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Cânhamo

Blocos de cânhamo: Como dois israelitas e dois palestinianos criaram um negócio de sucesso em Portugal

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Esta é uma história que contraria as notícias que nos chegam diariamente do cenário de guerra que actualmente se vive no Médio Oriente e que importa aqui recordar. Dois israelitas a viver no sul do Alentejo, em Portugal, juntaram-se a dois palestinianos para fundar um inovador negócio de blocos de cânhamo para construção sustentável. O seu objectivo é incentivar a economia local com o mínimo de pegada ecológica possível e, claro, muito amor. Desta improvável relação de amizade israelo-palestina, nasceu a Cânhamor, 

Elad  Kaspin, 36 anos, e Omer Ben Zvi, 38, ambos israelitas, compraram terras no sul do Alentejo há cerca de 10 anos. Fascinados pela planta de cânhamo, quiseram implementar uma fábrica para explorar uma das suas inúmeras aplicações, a construção natural. Foi no final de 2020 que concretizaram o sonho, quando Khalid Mansour, de 47 anos e Azmi Afifi, 52, ambos palestinianos, também vieram para Portugal e compraram terrenos. Investiram juntos o capital necessário para iniciar a empreitada e, da experiência e iniciativa dos quatro, começou a aventura a que chamaram Cânhamor. “Os quatro parceiros são bons amigos e estamos muito felizes por trabalhar juntos em sinergia como palestinianos e israelitas”, dizem.

Em 2021, fomos conhecer a Cânhamor e descobrimos a história que uniu estes quatro empreendedores em Portugal. Duas entrevistas com Elad Kaspin, realizadas em 2021 e 2022, respectivamente, foram originalmente publicadas na Cannadouro Magazine e desde então a Cânhamor só tem vindo a crescer — alguns dados fornecidos abaixo poderão, portanto, não estar 100% actualizados, pois a procura por blocos de cânhamo em Portugal e na Europa cresceu e a Cânhamor também.

Assim, no contexto actual de uma infeliz guerra entre Israel e a Palestina e numa sociedade cada vez mais polarizada, voltamos a partilhar esta bonita história, para que possa inspirar outras pessoas. Acreditamos que, enquanto seres humanos, a nossa missão é a cooperação entre todos e a busca contínua pela paz. Está em cada um de nós a capacidade de fazer a diferença, para deixarmos um mundo melhor para as gerações futuras. A Cânhamor já o está a fazer, e com um enorme sucesso.

Elad, o que é, no vosso entender, “Construir com a natureza em vez de explorá-la”?
Toda a cadeia de produção industrial, do início ao fim, explora a mãe natureza, extraindo recursos descuidadamente e produzindo resíduos sem fim. Perdemos a conexão com o lugar de onde viemos e, portanto, não levamos em consideração o alto preço que o nosso planeta paga quando tentamos ganhar dinheiro o mais rápido possível. Na Canhamôr pensamos no planeta que vamos deixar para os nossos filhos e para os filhos deles. Ou seja, pensamos no que podemos fazer hoje para que a natureza seja incluída no processo e beneficie dele, em vez de ser tratada como um recurso infinito e um depósito de resíduos tóxicos e de gases. É por isso que optamos por trabalhar o mais localmente possível e com a planta de cânhamo, que tem uma pegada de carbono negativa, para criarmos um produto realmente sem desperdício.

Os blocos da Cânhamor não levam nenhum tipo de cimento ou aditivos de endurecimento não naturais

Que materiais e métodos utilizam no fabrico dos blocos?
Usamos a parte interna do caule da planta de cânhamo. Normalmente, esta parte é tratada como resíduo e é descartada. Pegamos nesse “resíduo” maravilhoso e transformamos em algo utilizável, com propriedades incríveis. Misturamos com dois tipos de calcário português local (a conhecida cal), e um tipo especial de argila, para criar um material de construção muito forte, leve, resistente ao fogo e com um nível de isolamento térmico e acústico muito elevado. Também “respira” muito bem, eliminando quaisquer problemas de humidade comumente encontrados em estruturas existentes.

O cânhamo que utilizam é produzido em Portugal?
De momento, compramos o nosso Cânhamo em França porque a máquina necessária para transformar a planta na forma fina que usamos nos blocos, ainda não existe em Portugal (ou Espanha). Estamos a trabalhar na compra e montagem desta máquina na nossa fábrica, para podermos passar a trabalhar apenas com o cânhamo português, apoiar os produtores locais e expandir toda a indústria do cânhamo em Portugal.

Quais foram as maiores dificuldades na implementação do vosso projecto?
Ao contrário de outras empresas que fabricam blocos semelhantes, não adicionamos nenhum tipo de cimento ou aditivos de endurecimento não naturais. Isso significa que o processo de secagem e cura dos blocos leva naturalmente até 60 dias, o que traz um grande desafio logístico de armazenamento, mas nós recusamos comprometer a qualidade e os aspectos ecológicos dos nossos blocos. Outro desafio é que este é um mercado muito novo em Portugal e as pessoas ainda estão bastante hesitantes em mudar as formas conservadoras dos materiais e dos métodos de construção.

“É importante salientar que a Cânhamor só comprará e transformará cânhamo biológico”

Os projectos nascem de ideias e são feitos por pessoas. Quem criou a  Cânhamor?
Somos quatro pessoas que vivem no Alentejo, que sonharam em criar um negócio com esta planta verdadeiramente notável. Um trouxe a ideia, outro trouxe o financiamento e o terceiro trouxe a iniciativa e a acção. Hoje, as pessoas que fazem este negócio funcionar são igualmente os trabalhadores dedicados, que produzem blocos de alta qualidade todos os dias.

Que factores ditaram a escolha de Portugal e a freguesia de Colos, no concelho de Odemira, para a instalação da fábrica?
Em primeiro lugar, é a zona onde vivemos e queremos integrar esta paixão nas nossas vidas, não só como trabalho. Em segundo lugar, é uma área muito grande, de milhares de hectares de terra que não é usada e pode ser ideal para o cultivo de cânhamo, ajudando a regenerar o solo e a dar negócios a muitos agricultores locais.

A Cânhamor pretende alcançar a escala industrial?
Sim, no momento somos uma fábrica industrial de médio porte, com sete trabalhadores contratados. Em conjunto com  as autoridades locais, estamos a desenvolver um processo para construir uma fábrica em grande escala (a partir de blocos de cânhamo) para alcançar uma capacidade de produção muito maior e contratar muito mais pessoas. Pretendemos construí-la já em 2022. Quando estiver pronta e tivermos as máquinas de processamento necessárias para trabalhar com o cânhamo local, seremos verdadeiramente uma indústria Zero-Waste, aqui em Colos, no Alentejo. 

O processo de secagem e cura dos blocos de cânhamo leva, normalmente, até 60 dias

Qual é o destino principal dos vossos blocos de cânhamo? O mercado local, nacional ou a exportação?
Pretendemos vender os nossos blocos principalmente na Península Ibérica, para que possamos manter a pegada de carbono negativa e focar-nos em projectos o mais próximo e locais possível.

E a dimensão da fábrica, quantos funcionários empregam e qual a capacidade produtiva mensal? Qual será a dimensão depois da expansão para as novas instalações?
Neste momento [Outubro de 2022] temos uma fábrica bastante pequena, empregando 6 trabalhadores de produção mais 3-4 trabalhadores no escritório, Marketing, gestão etc. Produzimos entre 4.000 a 9.000 blocos por mês (dependendo do tamanho do bloco), ou seja o suficiente para fazer duas a três casas por mês, dependendo do tamanho da casa. Na nova fábrica, poderemos fazer 120.000 blocos por mês, o suficiente para construir mais de 60 casas por mês.

Além da construção da nova fábrica, a Cânhamor vai adquirir um decorticador, para poder comprar as produções de cânhamo directamente aos agricultores locais. O que nos pode adiantar acerca da capacidade desta nova máquina?
O que queremos é oferecer uma solução completa, que cumpra o nosso slogan “da semente ao bloco”, tornando toda a cadeia de abastecimento local e sustentável. Já comprámos o decorticator, que será instalado no Verão de 2023, já para processar a colheita de cânhamo do próximo ano. Estamos agora a reunir todos os agricultores que podemos para colaborar sob a égide de uma associação de produtores, que facilitará o processo de licenciamento para os agricultores, a compra de sementes, bem como o aluguer e a partilha de máquinas usadas para colheita, maceração e transporte.
A Cânhamor irá comprar toda a produção local cultivada pelos agricultores da zona que será transformada com este novo decorticador industrial de última geração, que pode processar até 2 toneladas de talo seco por hora. O nosso objectivo é alcançar uma colheita e processamento de 1.000 hectares de cânhamo por ano, já nos próximos três anos. Os nossos consultores de cultivo de cânhamo irão acompanhar todos os agricultores que desejem começar a cultivar cânhamo ou agricultores existentes que desejem mudar para o cânhamo como alternativa a outras culturas, como por exemplo o milho ou o girassol.

“Os quatro parceiros são bons amigos e estamos muito felizes por trabalhar juntos em sinergia como palestinianos e israelitas”

Como está planeado fazerem a ligação directa aos agricultores, vão encomendar as produções ou os agricultores levarão o cânhamo até às vossas instalações?
Como disse antes, acompanharemos o processo, desde a obtenção da licença, compra das sementes, preparação do solo, cultivo e colheita. Pretendemos também providenciar a maquinaria necessária e o transporte do agricultor até às nossas instalações para ser processado. Emitiremos igualmente um contrato de promessa de compra de toda a produção, o que por um lado ajuda a obter a licenciamento e garante o escoamento ao agricultor. Acompanharemos também o processo de maceração que é essencial para garantir que a fibra e a palha possam ser obtidas com a mais alta qualidade. Estamos a trabalhar em conjunto com a associação de produtores de cânhamo Lusicanna, para garantir que os agricultores sejam apoiados, técnica e financeiramente. Nunca é demais salientar que este cultivo, ajudará a regenerar e limpar o solo, sem consumir herbicidas, pesticidas e utilizando muito menos água do que outras culturas convencionais. Por fim é importante salientar que a Cânhamor só comprará e transformará cânhamo biológico.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Laura é actualmente Editora do CannaReporter e da CannaZine, além de fundadora e directora de programa da PTMC - Portugal Medical Cannabis. Realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

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