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Cânhamo

As receitas da Pedrêz: Como fazer betão de cânhamo cofrado in situ

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Em 2018, a oficina Pedrêz iniciou, na rua do Paraíso 331, no centro histórico do Porto, a construção do primeiro edifício de 1200 m2 em betão de cânhamo com “carácter português”, composto por ingredientes nacionais, contrariando a corrente, até então vigente, da importação de formulações estrangeiras.

A Pedrêz decidiu adaptar esta tecnologia ao contexto de Portugal, ao seu clima, normas, regulamentos e recursos. Na formulação das receitas recorreu-se à cal aérea nacional, cal hidráulica natural nacional e argila nacionais, com excepção para as aparas de cânhamo, que foram importadas, pois ainda não existe a quantidade e qualidade de aparas disponível para a realização de uma construção desta dimensão.

Um factor distintivo no Paraíso 331 é o carácter experimental de toda a obra, onde se foram cruzando diferentes sistemas construtivos –  aço, betão, madeira, telas têxteis – e ousando diferentes aplicações do cânhamo. Foram ensaiadas várias soluções construtivas, desde o betão de cânhamo cofrado in situ, ao também betão de cânhamo para enchimento de lages, alvenaria de tijolos de cobertura, tijolos de paredes interiores e de fachada com distintas formulações para cada uma das situações.

A exploração das aparas de cânhamo na construção resultou num conjunto de experiências com inegável relevância a nível nacional e internacional. A aplicação de tijolos multi-camadas e betonagens em telas têxteis são práticas que, até à data, se encontravam por explorar.

Betão de cânhamo cofrado in situ
Este primeiro artigo incide sobre o betão de cânhamo cofrado in situ. A sua  mistura consiste em 5 ingredientes, dos quais três são fundamentais e dois são opcionais:

Como ingredientes fundamentais temos as aparas de cânhamo, a cal aérea e a água. A cal aérea faz a ligação entre a madeira e fibras de cânhamo. Importa, no entanto, lembrar que a carbonatação (endurecimento) da cal aérea só acontece à superfície da parede, pois carece de contacto com o ar. O interior da parede de cânhamo, por não ter contacto com o ar, carece de um ligante hidráulico. Por esta razão, devemos adicionar uma pozolana (ingrediente que converte a cal aérea em cal hidráulica fazendo com que esta passe a reagir com a água) e dessa forma a parede ganha resistência, também no seu interior. Essa pozolana pode ser um metacaulino ou simplesmente passar pela adição de um ingrediente hidráulico, tal como o cimento, à mistura. Importa também explicar que a cura da argamassa pode ser prolongada, chegando aos 60 dias em circunstâncias de má ventilação e humidade alta, pelo que os ataques fúngicos podem ocorrer em particular na primavera e outono, quando o tempo é húmido, mas a temperatura é quente. Para evitar os ataques fúngicos podem ser adicionados ingredientes antifúngicos tal como o Boráx.

A RECEITA

O betão de cânhamo cofrado in situ da obra Paraíso 331 foi produzido segundo uma receita formulada com a cal aérea e argila nacionais. 

Aqui fica a receita de base Pedrêz, para cânhamo tradicional português cofrado, sem adjuvante hidráulico.

– Aparas de cânhamo (Associação “la Chanvriére”, produto Kanabat) – 20 kg;

– Cal aérea (“Lusical Companhia Lusitana de Cal”, produto H100) – 30 kg;

– Argila (empresa “Mibal Minas de Barqueiros”, produto Metacaolino) – 9 kg;

– Boráx (sem definição de fornecedor) – 0,2 kg;

– Água (abastecimento da rede pública) – 45 a 50l;

A receita pode ser adjuvada com um ligante hidráulico, como por exemplo cimento branco – 3kg

O equipamento utilizado para a obra foi somente uma misturadora de veio vertical com capacidade de 350 litros, onde foram instalados aspersores de água e um temporizador para melhor distribuição e controle da água na mistura.

As paredes de fachada usaram juta como cofragem perdida pelo exterior e taipal OSB removível pelo interior. Os taipais OSB eram removidos de imediato, após a betonagem. A juta permaneceu como parte integrante da parede pelo exterior, protegida dos agentes externos por uma fachada ventilada em chapa galvanizada ou simplesmente rebocada.

Foi utilizada uma subestrutura em madeira de pinho não tratado para apoio das paredes. Pontualmente foram também esticados arames entre as peças da subestrutura de madeira para reforçar a ligação do betão de cânhamo a essa subestrutura. A receita Pedrêz para betão de cânhamo deve sempre cobrir a subestrutura com 5 cm de espessura ou mais, sob pena de fissurar durante a secagem.

A betonagem de paredes muito altas (6m), pela compactação natural daí resultante e pela contracção do material, acabaram por abrir fissuras horizontais, algo comum no betão de cânhamo cofrado in situ. Os roços foram sempre feitos com enorme facilidade e fechados com a mesma mistura de argamassa referida acima. A espessura de paredes exteriores foi de 25cm e paredes interiores 15cm.

Para um bom desempenho térmico, o betão de cânhamo não deve ser compactado dentro da cofragem, deve ser apenas arrumado e distribuído com as mãos. A forma de arrumar e distribuir o material dentro da cofragem varia consoante o executante, pelo que é aconselhável ter uma equipa estável do início ao fim de cada parede, para que o resultado final seja homogéneo.

O reboco e acabamento das paredes exteriores, pelo lado de fora, foi feito com o reboco de cal da “Fassa Bartolo” produto S605.O reboco e acabamento, tanto nas paredes exteriores e interiores, foi à base de argamassa de cal e gesso tipo Seral.

Na escolha do reboco e acabamento o nível de protecção das paredes e a sua respirabilidade foram factores importantes, procurando obter maior resistência à água no exterior e maior permeabilidade ao vapor, enquanto que na face interior das paredes procurou-se o inverso: uma menor permeabilidade ao vapor e menor exigência relativamente à água. O betão de cânhamo cofrado in situ foi deixado à vista pelo interior em diversas situações sendo que não foi necessária qualquer estabilização superficial do material, ele não deu mostras de largar poeiras.

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Este artigo foi originalmente publicado na edição #4 da Cannadouro Magazine

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Francisco Adão da Fonseca
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