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África do Sul: O papel fulcral dos “Sangomas” no processo de legalização da canábis

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Zanele Mazibuko, "Sangoma" ou curandeira tradicional. Foto: Larissa Barbosa | Cannareporter

A terceira edição da The Cannabis Expo realizou-se este fim-de-semana na Cidade do Cabo e acolheu  centenas de participantes. Desde 2019 que o maior evento de canábis da África do Sul se realiza anualmente em três cidades do país: Cidade do Cabo, Durban (28 a 30 de Julho) e Johannesburgo (24 a 26 de Novembro). A convenção conta sempre com um espaço especial dedicado aos “Sangomas”, o termo sul-africano equivalente aos curandeiros tradicionais ou xamãs, que têm um papel preponderante na legalização da canábis neste país africano.

Na África do Sul a canábis é uma erva medicinal utilizada há séculos pelos curandeiros tradicionais, conhecidos no país como Sangomas. Um Sangoma é um praticante da medicina das ervas e aconselhamento na tradição Nguni — Zulus, Xossas, Ndebele e Suázis —, diferentes sociedades da África do Sul. A sua filosofia é baseada na crença nos espíritos ancestrais.

Os Sangomas têm, por isso, assumido um papel preponderante no processo de legalização da canábis no país, onde há mais de 5 anos já se legalizou o consumo e o auto-cultivo para consumo próprio. Recorde-se que, no ano passado, King Khoisan, líder da comunidade indígena sul africana Khoi-San, foi preso por plantar e vender canábis em frente à residência oficial do Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.

“Os  Sangomas tinham apenas um lugar na tradicionalidade, mas aqui vemos que também podemos aprender com a indústria e desenvolver muito as nossas práticas tradicionais”.

Para Zanele Mazibuko, curandeira tradicional, a participação neste evento foi importante, principalmente agora que o governo está a começar a reconhecer o trabalho da medicina ancestral dos curandeiros tradicionais. Desde 2018 que se iniciou um processo de descriminalização do uso e do cultivo para consumo próprio. O modelo dos clubes está a operar para o uso recreativo, mas o mercado de produtos de cânhamo e CBD está em total ascensão, com muita expectativa para a indústria do cânhamo.

Alguns Sangomas na The Cannabis Expo. Foto: Larissa Barbosa | Cannareporter

Greek Zweni, Sangoma da região de Mpondoland vê com entusiasmo essa participação dos Sangomas na Expo. “Da nossa perspectiva, pode parecer um evento moderno que mostra a maneira ocidental de fazer as coisas, mas notamos que não é bem assim. Aqui encontramos uma variedade internacional de formas de fazer e de como os processos podem ser melhorados para o bem da humanidade e das comunidades. Os  Sangomas tinham apenas um lugar na tradicionalidade, mas aqui vemos que também podemos aprender com a indústria e desenvolver muito as nossas práticas tradicionais. Ter um stand aqui na Expo é uma oportunidade de ganhar uma aceitação internacional da medicina que fazemos e consumimos”, disse ao Cannareporter.

Greek Zweni está na Expo a representar também uma outra associação, a Umzimvubu Farmers Network, que está a lutar pela inclusão dos cultivadores tradicionais da região de Mpondoland na nova legislação sul-africana, que ainda é considerada por activistas como bastante restritiva. As licenças para cultivo são extremamente caras e não privilegiam grupos que cultivam, muitas vezes, apenas para a própria subsistência.

Esse foi, inclusive, o tema de um dos primeiros debates que abriu o painel de discussão da Expo. Linda Siboto, co-fundador da Cheeba Academy, a principal plataforma de formação e educação canábica da África do Sul, destacou que apesar do potencial da indústria do cânhamo no país ser gigante, o que falta são infra-estruturas para o processamento agrícola. Siboto sugeriu que o ideal seria que a indústria de têxteis, por exemplo, investisse nessas infra-estruturas, para que o cânhamo se possa tornar uma indústria de alto valor.

Foto: Larissa Barbosa | Cannareporter

Após o escândalo da extinta Juicy Fields, principal patrocinadora do evento no ano anterior, e com mais de dois apagões por dia na Cidade do Cabo, a Expo abriu com um número recorde de expositores: mais de 200 stands com expositores locais, internacionais, fornecedores agrícolas, marcas de estilo de vida, investidores e também ONG’s.

No programa, além de palestras, workshops e painéis de discussão, aconteceu também o The Freedom Festival, com bandas, artistas e DJs garantindo um clima de festa. Na área externa do The Grand West Casino, o enorme complexo onde decorre a Cannabis Expo, houve também um mercado de alimentos e bebidas canábicas.

A África do Sul está a enfrentar uma crise sem precedentes de energia. Só na Cidade do Cabo acontecem pelo menos 2 a 3 blackouts por dia, o que os sul-africanos chamam de ‘load-shedding’. A organização da Cannabis Expo informou que isto não representou um problema, já que foram usados mais de 20 geradores para garantir o sucesso do evento.

 

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Bacharel em Jornalismo e com um Mestrado em Estudos de Género e Desenvolvimento no Instituto de Estudos Internacionais e Desenvolvimento de Genebra, Suíça, Larissa Barbosa é uma jornalista brasileira que vive em França. Na sua carreira, escreveu principalmente sobre direitos humanos, desenvolvimento e movimentos sociais. Desde há alguns anos, começou a estudar e a escrever sobre a indústria da canábis e ficou profundamente interessada também no tema dos psicadélicos. Larissa acredita que uma boa comunicação e o jornalismo são centrais para uma melhor compreensão da ciência da canábis e dos psicadélicos, para poder mudar a opinião pública e reduzir o estigma.

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