Entrevistas
Luio Zau: “O meu hobby é a pintura. Agora, o meu trabalho é ser espectacular”
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Laura RamosLuio Zau, génio criativo, alter ego do artista português Luís Miguel Freire Estevinho, nascido em 1981. O espírito inquieto já estava presente na criança que dividiu os primeiros anos da sua vida entre a liberdade do campo e as rotinas académicas da cidade. O seu percurso foi conduzido, até tarde, pela educação conservadora e, dir-se-ia, nas palavras do prórpio, ‘castradora’. Cursou Arquitectura, mas foi nesse momento que assumiu as rédeas do seu destino.
Desde sempre optimista, foi através da música electrónica e dos amigos que começou a dar cor e forma aos sonhos. Luio, o artista, nasce em 2010. Dá corpo e alma a ideias que fervilhavam desde sempre numa mente hiperactiva e visionária. A sua arte, mas mais importante, a sua visão, começam a espalhar-se pelo mundo. Somou projectos e parcerias de sucesso, envolveu marcas e artistas em experiências memoráveis, viajou pelo mundo e imprimiu no espírito de quem se cruzou consigo que “podemos ser o quisermos” e “from something we do anything”.
Fundou o ‘Movimento Zauista’, que não é mais do que a filosofia da positividade. Mente firme, alma limpa e pensamento positivo sempre. Luio é a complexidade de quem faz de tudo um pouco…mas faz bem feito. Aos 41 anos, continua a emergir do caos artístico para novos desafios, a partir do norte de Portugal, mais precisamente da cidade de Viana do Castelo. Indiscutível, é que estamos perante um dos maiores talentos da arte contemporânea.
Luio, és um artista bastante conhecido, já. A minha primeira pergunta, para quem não te conhece é: de onde é que tu vens e para onde vais?
[risos] Essa é boa. Eu nasci no Porto… nasci em Bragança, mas parece que nasci no Porto. Já passei tanto tempo de vida no Porto como em Bragança, tenho 41 anos, foi fifty-fifty, ou seja, são duas cidades que me dizem muito. Fui para o Porto estudar Arquitectura, que entretanto não finalizei, fui dar uma volta e descobri que tinha um universo para representar, para pintar, e foi assim, zau! É assim que passo os meus dias, a pintar.
A pintura apareceu na tua vida por acaso?
Mais ou menos, se foi um acaso, foi bem feito. [risos] Fui para o Porto estudar Arquitectura, depois comecei a ir a umas festas, música electrónica e uau!… Eu já desenhava na universidade, mas não tinha nenhum universo para representar ou para me identificar, tanto que consigo interpretá-lo e desenvolver. Em 2009, conheci a minha amada e pronto, comecei a ter um universo para representar e zau, magia, aconteceu, e até hoje não parei.
Esse é o teu nome artístico, não é? Luio Zau. “Zau” é uma palavra que tu usas muito?
Sim, não costumo usar Luio, não costumo chamar por mim. [risos] Mas “zau” sim, “zau” quer dizer magia, quer dizer “Zau! Acontece.” É muito isso, é uma energia positiva, que faz com que ainda potencie mais as coisas.
E as coisas acontecem.
Sim.
Alguns dos teus quadros foram vendidos por muito dinheiro, é verdade?
Isso já aconteceu, mas deixou de acontecer, porque ia deixar-me muito longe da vida quotidiana, normal, razoável, de gente humilde, gente positiva, de conhecer pessoas brilhantes, retribuir também. É bom que as pessoas conotem isso com muito bom valor, não é? Quer dizer que depois, quando eu quero sentir-me grato, também consigo retribuir com algo de valor para as pessoas. Pelo menos, é sentido.
“A canábis foi um turning point na minha vida”
Sim, mas tens sido convidado para decorar hotéis, sítios um bocadinho fancy.
Sim, sim.
Tu também fizeste streetart, graffiti, ou pintar é uma coisa que fazes mais dentro de casa?
Eu, no movimento street art, incluo-me na parte da expressão, não tão activamente na rua, porque nem tenho o meu gang [risos]. Mas na expressão da voz activa, ou com rapidez do registo, que é importante hoje em dia. Para mim, é importante registar rápido, a interface ser mais user-friendly, tudo muito mais prático. Agora, tenho aí uma proposta, vou pintar um alojamento local no Porto, um grande edifício. E pronto, vai ser a minha primeira grande obra, esperemos que corra bem. [risos] Vai correr.
Vai correr, certamente, os teus quadros são fantásticos.
Obrigado.
Como é que a canábis entrou na tua vida e como é que te ajuda no teu processo criativo?
A canábis foi um turning point na minha vida. Aliás, eu já tinha fumado os meus primeiros charros com 14 ou 15 anos, assim às escondidas, e o que é que acontece? Acontece que se abrem portas na nossa imaginação ou então que se fecham portas e relaxamos mais o coração. Agora, mais activamente, que é quando fico mais maduro, porque já posso ter as minhas opções e tenho alguns problemas mentais, não é? [risos]
Temos todos! [risos]
Mas é saudável, já deixam de ser problemas, começam a ser caminhos para poder explorar o meu élan vital, para poder estar bem disposto, para estar, não relaxado, mas para ser racional, ajuda-me a ser mais racional. E depois, claro, tem a parte lúdica, que é superdivertido, quando estamos com mais boas energias, boas vibes. Então, é por osmose, passa de uns para os outros e puff, zau. [risos]
Nessas questões mentais que referiste, agora fora de brincadeira.
Sim, nunca foi. [risos]
Há um estudo do SICAD, do ano passado, que diz que cerca de 84% das pessoas que utilizava canábis dizia que o fazia para aliviar o stress e a ansiedade, e uns 60% para a depressão. A que situações mentais é que te estás a referir? O que é que tu passaste e como é que te ajuda?
A ansiedade vem muito por uma depressão, seja o que for. Às vezes nós é que não damos conta e achamos que a depressão é estar em casa fechado. Não, se estamos ansiosos é porque ansiamos algo, não é? Eu sou ansioso desde que nasci… a minha mãe também já tinha ansiedade e tomava medicação quando estava grávida de mim, então imagina. [risos] Agora, a ansiedade pode ter coisas boas, faz-nos estar mais activos. O problema é esse, em que a cadência, a energia, está a mais… Agora, eu, não tomando nenhuma medicação, porque também já tive um AVC e não tomo medicação nenhuma, a única coisa que uso é canábis, seja agora no óleo de CBD… É importante, aliás, os nossos políticos, se fumassem mais um bocadinho, se calhar isto podia ser um país não das bananas, mas dos marijuanas. [risos]
Achas que era melhor um país de marijuanas em vez de bananas?
Não, se dá para uma coisa dá para a outra. Agora, temos é que ver os benefícios que há na natureza para colmatar doenças naturais. Claro que, se formos ao meio rural, se calhar pensamos que as pessoas não são tão ansiosas. Mas isso não tem nada a ver com o ritmo da cidade, isso tem a ver com as pessoas, com o que elas anseiam para a sua vida, o que é que têm de fazer para conseguir aquilo, quais são os passos.
Os seus problemas.
Claro. Agora, tem que haver educação e abertura do governo para promover instituições que tenham capacidade para educar as pessoas. “Não é preciso fumares um charro todo, fuma só metade, tem calma.” Depois a proibição causa efeitos colaterais que levam a não ser bem interpretados. O trabalho que desenvolvo diariamente não é só pintar, o meu trabalho é pensar. Pensar é fixe e pensar bem ainda melhor. Zau! [risos]
E em que é que pensas?
Eu penso na vida, penso como é que as coisas acontecem, como é que se pode organizar tudo numa síntese que possibilite menos esforço e que diminua a ansiedade, até sem fumar. Dizer “é isto”, zau, está aqui numa tábula rasa, depois uma pessoa vê, “quero ir pela esquerda, quero ir pela direita”, analisamos. Pinto os meus amores, pinto as minhas alegrias, pinto análises, ou seja, retratos que sem ser demasiadamente figurativo, pela associação de elementos A mais B ou B mais C, como se fosse uma inteligência artificial. Que tu és, não é? As pessoas, acerca disso, escusam de estar muito preocupadas ou muito assustadas com a inteligência artificial, porque todos nós somos inteligência artificial, todos nós fazemos combinações de informação.
Sim, verdade.
Pois é. Agora, temos é que partilhar. Se for um mais um, isso aí é espectacular.
“O trabalho que desenvolvo diariamente não é só pintar, o meu trabalho é pensar. Pensar é fixe e pensar bem ainda melhor. Zau!”
Pegando aí no “espectacular”, numa entrevista que deste ao Jornal de Notícias disseste que o teu hobby era pintar e que o teu trabalho era ser espectacular.
Exactamente.
Como é que explicas isso?
Claro que o meu hobby é a pintura, é aí que surge a expressão artística. Agora, o meu trabalho é ser espectacular. Do pintar, do hobby e do trabalho surgem coisas assim.
Muito giro.
Porque queremos ser espectaculares, zau. [Mostra uns ténis pintados por si]
Os ténis são super giros, mas não podem ir à máquina! [risos]
É como eu, também não posso! [risos] Mas são peças, são obras de arte, em vez de pintar uma tela. Isto há-de ter a sua história. Agora, numa somos mais objectivos e na outra somos muito mais artísticos, zau. Umas coisas ajudam as outras a desenvolver a minha actividade lúdica e profissional ao mesmo tempo, nisto tudo. Este quadro, que está aqui atrás, tem uma parte minha e tem uma parte do Young Celo, porque é como se fosse futuro ex-aprendiz, em que ele pinta uma parte. A realidade é esta, é que um mais um é muito engraçado. Este, aqui, é dos meus antigos.
Tens aprendizes a trabalhar contigo? Estão a aprender a pintar?
Não, não são aprendizes. Pode ser ‘inspirador’, sou inspirador, e bem definido. Quando uma pessoa consegue ter algo bem definido consegues interpretar e essa interpretação é a que depois te dá motivo. Neste movimento de liberdade, de expressão, de criatividade, de análise, é um zeitgeist, e ser um zeitgeist é estarmos todos no movimento dos dias de hoje, no presente. E depois um dia vê-se, quem é que fez o quê e porquê. Mas sozinho não dá, então, no máximo, que seja inspirador para te motivares a fazeres por ti próprio. Também recebi, durante a pandemia, mensagens de pessoas: “olha, Luio, não me conheces de lado nenhum, eu comprei uma tela e uma tinta, nunca tinha pensado nisso, e está aqui o meu primeiro quadro, olha”, zau. Tens um filho, o teu filho pinta um quadro, qual é o quadro mais bonito do mundo para ti?
É o do meu filho!
Então pronto, não vamos falar sobre essas coisas, tem que ser muito mais do que isso.
E depois são os teus. [risos]
[risos] Pronto, é isso!
Luio, diz-me uma coisa, como é que é a tua utilização de canábis? Usas todos os dias ou é só de vez em quando?
Não, eu fumo todos dias. Por exemplo, com esta minha longa experiência com o uso de canábis (embora na altura custasse aos meus pais – mas isso, whatever, a falta de informação nunca foi boa para ninguém – deu sempre mais trabalho ser eu a expor), hoje em dia já me conheço e sei quando é que me apetece fumar hash, quando é que me apetece fumar marijuana, quando é que posso fumar o quê, que quantidade, se devo usar em óleo ou se não devo. Isto, não há hipótese, só com auto-conhecimento. E mais, se é legal num país, tem de ser legar nos outros países. É penalizado uma pessoa assassinar outra pessoa aqui, e é igual em todo o mundo, pode é ter penas mais pesadas ou mais leves. Agora, o que é legal, é legal, não é? Também não sei se concordo com as leis do uso do álcool na América, nem sei quais são, mas aqui pode-se beber com uma idade. Isso são coisas que têm de acompanhar o movimento das sociedades, não podemos ficar nos anos 50. É muito desinteressante para os jovens, hoje em dia.
E tu és o típico wake & bake? Acordas e fumas? Ou não fazes isso todos os dias?
Eu primeiro acordo. Já não é mau! [risos] Não tenho assim grandes rotinas. O que eu sei é que, quando me apetece, e eu consigo colmatar isso, já é espectacular. Mas fumo, corre melhor o dia. E depois, como eu não tremo muito da mão, dá para fazer tudo ao mesmo tempo.
“Já me conheço e sei quando é que me apetece fumar hash, quando é que me apetece fumar marijuana, quando é que posso fumar o quê, que quantidade, se devo usar em óleo ou se não devo. Isto, não há hipótese, só com auto-conhecimento”
Sentes que o teu dia corre melhor?
O meu e o dos outros. [risos] Se não, ai Jesus!
O que é acontece quando não fumas, ficas mais maldisposto?
Eu sinto que é melhor para mim, gosto de ter uma especiaria daqui para isto, outra especiaria dali para aquilo, e outra daqueloutro, porque as coisas não são iguais, nem devem ser. Então, vamos buscar inspiração ao planeta Terra, à Mãe Natureza, zau. Há coisas que não é por acaso, não é? O uso da cocaína já foi completamente descontrolado em Inglaterra e nos Estados Unidos, quando não havia informação, antes sequer de haver telefone. Eu nem sou perito nessa área, mas o Zoom e essas coisas todas foram inventadas no século XXI, há muita coisa que já foi inventada muito antes, certamente. Agora, uns hão-de ter uma opinião contra, mal informados ou bem informados, não sei. E há outros que terão a favor, e se calhar são os mais bem informados, mas pronto, cada um sabe de cada qual. Agora, a canábis, é supertranquilo, façam esse favor a vocês próprios. Eu não tomo medicação nenhuma, sinto-me bem, tenho ansiedade desde que nasci, a cada dez segundos, zau, ataques de ansiedade, ataques de pânico. E pronto, é assim, zau.
E já alguma vez sentiste efeitos adversos, fumando canábis?
Não, não, isso nunca.
Nunca tiveste bad trips, nem te sentiste mal?
Eu, não. [risos]
Mas acontece, não é?
Isso acontece por diversas razões. Uma delas, é a falta de informação.
Ou mesmo a própria pessoa ter medo. A mim já me aconteceu, fumo esporadicamente, gosto e sinto-me bem, mas também já me aconteceu fumar e ter uma bad trip. Às vezes acontece.
Claro, então não acontece! Eu já apanhei cada uma… [risos]
Então, já aconteceu! Estavas a dizer que não, mas afinal…
Não, não, bad trips não!
Ah, ok, são sempre boas. Então qual é o teu segredo? Muita gente vai querer saber!
O meu segredo? O meu segredo é achar piada a estas coisas que a Natureza nos dá. Agora, é claro que toda a energia que está à volta também é importante. Eu gosto de me agarrar a elas e às vezes de andar assim um bocadinho de lado, mas depois passou e está tudo bem, zau. [risos]
Nós estamos aqui a ter esta conversa, porque obviamente somos adultos. E já temos uma certa idade.
Mais ou menos. [risos]
Mais ou menos, exacto, fisicamente já somos adultos. Mas, provavelmente, haverá muitos jovens que vão ler a tua entrevista, e nós sabemos, ou pelo menos a ciência já tem dito que até aos 21 anos, normalmente, o cérebro ainda está em formação. Há quem diga que é mais pelos 18, há quem diga que é mais pelos 21.
Eu espero que ainda esteja a crescer.
[risos] Mas há uma preocupação com os jovens, que são o target mais fácil, que podem ter alguma dificuldade na utilização.
Mais fácil é falar de cor.
“Eu, ao mesmo tempo que estou completamente desfocado, consigo focar-me naquilo que é essencial. E, aliás, a canábis também me dá esse poder de me concentrar”
Mas como é que tu vês esta questão dos jovens? O que é que dirias aos jovens de hoje em dia? Porque eu acho que a canábis pode ser boa para algumas coisas, mas não é para toda a gente, certamente. E com os mais jovens há que ter algum cuidado, não é?Claro, muito cuidado. Eu fumei o meu primeiro charro para aí aos 15 ou 16 anos. Mas casos não são casos, era outro tempo. Neste tempo, é para dar uma cabeçada na parede, e tal, não é por aqui, ou estás muito lento. São fases de adaptação muito complicadas, muito grandes. É preciso uma gestão pessoal, em que só agora é que sei quando posso fazer as coisas e quando é que devo ou não, e equilibrar o meu dia-a-dia com a mais valia de evitar medicação, ou seja, mais dentro deste lado do que do lúdico. Agora, se vou ao Sr. Doutor pedir uma receita, claro que ele me vai dar alguma medicação que não é esta. É o que eu digo, a liberalização é que pode fazer com que tudo aconteça no bom caminho que as coisas deveriam ter. É informação, partilha de informação. Eu quero lá saber se o meu professor toma um Xanax ou se fumou um cigarro de canábis, eu quero é que ele esteja bem! Não é? E com boa vontade, às vezes, por nada, nós estamos irritados e depois quem paga são os outros que não levam a informação. Alguém tem que fazer alguma coisa. Às vezes é preciso ter cuidado, porque as pessoas sem informação, depois ficam assim como o Luio, crescem todas pintoras. [risos] É, é, acho que é. Ou pintoras, ou bailarinas, ou o que quiserem.
Mas ser pintor é uma boa profissão, não?
Isto é incrível.
Deve dar-te muita liberdade… Não é a mesma coisa do que estares fechado num escritório das nove às cinco a trabalhar em folhas de Excel.
É, dá-me liberdade, pois dá. Dá-me liberdade, que só posso falar comigo. Há a fase labotra… labotar…
Laboratorial? [risos]
[risos] Sim! Em que eu estou aqui e tal, e falo comigo próprio, estou e experimento. E depois há a parte em que estou com amigos, ou onde for, e sirvo mais como um instrumento e já sei como é que hei de reagir e de representar, e zau, acontece.
Ou seja, o teu processo de pintura não é sempre sozinho? Há alturas em que tu pintas e os teus amigos estão aí?
Não, não. Até é bom que estejam aqui, a dançar e a beber uns copos, ou então só a fumar um charuto, tudo relaxado. Eu vivo com a minha mulher e com a minha sogra, a minha sogra está com Alzheimer, e tudo bem. Eu, ao mesmo tempo que estou completamente desfocado, consigo focar-me naquilo que é essencial. E, aliás, a canábis também me dá esse poder de me concentrar.
E projectos para o futuro? O que pretendes fazer nos teus próximos anos de vida, tens algum plano?
Estamos aí a preparar uma marca de roupa, “Luio”, estamos aí em várias áreas. O mais próximo que vou fazer é pintar um alojamento local no Porto, com alguma dimensão, então vai ser uma obra a que me vou dedicar. Tenho outras, mas neste momento não me estou a conseguir lembrar porque já só consigo pensar nessa. Depois alguém me diz, “olha, agora tens que ir fazer este”. E eu, “pronto, tau”, ou seja, uma bola de basquete ou o que for. Mas também pintar quadros, zau. E também estou a precisar de uma festinha.
“Eu prefiro ter a melhor canábis do mundo do que o melhor queijo do mundo”
Festejar é bom, estamos vivos, é preciso celebrar a vida!
Zau, exactamente!
E alguma vez pintaste a planta da canábis?
Ainda não.
Ainda não?!
Não, por acaso não. Ou já? Não sei. Se não me lembro, não foi assim muito grande. Mas fica o desafio.
Sim, temos que pensar nisso, pintar uma homenagem à planta.
É isso, bem pensado!
Então, fica aqui o desafio, para quando ultrapassares esse trabalho.
Boa! E depois mostramos na revista, não é?
Claro, acho que é uma boa ideia.
Está bem, sim senhora.
Olha, não sei se sabes, mas Portugal é um dos principais produtores de canábis medicinal do mundo.
Tem que ser.
Tem que ser? Porquê?
Tem que ser! Então, com este clima, com esta geolocalização, seja a nível de proximidade com o mar, seja a nível da União Europeia, andamos aqui a plantar batatas com estas condições. Eu estou aqui em Viana, olho para a janela, vejo o mar, vejo ali campos de cultivo à beira mar, isto aqui… O país não é muito grande, mas o que interessa é a qualidade. Nós não precisamos de ser os maiores produtores de canábis do mundo, mas, se calhar, se for aquela special royal, a fama que os portugueses têm de tudo… Eu prefiro ter a melhor canábis do mundo do que o melhor queijo do mundo. [risos]
Nisso, já somos dois.
Acho que sim, acho que com as políticas todas que houve, já no tempo do Cavaco, em que davam subsídios às pessoas para pararem com o cultivo do cereal e substituírem por pinheiros, e as pessoas foram nessa onda…
E eucaliptos!
E eucaliptos, ainda pior. Eu começo a pensar que isto é tudo para nos tornar subsidiários de uma Europa falida, em que uns vendem isto, aqueles compram aquilo, a este, àquele e aqueloutro. Eu sou de Bragança, mas em Torre de Moncorvo já há registos do cânhamo milenar. Acho que não andava aí a endividar muito mais o país e abria margem… Mas pronto, os partidos também são partidários, então não dá…
Não tens receio que isto acabe por ficar tudo na mão dos grandes e que depois continuem a proibir os pequenos de cultivar em sua casa?
Não, não, isso não há-de acontecer. Também podes comprar ben-u-ron sem receita médica. É porque lhes interessa tu automedicares-te, não é? Com a canábis ia acontecer o mesmo: há o monopólio e depois há quem trabalhe para… Tem que haver, a cena é essa. O pequeno tem que se tornar especialista e o grande tem que produzir grandes quantidades para alimentar o sistema. Não pode ser depois o pequeno em que o core é especialidade a tentar fazer quantidades grandes, que não vai fazer nada de jeito. Sempre foi assim. Não se pode ter medo de monopólios, hoje em dia.
Tu és pela auto-suficiência? Como é que arranjas a tua canábis, por exemplo?
Eu faço assim: zau! E ela: pim! [risos] É um bocadinho aqui, um bocadinho ali, zau zau. Eu, por acaso, tive a sorte de ter amigos artistas, ou seja, connoisseurs noutras especialidades que não a minha, por isso é que isto é um mais um, mais um, e faz-se uma partilha. Pronto, é o mais simples. É uma bênção, sendo assim um comércio tão ilegalizado como é, porque ainda é preciso alguma estrutura, para cultivares.
Já trocaste quadros por canábis?
Certamente. E se não foi a totalidade, foi parte por parte, e foi todo. [risos] Um bocadinho aqui, um bocadinho ali.
“O pequeno tem que se tornar especialista e o grande tem que produzir grandes quantidades para alimentar o sistema. Não se pode ter medo de monopólios”
Ou seja, no fundo é esta partilha entre a comunidade. Tens uma coisa que as pessoas gostam, as outras pessoas têm uma coisa que tu gostas…
Mas a ideia é essa, é isto ser uma empresa sem funcionários. Tem é cem sócios, em que um é especialista nas águas, trata das águas quando é preciso. Quando não é preciso, não está. E pronto, está aqui um no meio a fazer esse paralelo sempre e está tudo bem. Mas acho que era fixe começarem a pensar aí nuns clubes de fumo, não sei como é que se chamam.
Chamam-se clubes sociais em Espanha.
Clubes sociais, exactamente. Isso já era um bom avanço e acho que devia ser falado seriamente, porque há pessoas que já não estão na escola secundária e gostam de fumar. Aliás, já os pais deles fumavam, principalmente os que foram para Angola, para as guerras, ultramares, e não sei que mais. Todos eles experimentaram ou viram alguém experimentar, e era do senso comum, mais ou menos. Portanto, acho que esses clubes sociais de fumo era espectacular, uma boa solução.
Tu és uma pessoa que, de alguma forma, também já esteve nos meios da alta sociedade, com os teus quadros, a pintar. Sentes que ainda há algum estigma, por parte das pessoas famosas, que até consomem canábis, mas não gostam muito de assumir? Tu não tens problemas, falas abertamente sobre isso.
Não, não é ‘não gostam de assumir’, não podem!
Não podem, porquê?
Porque trabalham para os patrões deles, para os patrões das outras pessoas também, e falam para pessoas que também têm patrões. Eu digo “patrões”, patronato, tipo um estigma que te controle. Eu tenho aqui a cara tatuada, se calhar se fosse outro qualquer ia tatuar na mesma, pronto, não há volta a dar. Agora, há pessoas que não sei se é o “dá jeito” ou não é, eu não sei qual é o preconceito, mas também não tem que se andar aqui a perguntar se tomam esta medicação ou se não tomam. O problema é quando negam, negar. Dizer, olhe: “Yo, no.” [risos]
Acaba por ser um bocadinho hipócrita.
Claro, mas é isso mesmo. O problema disto tudo é a hipocrisia, porque depois, por trás da cortina, está tudo bem, não é?
Luio, chegámos ao final desta entrevista, que foi muito animada e divertida.
Muito bem, gostei muito.
E não te esqueças, fica o desafio para pintarmos um quadro com a planta da canábis.
Está bem, vou pintar. Até vou pintar num chapéu do Bertinho, e zau, ofereço à canábisdouro [Cannadouro], zau.
Então vamos falar sobre isso! Obrigada Luio!
Está bem, beijinhos, zau zau. [risos]
Zau!
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Esta entrevista foi originalmente publicada na edição #9 da Cannadouro Magazine
____________________________________________________________________________________________________
[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Laura é actualmente Editora do CannaReporter e da CannaZine, além de fundadora e directora de programa da PTMC - Portugal Medical Cannabis. Realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
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