A Jurista Paula Mota e a Advogada Ana Margarida Ferreira lançaram ontem o “Movimento Mães pela Canábis”, assinalando o Dia da Mãe em Portugal. O Movimento vinha sendo pensado há alguns anos por Paula Mota, que tem uma filha de 14 anos com Epilepsia refractária, e por Margarida Leitão Ferreira, activista e entusiasta do tema que “ainda gera muita controvérsia jurídica e social”.
A esta acção juntaram-se várias outras mães de crianças com patologias elegíveis para ser tratadas com a canábis “e não só, pois o universo de tratamento com a canábis é muito diverso”, salientam.
Falámos com Paula Mota e com Margarida Ferreira para perceber melhor os objectivos deste novo Movimento de Mães pela Canábis.
Paula Mota, Jurista e co-fundadora do Movimento Mães pela Canábis, tem uma filha de 14 anos com Epilepsia Refractária – Foto: Laura Ramos | Cannareporter
Como nasceu a ideia de criar este movimento e porquê?
Na verdade, a ideia deste movimento surgiu de uma necessidade que, arriscaríamos dizer, ser a mais importante para qualquer ser humano: o direito à vida com saúde dos nossos filhos, que representam sempre a parte mais importante da nossa existência. No entanto, em 2018, o movimento ficou suspenso, devido ao anúncio de uma lei “revigorante”, que iria trazer no horizonte soluções para o acesso à canábis medicinal. Decorridos quase quatro anos desde a entrada em vigor da lei 33/2018 foi-se renovando a certeza de que o acesso à canábis seria tudo menos equitativo e que a lei foi uma porta de acesso aos grandes investidores neste novo negócio, tendo-se iniciado a corrida ao “ouro verde” em Portugal, e frustrado as expectativas de quem tem ao seu cuidado a vida de crianças que dependem da canábis para viver melhor. Também neste período existiu uma entidade fundada em Portugal com o desígnio de prosseguir com o interesse dos pacientes de canábis como esteira basilar no seu estatuto, o OPCM – Observatório Português da Canábis Medicinal, cuja presidente co-fundadora é também uma mãe com uma filha que padece de uma doença rara e que cedo descobriu que a canábis poderia ser a resposta para um tratamento mais eficaz. A necessidade renovou-se com o decorrer do tempo, ao vermos que nada aconteceu e que não são tomadas medidas tendo como prioridade a saúde dos pacientes, sejam eles crianças ou adultos. Quando perguntamos a razão de ser deste movimento iniciamos um longo debate sobre o direito à saúde dos pacientes, mas acreditamos também que este debate tem de ser feito com profissionais de medicina, que nos ajudem a promover o bem estar dos doentes e desta forma contribuir para o avanço dos estudos científicos acerca desta planta e dos seus compostos para a saúde humana.
Quais são os principais objectivos e acções previstas para o futuro?
Os objectivos têm de ser os mesmos que os das mães que procuram uma solução para as doenças e crises dos seus filhos e não encontram respostas na medicina convencional. Neste momento, o principal objectivo é dar voz e rosto às realidades existentes no nosso país, contribuindo para que sejam encontradas soluções conjuntas, quer com organismos do estado quer com entidades capazes de encontrar caminhos que permitam o acesso, no mais curto espaço de tempo possível, a tratamentos seguros e viáveis para os pacientes.
Quem se pode juntar ao Movimento e como?
Neste momento, o intuito é criar uma união e, portanto, reunir todos os que tenham necessidades relacionadas com patologias capazes de ser tratadas com canábis, mas também todos os que reconhecem que esta é uma causa que os motiva pela questão relacionada com os direitos humanos de todos e mormente o direito à saúde consagrado como direito fundamental. Podem juntar-se através dos nossos canais principais – Facebook e Instagram – e juntos construiremos um movimento rumo à libertação da canábis e dos seus benefícios.
Se pudessem dizer algo ao Governo português, o que seria?
Estes quatro anos, após a lei 33/2018 entrar em vigor, deram-nos a certeza que não tem havido grande capacidade para se olhar para a canábis como uma resposta na base do que ela representa, ou seja, na sua simplicidade como uma planta. Este assunto foi sempre tratado em torno do proibicionismo e da perigosidade da canábis e o que mais nos surpreende é sabermos de tantos casos de sucesso pelo mundo fora, de mães que tratam filhos cultivando o seu próprio remédio. Isto são factos! Talvez tenhamos de fazer chegar estes factos ao Governo e depois perceber qual a tomada de posição acerca do assunto apresentado desta forma, humana e factual.
Tenho uma filha com 42 anos quer sofre de epilepsia. Vocês dizem que é para pessoas com epilepsia refractária. O Que é isso?