A Ferraz Pharma está a estudar soluções inovadoras para facilitar a toma de produtos à base de canábis e aposta nas fórmulas para uso veterinário, enquanto aguarda que a União Europeia regulamente o CBD como novo alimento.
A Ferraz Pharma, que integra o Ferraz Group, quer ser uma referência no mundo da canábis em Portugal. A empresa familiar, que opera na indústria farmacêutica e nutracêutica (nutrição para fins terapêuticos) desde 1981, pretende transformar a forma como se toma canábis, com soluções “vanguardistas” e “inovadoras”, apostando nos produtos com CBD e em novas formulações para fins terapêuticos, não só para uso humano como também para animais.
A empresa diz que é a única portuguesa envolvida no actual processo de aprovação do dossier para o uso de CBD como “novel food” (novo alimento, ou seja, alimentos descobertos ou criados depois de 1997, que devem obedecer a uma normativa própria para ser comercializados), e espera ter resposta por parte da UE no início deste ano.
Licença do Infarmed chegou em Maio do ano passado
A nova unidade de produção, localizada perto da sede do grupo, em Santa Comba Dão, recebeu a licença do Infarmed para Investigação e Desenvolvimento de produtos à base de canábis no passado mês de Maio e já está a funcionar. A empresa produz medicamentos à base de canábis e está agora a estudar várias fórmulas, também com THC, e a testar diferentes soluções, como cápsulas, óleos com sabores agradáveis, comestíveis ou um aplicador nasal, que irá facilitar a vida aos utilizadores. Isto tendo por base “duas variáveis importantes: um efeito mais rápido e que dure mais tempo”, explica Pedro Ferraz, membro do conselho de administração do grupo. “A opção de dar ao consumidor a flor para ser vaporizada ou fumada não faz sentido e o uso de gotas, apesar de ser uma das formas mais rápidas a ser absorvida, não é a mais cómoda nem prática”, salienta. “O core da marca é o uso de CBD “full spectrum”, sublinha, “por ser muito mais eficaz que os isolados de canábis.”
Numa primeira fase, a unidade vai dedicar-se a desenvolver fórmulas para saúde animal e, posteriormente, irá dedicar-se aos produtos para uso humano, focando-se na cosmética – os únicos produtos em que, para já, se pode usar CBD. A estratégia da empresa passa por fabricar os seus próprios extractos, recorrendo a fornecedores portugueses e estrangeiros para adquirir a matéria prima.
Problemas do cânhamo atrasam processos
Pedro Ferraz, gerente da empresa, diz que nesta questão, porém, é que se depararam com as maiores dificuldades. Se o processo de licenciamento do laboratório por parte do Infarmed foi relativamente fácil e célere, nem tudo foi um mar de rosas. Os processos ainda são demorados e a burocracia é imensa, sobretudo no que se refere ao cânhamo. Portugal foi dos primeiros países a descriminalizar as drogas, mesmo em termos de regulamentação da canábis para uso medicinal, mas agora, e sobretudo em relação ao cânhamo, “pela falta de experiência nesta área e pelos problemas que as autoridades estão a levantar, torna-se muito castrador. É difícil investir nesta área, chegando ao ponto de poder tornar todo o processo inviável”, lamenta.
Para o empresário, “se queremos estar na vanguarda, não podemos perder mais tempo”. O interesse pela planta é intrínseco à filosofia da empresa. “A génese do grupo esteve sempre ligada à natureza – as plantas sempre proporcionaram à Humanidade soluções médicas, com muitos benefícios associados”. E as vantagens da canábis, neste aspecto, parecem-lhe indiscutíveis. “Temos visto a aplicação em doentes oncológicos com resultados incríveis”, diz. Mas para a Ferraz Pharma, os animais também podem beneficiar enormemente do uso de CBD. “Temos casos de animais com problemas a nível de ansiedade ou Parkinson em que a aplicação do CBD tem um efeito quase milagroso”, conclui.
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Artigo originalmente publicado no #2 da Cannadouro Magazine