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Juicy Fields: Entre o trágico e o inacreditável há um caso de polícia

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Print screen do website da Juicy Fields à data de hoje, 22 de Julho de 2022

Entre o trágico e o inacreditável, é assim que se encontra a sucessão de acontecimentos associada à Juicy Fields nos últimos 10 dias, num caso que já só poderá ser resolvido pela polícia e pelas autoridades competentes. À medida que os prenúncios do fim surgiram, tornaram-se também públicas declarações, documentos e comunicados de antigos funcionários, garantindo que eram apenas trabalhadores e que não detinham quotas da empresa, não estando ligados às suas operações. Entre os lesados, já foram identificadas milhares de wallets (carteiras digitais para criptomoedas) com os fundos, milhões de operações de movimentação dos capitais e uma fraude que ascende a um montante ainda por apurar. 

Desde 11 de Julho que a Juicy Fields está sob fogo, pois os indícios da cessação de actividade da empresa fizeram as comunidades de investidores avançar com um acompanhamento cerrado, quer aos funcionários que tinham contacto directo com esta comunidade, quer às carteiras digitais que alegadamente detêm os investimentos realizados por milhares de pessoas de todo o mundo. Os investidores diligenciam incessantemente, reunindo todas as informações que conseguem e que, ainda assim e apesar da quantidade, a autenticidade destes nem sempre possibilita uma análise crua dos factos.

Várias empresas registadas em diferentes países

Segundo um artigo publicado pelo El  País Financiero, que apresenta um documento referente ao JuicyFields Group, onde refere os diversos representantes do Grupo JuicyFields (tanto os representantes nomeados, como os seus beneficiários efectivos), a Juicy Fields estava, tanto quanto foi possível apurar, dividida entre várias empresas registadas em diferentes países, como:

  • Alemanha (Juicy Grow GmbH, cujo director em 2021 era Viktor Britner);
  • Suíça (JuicyFields AG, desde 28 de Abril de 2022, gerida pelo Duque Stefan Ludwig Graf von Luxburg, pelo Príncipe e Duque Jörg Wolfgang Prinz von Sachsen-Coburg und Gotha Herzog zu Sachsen e por Robert Michael Müller, tendo sido constituída em 2013 com o nome de “Luxburg Carolath Holding AG”);
  • Holanda (Juicy Holdings BV, constituída no final de 2021 detida pela Juicy Fields AG e com Robert Michael Muller como Director);
  • e uma sucursal em Portugal (Juicy Holdings B.V. – Sucursal em Portugal, com uma representante com morada em Madrid, Espanha).

Apesar de o ex-CEO da Juicy Fields, Alan Glanse, ter verificado a autenticidade e veracidade das informações constantes no documento apresentado pelo jornal espanhol, a informação ainda não é dada como 100% correcta. Através do documento, segundo adianta o El País Financiero, que partilha os passaportes dos alegados empresários, verifica-se que a empresa Juicy Grow GmbH, é detida por 3 empresários de nacionalidade russa, 80% da empresa Juicy Fields AG é detida pelos mesmos três indivíduos (Paul Bergolts, accionista maioritário da empresa (51%), e representados por Robert Laibach, encontram-se Alex Vaimer (24,5%) e Vasily Kadinski (24,5%)). Ambas as empresas são geridas pelo advogado Viktor Britner.

Funcionários em silêncio. Empresa dividida. Facções em guerra. Dinheiro, nem vê-lo.

Segundo os relatos de vários ex-funcionários da empresa, estes nunca tiveram um vínculo laboral com a Juicy Fields, sendo apenas funcionários em regime de freelancing. Muitos destes funcionários já vieram a público emitir comunicados relativamente às suas situações pessoais, confidenciando que estão a receber ameaças, mas que também eles não sabem o que é que se passa.

A maior e mais substancial quantidade de informação tem vindo, alegadamente, dos ex-CEOs Alan Glanse e Willie van der Merwe. Alan Glanse foi CEO da Juicy Fields desde praticamente o início do projecto, tendo alegadamente cumprido funções até ao fim de Maio (Conforme a Newsletter da Juicy Fields de 25/05/2022). Foi nessa altura que, alegadamente, esteve em contacto directo com Willie van der Merwe com vista a transferir a “pasta” directiva da Juicy Fields. Menos clara do que a newsletter da Juicy Fields, foi a mudança de CEO na Juicy Fields, com várias versões diferentes da história a circular.

O facto é que se realizou, em Maio, uma alegada reunião que juntou vários dos supostos intervenientes na Juicy Fields, para concluir a transferência de poderes para Willie Van der Merwe. Alegadamente, Willie van der Merwe terá afirmado ter entrado oficialmente na companhia a 1 de Junho. No entanto, os registos comerciais contrariam esta retórica, dando como data de entrada de Willie van der Merwe na gestão da Juicy Fields AG o dia 23 de Junho.

Durante vários dias, Willie van der Merwe ter-se-á dirigido aos investidores, várias vezes, comunicando alterações que seriam necessárias à empresa, de forma a cumprir com as obrigações exigidas pelas entidades reguladoras alemã BAFIN e espanhola CNVM. O CEO rompeu com as dúvidas de que algo se passava quando, num comunicado datado de 12 de Julho, esclareceu que não existia qualquer problema com a Juicy Fields, que tão somente seriam necessárias mudanças na plataforma, que estariam condicionadas à aceitação de cinco membros, não se antecipando com tal comunicado que a situação se alterasse tão rapidamente. Bastaram dois dias para tudo mudar.

No dia 14 de Julho, Willie van der Merwe dirigiu-se à comunidade, informando que, passados 42 dias da sua entrada na empresa, lamentava a sua decisão de abandonar a mesma. Neste comunicado, Willie tece duras críticas aos proprietários das empresas Juicy Fields AG, da qual foi CEO, e da Juicy Holdings B.V., remetendo para a contínua interferência de um indivíduo, não identificado, afectando e influenciando as restantes decisões dos proprietários. É aliás, neste comunicado que o ex-CEO da empresa afirma possuir possivelmente matéria suficientes para discutir futuros detalhes deste caso em tribunal.

Alegadamente, Willie van der Merwe enviou, dias depois, para a comunidade um comunicado onde faz algumas observações relativamente à situação. Apesar deste documento ser alegadamente de Willie van der Merwe, o Cannareporter não conseguiu comprovar a autenticidade do mesmo. No entanto, o conteúdo do comunicado faz declarações arrasadoras, ao expor Friederich Von Luxburg, alegadamente irmão de Stefan Graf Von Luxburg (não verificado) e gerente da companhia Juicy Fields AG.

No comunicado pode ler-se: “embora uma pessoa com o nome de Friederich von Luxburg não aparecesse em nenhum documento de registo de empresa na Alemanha, Holanda ou Suíça, ele parecia ter-se tornado a voz dos proprietários. Ele informou-me logo após o meu memorando, datado de 5 de junho de 2022, que os proprietários rejeitaram as minhas propostas para essas mudanças e que ele já estaria ocupado com um prospecto da empresa.”

O CannaReporter remeteu questões a Willie van der Merwe, que não foram respondidas até à publicação deste artigo. Ao CannaReporter, alguns funcionários da Juicy Fields disseram que não iriam comentar os acontecimentos, alegando que não dispunham de quaisquer informações sobre a empresa, estando a receber as notícias pelos grupos de Telegram existentes.  Os funcionários alegam, na sua maioria, que não pertenciam aos quadros ou possuíam qualquer participação na empresa, o que se confirma à luz da documentação obtida até ao momento.

Um caso de polícia

As comunidades de investidores, apesar de estarem a realizar as suas queixas nas autoridades competentes e a entregar os seus relatos e documentação, não estão a deixar de procurar informações e contactar todos os que as possam ter. No entanto, o mesmo parece estar a acontecer nos bastidores, entre os vários intervenientes da empresa. Uma página denominada de “Juicy Fields Facts”, surgiu alegadamente pela mão de vários membros e funcionários da empresa JuicyFields AG (Dr Robert Müller, Stefan Graf von Luxburg, Thomas Stieger, Birgit-Elisabeth Neumann).

O primeiro comunicado, alegadamente escrito por Robert Michael Muller, identifica vários dos participantes nas empresas que constituíam a Juicy Fields, bem como alguns documentos respeitantes ao registo destas empresas, bem como funcionários dos bancos onde a Juicy Fields teria contas bancárias abertas. O segundo comunicado deste grupo, assinado por Birgit-Elisabeth Neumann (que segundo o comunicado, actua como consultora no contexto das investigações da BAFIN à Juicy Holdings B.V. desde meados de Junho), afirma que os proprietários e operadores da plataforma juicyfields.io (Paul Bergolts, Robert Laibach, Alex Vaimer, Vasily Kadinski, Alan Glanse, Erika Misela) foram solicitados várias vezes a fornecer informações e a ter em consideração os regulamentos da BAFIN.

O terceiro comunicado deste grupo, por outro lado, narra uma reunião entre Robert Muller, Birgit-Elisabeth Neumann e Thomas Stieger, onde denunciam a falsificação de documentos e a abertura de uma conta no banco ISX Financial, no Chipre. Os autores do documento declaram que esta conta foi aberta através de documentos cuja assinatura foi forjada. Neste comunicado, é partilhado um alegado email do advogado Robert Laibach, cujo remetente seria um indivíduo chamado Alex, onde é mencionado o FidurHone. São ainda partilhadas conversas num grupo do Telegram onde alegadamente Alex Vaimer acusa os irmãos Luxburg pelo desaparecimento dos fundos da companhia. (Últimas páginas do terceiro comunicado).

No entanto, depois da publicação do quarto comunicado (que agora inclui Friedrich Graf von Luxburg, e não Robert Muller), onde alegadamente o grupo e as companhias JuicyFields AG e Juicy Holdings BV, dizem não estar a realizar as alterações no website da JuicyFields (www.juicyfields.io), nem têm acesso ao mesmo.

No website, surgiram durante o dia de hoje novas actualizações, com alguns documentos relativos à reguladora financeira alemã a serem publicados, precedidos do seguinte texto: “Caros apoiantes do Graf e do restante da equipa do Luxburg, já que eles afirmam não ter nada em comum com a JuicyFields e continuam a enganar-vos, gostaríamos de ouvir a versão deles sobre o que aconteceu com os fundos dos utilizadores que foram enviados para o Graf via USDT”, deixando no final um apelo a Graf von Luxburg “Graf, pare de agir mal, por favor, estamos ficando irritados e especialmente os nossos caras de capuzes pretos.” Nenhum dos irmãos Graf von Luxburg se pronunciaram sobre esta situação.

O website apresenta também um parágrafo onde faz referência à Fiburhone (que aparece nas alegadas mensagens de telegram entre Robert Laibach e “Alex”), alegando que Graf von Luxburg estará a evadir-se com milhões de USDT (Willie van der Merwe tinha já alertado para as somas exigidas por Graf von Luxburg respeitantes aos prospectos financeiros exigidos pela Bafin, que nunca apareceram, segundo o mesmo). No website da Juicy Fields lê-se “Quando se trata de movimentar grandes quantias de fundos, é aí que pode ficar difícil. A menos que você tenha seu banco de bolso privado pessoal, como o Fidurhone. Não se confunda com a falta de site para este banco, sempre que você precisar voar sob o radar e enviar grandes somas para as Bahamas ou outro lugar – Fidurhone é a resposta” – fazendo menção a um subfundo de Graf von Luxburg nas Bahamas, no Lucayas Bank.

Estas frases surgem entre alguns textos que os internautas consideram ser uma brincadeira de mau-gosto. O website contém várias informações relativas à devolução de fundos e relativamente a e-mails para expor a situação. Estes dados não são considerados seguros, e os utilizadores e lesados não são incentivados a abrir nenhum dos ficheiros ou e-mails que recebam ou vejam no site da Juicy Fields.

LC MED AG – De parceria estratégica a esclarecimento e distanciamento formal

Segundo dados a que o CannaReporter teve acesso, ainda não se podem excluir ou atribuir culpas neste caso, pois há muitos aspectos por resolver nesta complexa teia de empresas. Não deixa de ser, no entanto, estranha, a sucessão de eventos que caracteriza a situação da Juicy Fields.

Aparentemente, quando a empresa mostrou sinais anormais de funcionamento, a morada da Juicy Fields no website foi alterada para o endereço da companhia LCMed AG. Prontamente, surgiu uma reacção da LCMed AG a desvincular-se da companhia. A verdade é que através do WebArchive, encontrámos uma relação bem explícita entre ambas as companhias no rodapé da página inicial, numa versão daquele website do dia 21 de Março de 2022.

Website da LCMed AG em Março de 2021

A LCMed AG é uma empresa que recebeu um alegado investimento de 2,5 milhões de euros, em dezembro de 2021, do Grupo Juicy Fields, cujo objectivo seria uma parceria e cooperação estratégica. Alegadamente, a LCMed AG é uma empresa detida pela sociedade de investimento Luxburg Carolath Investments Fund SICAV – LC Pharma Fund, detido pela companhia Ahead Wealth Solutions AG, sendo cliente da Luxburg Carolath Abogados.

A LCMed AG apresenta como morada “Kurfürstendamm 136,10711 Berlin, Germany”. Morada igual apresenta o Luxburg Carolath Abogados e o Luxburg Carolath GroupA JuicyFields AG (antes Luxburg Carolath Holding AG) era também uma empresa pertencente aos irmãos Luxburg.

O CannaReporter tentou chegar à fala com Stefan Graf von Luxburg, mas sem sucesso.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]
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