refugiar naquilo, e que se calhar não devia, a momentos em que aquilo me serviu como um passaporte rápido para uma alienação que era difícil, que era estar concentrado no mundo. Quando uso a canábis para criar eu gosto de a encarar como uma ferramenta que a natureza me dá para abrir as portas da percepção, ou seja, para ir a outros sítios com a mente, que não conseguiria de outra maneira. São experiências que fazes contigo próprio e das quais tiras as tuas conclusões. E houve alturas em que também tenho que dizer que bati bastante mal com a canábis. As pessoas não têm todas as mesmas reacções e têm que se conhecer a ponto de perceber o que é que cada substância faz em si. E eu que sou bastante intrincado na minha cabeça, sou propenso a minhoquinhas, percebi também que o excesso de consumo da canábis aumentava a minhoca e criava um desequilíbrio entre a minhoca e as florzinhas. Aí, eu percebi que de facto deveria equilibrar esse consumo se o queria fazer, e acho que é essa a questão: se queres que essa substância faça parte da tua vida, respeita-a e integra-a na tua vida. E não te digo que já tenha conseguido isso, mas continuo a esforçar-me e fiz grandes melhorias, porque queria que a canábis fosse uma parte benigna na minha vida e extrair dela o melhor.  

A própria canábis também tem mudado muito, quando tinhas 16 anos certamente tinha teores de THC bastante mais baixos do que hoje. Tu notas que a canábis é mais forte ou que tens menos tolerância? E alguma vez praticaste o auto-cultivo enquanto forma de desobediência civil?
É nessas coisas que reside sempre a minha dúvida, se é mais forte ou se sou eu que tenho menos tolerância, mas de qualquer maneira a sensação empírica que tenho é que hoje em dia está mais forte. Em relação ao auto-cultivo, não muitos anos depois de ter experimentado, houve um amigo que me deu umas 20 sementes angolanas e eu nunca tinha pensado em cultivar, mas li um livro do Jack Herer – eu era um verdinho nesta coisa toda – e decidi pô-las na terra. E cresceram todas, parecia um infantário super harmónico e feliz. Depois passei-as para a primeira classe e fui pondo em vasinhos separados. E de repente, sem dar conta, o quinto andar da minha casa na Rua da Alegria no Porto estava com 20 pés de erva a cheirar por todos os lados! Foram outros tempos, coisas de puto. Tinha aquilo no meu armário, nessa altura tive muitos amigos e era uma galhofa lá em casa, ríamos muito e fomos todos muito felizes. Era a erva que fazia rir, mas claro que, com o passar do tempo, eu comecei a ter um bocadinho mais de dificuldade em rir. Há uma factura a pagar, mas imaginemos o que nos prejudica não ter um controlo sobre a qualidade.

E como é que fazes para garantir a qualidade daquilo que fumas?
Relacionando-me com gente que se interesse por isso, também a tentar minimizar os danos. Claro que é sempre com as ferramentas que estão disponíveis, não tens a Deco, mas procura-se quem tem auto-cultivo e que tem um excedente para ajudar os amigos, digamos assim. E gente que também me diz “olha estou a pensar em vaporizar porque faz mal o fumo do tabaco”. Eu não consigo, mas é muito fixe. É muito melhor, muito mais limpo. Existe uma comunidade que se informa e que tenta minimizar os danos, sim.

Como é o teu consumo actual de canábis? Fumas todos os dias?
Eu estou divorciado, estou uma semana com os meus filhos e uma semana sem. Quando estou com eles durante a semana, é evidente que a minha atenção é redobrada, tudo o que faço em casa tem uma influência neles e logo aí o meu consumo de erva vai mudar completamente, como é evidente. Mesmo na semana que estou sem eles, chegou a acontecer um bocadinho o contrário, que foi  “agora não tenho responsabilidades, dei conta do recado, está tudo porreiro, e agora: mundo”. Mas o engraçado é que também essa semana me deu a conhecer o prazer do outro lado, de estar lúcido, sem a moca. Neste momento o meu consumo é muito mais consciente, porque já não é só acerca de mim, tem a ver com os meus filhos, os meus amigos e tem a ver com a minha participação social e com o compromisso de tentar ser uma pessoa mais útil. Nem é uma pessoa melhor, é uma pessoa mais útil, e como tal tentas surfar no meio destas coisas todas. O meu consumo desceu bastante, mas também ganhou valor. 

Manel Cruz foi entrevistado via Zoom ainda durante o confinamento, em Fevereiro de 2021, por João Carvalho e Laura Ramos

No teu processo criativo, na escrita da música, ajudou-te de alguma forma?
Deve ter ajudado e deve ter prejudicado. Eu lembro-me bem da moca que tinha quando estava a desenhar durante horas, quando era mais puto e era um nerd do desenho, estava sempre a desenhar com uma grande moca. Eu antes, inclusivé, sem saber o que era masturbação, desenhava mulheres nuas. Ou seja, existe uma moca nas ferramentas que nós escolhemos para serem uma extensão do nosso cérebro. E quando a erva chega, ela cumpre outros papéis, mas passei uns tempos largos sem fumar. Fiz uma das melhores músicas sem fumar, mas também fiz uma das melhores músicas sob o efeito da canábis.

Acredita-se, dentro da comunidade médica, que a utilização recreativa da canábis só deve ser feita a partir dos 21 anos, porque é a idade em que o cérebro acaba de se formar. Ou seja, o teu primeiro contacto com a canábis – e o meu e o da minha filha, que sei que já experimentou – continua a acontecer num contexto de ilegalidade, no sentido em que não se tem a idade mínima para o fazer. Já tinhas pensado nisto?
Sim, já tinha pensado nisso e atenção que são sempre experiências empíricas. Eu senti isso na pele e fiz essa observação social, no sentido em que aquilo potencia qualquer que seja o teu estado de espírito. Ou seja, por isso é que eu, quando estou a precisar de determinado tipo de coisas, não fumo. Mas também acho que, se os meus pais me tivessem dito “espera até aos 20” – e não os estou a culpar por isto, porque os meus pais fizeram o seu melhor – não tenho dúvida que se calhar teria esperado pelos 20. Talvez pensasse, “oh pá, quando eu chegar aos 20 vou poder”. Mas como a informação era nunca experimentares, que isto é o diabo, eu experimentei antes dos 20! (risos) Portanto, eu acredito que as crianças são espertas, se não mais espertas do que nós, não têm é a nossa experiência, e acho que aí é que os cotas entram, porque podemos transmitir algo da nossa experiência. Eu gosto de ir falando destas coisas com os meus filhos e de sentir que no momento em que eles se depararem com essa situação vão falar comigo sem medo. Era fixe que se dissesse aos miúdos “Olha, eu não te vou dizer nada sobre se deves ou não deves experimentar, mas a minha sugestão é que experimentes quando tiveres maioridade mental, quando sentires que vais consumir em consciência. E que é porque queres e sabes o que as coisas significam, não em momentos em que ainda precisas de perguntar ao teu pai o que é que as coisas são”.

Podes contar-nos um pouco mais da tua primeira experiência com canábis?
Estava na Gafanha da Nazaré, em casa de um grande amigo, com os Ornatos, ainda meninos muito pequeninos, a brincar às bandas. E foi uma maravilha de umas férias, que guardo na recordação, de fazer massa com atum, de brincar, rir e tocar. E naquele contexto apareceu alguém e pronto, foi isso, como podia ter sido outra coisa. Começámos a beber as bebidas que o pai de família tinha na adega e foi uma galhofa tremenda. Já era, antes disso, a canábis foi só mais um elemento que entrou.

Depois, na evolução do teu consumo, houve momentos em que sentisses que fumar canábis não te fazia bem?
Sim, as tais minhoquinhas, a mania da perseguição, achares que o mundo está todo contra ti, que tu és mega-complicado porque arranjas sempre… parece que tens sempre outra pessoa aqui… que ela já existe, antes da canábis (risos). Mas tens sempre uma pessoa a dizer-te “e então? e isto? e aquilo?” tipo o pica-pau, só que a questão é que essa pessoa pode ser uma amiga tua ou pode não ser, não é? És tu próprio, no fundo, que estás contra ti, mas a questão que às vezes estas substâncias nos dão é essa ideia esquizofrénica de que nós estamos a ser observados, porque nos fragiliza de certa maneira, o que não é necessariamente mau. Temos é que ver com quem e em que ambiente é que as vais consumir, porque tens de estar protegido. Essas substâncias fragilizam-te e, quando estás exposto, tanto podes ser protegido por um amigo que está lá, como pode haver alguém que aproveita para exercer outro tipo de características da natureza humana não tão construtivas. E muitas das vezes, tudo o que tu sentes não é mentira, apenas lhe deste uma ampliação que não sentirias se não estivesses naquele estado. Até levarias mais na boa, mas os jovens construíram muito menos defesas, menos alarmes. Eu agora já tenho os meus esquemas, começas a ter esses alarmes e não entras em pânico tão facilmente. Mas não tem só a ver com a pessoa, tem a ver também com a qualidade do que se consegue encontrar, que muitas vezes é contaminado sem saber com quê, sem saber que níveis de THC tem, e eu penso que com a legalização, havendo mais informação e mais programas de redução de riscos, os consumos podem ser muito mais informados e seguros.

Em contexto de legalidade podes ter no balcão de uma coffeeshop ou de um clube social um mostruário onde tens erva com mais ou menos THC e por aí fora, portanto acho que, mais ano menos ano, as coisas vão ser diferentes. Se calhar os nossos filhos ainda vão passar a adolescência na ilegalidade, mas certamente os nossos netos já vão ter a canábis acessível noutro registo, não é?
Exactamente João, e penso que é muito importante nesta equação toda a estigmatização, ou seja, eu sei que, embora já me esteja um pouco borrifando para isso, não posso fazer nada contra o estigma. Ainda haverá muita gente que, se vir o meu depoimento, vai reduzir tudo a chamar-me um drogadito, e essa questão do estigma é muito importante.

Tu achas que isso ainda acontece? Enquanto músico e figura pública não tens um bocado o desconto, porque és um tipo bem-sucedido?
Sim, tenho desconto. Tenho um desconto muito condescendente, que a mim próprio me irrita, porque também eu sou um preconceituoso. É evidente que o preconceito está presente nas pessoas todas, de formas diferentes, numas mais passivamente – e eu acredito que seja o meu caso. É possível eu olhar para uma pessoa e, mesmo que eu não faça essa montagem intelectual, que eu próprio acho, para mim mesmo, olho para ela a fumar charros e penso “este gajo só fuma cacete, também anda confuso”. Esse mecanismo mental está em toda a gente. A importância desta entrevista impressa numa revista, mesmo estando as revistas físicas em vias de extinção, é que nos quiosques haja uma publicação em que tu apareces, que também tem a folha e que esta informação seja transmitida à sociedade. E eu tenho a noção desse meu papel, do lado bom de ser uma figura pública, mas também do facto de ter esse poder, que te gera uma responsabilidade. Por isso é que felizmente há pessoas como vocês, que estão a fazer esse esforço, por uma coisa que é um interesse comum. É uma responsabilidade e agradeço-vos por isso também.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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