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Entrevistas

“Na Cânhamor pensamos no planeta que vamos deixar para os nossos filhos e para os filhos deles”

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Elad e Khalid fundaram a Cânhamor em Colos, no sul de Portugal

Dois israelitas a viver no sul do Alentejo juntaram-se a dois palestinianos para fundar um inovador negócio de blocos de cânhamo para construção sustentável. O seu objectivo é incentivar a economia local com o mínimo de pegada ecológica possível e, claro, muito amor. Desta improvável relação de amizade israelo-palestina, nasceu a Cânhamor.

Esta entrevista foi originalmente publicada na edição #5 da Cannadouro Magazine.

Elad  Kaspin, 34 anos, e Omer Ben Zvi, 36, ambos israelitas, compraram terras no sul do Alentejo há 8 anos. Fascinados pela planta de cânhamo, sonharam implementar uma fábrica para explorar uma das suas inúmeras aplicações. Foi no final de 2020 que concretizaram o sonho, quando Khalid Mansour, de 45 anos e Azmi Afifi, 50, ambos palestinianos, também vieram para Portugal e compraram terrenos. Investiram juntos o capital necessário para iniciar a empreitada e, da experiência e iniciativa dos quatro, começou a aventura a que chamaram Cânhamor. “Os quatro parceiros são bons amigos e estamos muito felizes por trabalhar juntos em sinergia como palestinos e israelitas”, dizem. Fomos conhecer a Cânhamor e descobrir a história que uniu estes quatro empreendedores em Portugal.

O que é, no vosso entender, “Construir com a natureza em vez de explorá-la”?
Toda a cadeia de produção industrial, do início ao fim, explora a mãe natureza, extraindo recursos descuidadamente e produzindo resíduos sem fim. Perdemos a conexão com o lugar de onde viemos e, portanto, não levamos em consideração o alto preço que o nosso planeta paga quando tentamos ganhar dinheiro o mais rápido possível. Na Canhamôr pensamos no planeta que vamos deixar para os nossos filhos e para os filhos deles. Ou seja, pensamos no que podemos fazer hoje para que a natureza seja incluída no processo e beneficie dele, em vez de ser tratada como um recurso infinito e um depósito de resíduos tóxicos e de gases. É por isso que optamos por trabalhar o mais localmente possível e com a planta de cânhamo, que tem uma pegada de carbono negativa, para criarmos um produto realmente sem desperdício.

Os blocos da Cânhamor não levam nenhum tipo de cimento ou aditivos de endurecimento não naturais

Que materiais e métodos utilizam no fabrico dos blocos?
Usamos a parte interna do caule da planta de cânhamo. Normalmente, esta parte é tratada como resíduo e é descartada. Pegamos nesse “resíduo” maravilhoso e transformamos em algo utilizável, com propriedades incríveis. Misturamos com dois tipos de calcário português local (a conhecida cal), e um tipo especial de argila, para criar um material de construção muito forte, leve, resistente ao fogo e com um nível de isolamento térmico e acústico muito elevado. Também “respira” muito bem, eliminando quaisquer problemas de humidade comumente encontrados em estruturas existentes.

O cânhamo que utilizam é produzido em Portugal?
De momento, compramos o nosso Cânhamo em França porque a máquina necessária para transformar a planta na forma fina que usamos nos blocos, ainda não existe em Portugal (ou Espanha). Estamos a trabalhar na compra e montagem desta máquina na nossa fábrica, para podermos passar a trabalhar apenas com o cânhamo português, apoiar os produtores locais e expandir toda a indústria do cânhamo em Portugal.

Quais foram as maiores dificuldades na implementação do vosso projecto?
Ao contrário de outras empresas que fabricam blocos semelhantes, não adicionamos nenhum tipo de cimento ou aditivos de endurecimento não naturais. Isso significa que o processo de secagem e cura dos blocos leva naturalmente até 60 dias, o que traz um grande desafio logístico de armazenamento, mas nós recusamos comprometer a qualidade e os aspectos ecológicos dos nossos blocos. Outro desafio é que este é um mercado muito novo em Portugal e as pessoas ainda estão bastante hesitantes em mudar as formas conservadoras dos materiais e dos métodos de construção.

Os projectos nascem de ideias e são feitos por pessoas. Quem criou a  Cânhamor?
Somos quatro pessoas que vivem no Alentejo, que sonharam em criar um negócio com esta planta verdadeiramente notável. Um trouxe a ideia, um trouxe o financiamento e o terceiro trouxe a iniciativa e a acção. Hoje, as pessoas que fazem este negócio funcionar são igualmente os trabalhadores dedicados, que produzem blocos de alta qualidade todos os dias.

Que factores ditaram a escolha de Portugal e a freguesia de Colos, no concelho de Odemira, para a instalação da fábrica?
Em primeiro lugar, é a zona onde vivemos e queremos integrar esta paixão nas nossas vidas, não só como trabalho. Em segundo lugar, é uma área muito grande, de milhares de hectares de terra que não é usada e pode ser ideal para o cultivo de cânhamo, ajudando a regenerar o solo e a dar negócios a muitos agricultores locais.

O processo de secagem e cura dos blocos leva, normalmente, até 60 dias

A Cânhamor pretende alcançar a escala industrial?
Sim, no momento somos uma fábrica industrial de médio porte, com sete trabalhadores contratados. Em conjunto com  as autoridades locais, estamos a desenvolver um processo para construir uma fábrica em grande escala (a partir de blocos de cânhamo) para alcançar uma capacidade de produção muito maior e contratar muito mais pessoas. Pretendemos construí-la já em 2022. Quando estiver pronta e tivermos as máquinas de processamento necessárias para trabalhar com o cânhamo local, seremos verdadeiramente uma indústria Zero-Waste, aqui em Colos, no Alentejo. 

Qual é o destino principal dos vossos blocos de cânhamo? O mercado local, nacional ou a exportação?
Pretendemos vender os nossos blocos principalmente na Península Ibérica, para que possamos manter a pegada de carbono negativa e focar-nos em projectos o mais próximo e locais possível.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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