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Entrevistas

Viola Brugnatelli: “É possível que, em 20 anos, a canábis como planta seja apenas parte de um mercado de bens de consumo”

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A paixão pela investigação e divulgação científica de Viola Brugnatelli remonta a 1700, quando o seu antepassado Luigi Valentino Brugnatelli lançou as primeiras revistas científicas em Itália, mas aprofundou-se com a morte da irmã, aos 17 anos. Viola começou a trabalhar como neurofarmacologista na área de canábis em 2012, investigando novos receptores canabinóides no Ninewells Hospital, do NHS, na Escócia. Amanhã, dia 13 de Março, Viola abre os CDays com a apresentação “Canábis Medicinal: Ciência e Evidências”, num dia cheio de palestras, organizado pela CannabisHub na Universidade Politécnica da Catalunha. Os CDays dão o pontapé de saída para uma semana que acolhe vários eventos na área da canábis, como a Spannabis e a ICBC.

Co-fundadora da Cannabiscienza, em Itália, e da Cannabiscientia, na Suíça, e investigadora do Departamento de Neurociências da Universidade de Pádua (Itália) sobre o sistema endocanabinóide e a dor, Viola Brugnatelli é membro do conselho editorial do Cannabinoid Medical Journal. Viola licenciou-se com louvor em Neurociências na Universidade de Dundee (Escócia), em 2013, e prosseguiu com uma investigação sobre a actividade anti-inflamatória do CBD e dos terpenos de canábis na University College Dublin (Irlanda). Desde 2017, lecciona no curso de pós-graduação sobre Canábis Medicinal na Universidade de Pádua, onde também ensina a farmacocinética e a farmacodinâmica da canábis a alunos do 6º ano de Medicina. Embaixadora italiana da Associação Internacional de Medicina Canabinóide (IACM) e membro do conselho científico da Fundación Canna, Viola é hoje uma das mais proeminentes investigadoras na área da canábis a nível internacional, tendo já publicado vários estudos. Em 2023 publicou o livro Princípios de Canabinologia Clínica, em parceria com o investigador Fabio Turco, além de outros manuais na área, como Neuro-Gastro Canabinologia ou Processos de Purificação, Concentração, Isolamento e Análise de Canabinóides.

Falámos com Viola Brugnatelli para conhecer um pouco melhor o seu trabalho e saber em que ponto está a investigação científica na área da canábis e dos canabinóides.

A Viola é uma das investigadoras mais reconhecidas na área da canábis, não só em Itália, mas também a nível internacional. Quando é que começou a trabalhar com canábis e por que é que escolheu esta área?
Comecei a trabalhar “com canábis” muito mais recentemente. Durante muitos anos a minha única área de especialização foi o Sistema Endocanabinóide e não a planta. O meu primeiro salário como cientista canabinóide foi, oficialmente, em 2012, quando lancei os meus dados de sorte de princiciante à comunidade científica do ICRS, em Friburgo. Escolhi trabalhar nesta área por vários motivos e o que me fez continuar nos momentos mais difíceis foi ver sempre uma perspectiva diferente para os pacientes. Testemunhei a morte da minha própria irmã com apenas 17 anos, devido à quimioterapia, sem poder usar nenhum suporte da planta. Cresci a saber que uma jovem saudável, brilhante e bonita, cheia de potencial, pode de repente tornar-se cinzenta e apenas um nome num cemitério. Isto fez-me perceber rapidamente que a vida é preciosa e que os sistemas de saúde podem fazer o seu melhor para nos ajudar a preservá-la, mas muitas vezes falham, mesmo quando nos ajudam a alcançar uma boa qualidade enquanto estamos no processo de doença. E que os cuidados de saúde podem e devem melhorar constantemente. Então, eu quis ver como poderia fazer a minha parte nisso.

Qual o foco principal da sua pesquisa e quais foram as descobertas mais importantes que fez?
Neste momento, temos explorado uma área de “neuro-gastro-canabinologia”, enquanto examinamos através das lentes do endocanabinoidome a profunda conexão entre nossos traumas iniciais, o controle do stress e uma infinidade de sintomas que vão desde a dor visceral até disbiose induzida pela ansiedade. Publicámos um estudo sobre a Síndrome do Intestino Irritável: Manipulação do sistema endocanabinóide como tratamento de primeira linha e outro sobre Neuro-Gastro-Cannabinologia: Um Novo Paradigma para Regular o Humor e a Saúde Digestiva.

Que outros estudos já publicou e onde?
A maior parte do meu trabalho de pesquisa básica sobre desorfanização de receptores canabinóides foi financiado por uma empresa de biotecnologia e foi arquivado como dados e propriedade industrial. Desde que colaboro com o Hospital da Universidade de Pádua tenho publicado mais revisões clínicas, como Os Efeitos analgésicos e antidepressivos dos moduladores clínicos de glutamato acetil-L-carnitina e Ketamina ou ainda Intervenções no estilo de vida que melhoram o tónus dos canabinóides durante os bloqueios da COVID-19 podem aumentar a conformidade com regulamentações preventivas e diminuir complicações psicofísicas de saúde.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou em sua carreira?
Fazer com que as empresas de canábis compreendam que não podem operar num mercado médico regulamentado da mesma forma que operariam num mercado de bens de consumo. Obter a confiança de investidores que entendem o retorno de médio a longo prazo para a área médica/farmacêutica, em vez de serem surpreendidos por retornos rápidos e precários de curto prazo de empresas que preenchem as lacunas não regulamentadas.

Como surgiu a decisão de publicar o livro Princípios de Canabinologia Clínica e quanto tempo levou para prepará-lo?
O livro é a manifestação física de uma necessidade de saúde: facilitar o caminho do médico no processo de prescrição, ao mesmo tempo que apoia os pacientes e a indústria, tudo num único lugar. O livro foi fruto de anos de trabalho, em conjunto com o director científico, Dr. Fabio Turco, e mais alguns meses de uma colaboração fantástica com a equipa dos Prohibition Partners, bem como um grupo de médicos de todo o mundo. No ano passado, a Dra. Sandra Carrillo, o Dr. Janosch Kratz, o Dr. Carlo Privitera, o Dr. Jean Claude Scicluna, o Dr. Marcello Albanesi, a Dra. Wendy Holden, o Dr. Mauro Cardoso Lins, a Dra. Mery Pena Guzman e a Dra. Valeria Giorgi contribuíram para o livro, partilhando os seus estudos de caso connosco.

A quem se destina o livro e o que as pessoas podem esperar aprender com ele?
O livro destina-se aos médicos / prescritores da União Europeia (UE), mas é muito útil para muitos grupos ou empresas da UE, que tentam compreender como funciona em cada país, pessoas da área de vendas e estratégia que podem facilmente comparar produtos presentes no mercado médico da UE, pacientes e cuidadores, advogados e qualquer pessoa interessada em ter ao seu alcance todas as informações verificadas sobre ciência, medicina e informações de mercado no espaço médico da UE.

A Viola também é professora. Acha que as novas gerações estão mais abertas a um assunto como a canábis medicinal?
Sim, dou aulas desde 2016 para alunos de graduação e pós-graduação. Não encontro diferença geracional em relação ao tema.

Como acha que a canábis afectará o futuro da Medicina?
A entrada e a permanência da canábis no campo da medicina mudarão a farmacologia para um conceito mais de rede/polifarmacologia, ao passo que podemos tratar uma pessoa na sua complexidade, ligando corpo e mente, gerindo sintomas e abordando as causas profundas.

Em termos de acesso dos pacientes e formação dos profissionais de saúde, qual é a situação actual em Itália?
Em 2018 abri uma empresa chamada Cannabiscienza em Itália, que ainda funciona como agente único de formação e educação consistente e contínua em saúde. Graças a isso, iniciámos ao longo dos anos uma série de iniciativas em Universidades e Hospitais públicos que aos poucos estão a mudar a abordagem em relação aos medicamentos vegetais, como a terapia com canábis. O caminho ainda é longo, mas há boas possibilidades de acesso dos pacientes, provavelmente um dos melhores da Europa.

A canábis está a evoluir lentamente na Europa, se compararmos com o Canadá ou alguns estados dos EUA. Como você vê a situação actual na Europa e quais são as suas expectativas para a legalização total da planta?
A canábis como bem de consumo é certamente mais lenta na UE, mas por outro lado, alguns países da Europa têm leis médicas melhores do que os EUA e o Canadá, porque em nenhum país da América do Norte a terapia à base de canábis é fornecida por hospitais com o dinheiro dos contribuintes, enquanto isso acontece em alguns países da Europa. Pela forma como as coisas estão, pelas quais as empresas de canábis têm total responsabilidade, é possível que vejamos um cenário em 20 anos em que a canábis como planta será apenas parte de um mercado de bens de consumo e algumas moléculas desta planta farão parte de formulações farmacêuticas, disponibilizadas pela indústria farmacêutica e empresas de biotecnologia.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Laura é actualmente Editora do CannaReporter e da CannaZine, além de fundadora e directora de programa da PTMC - Portugal Medical Cannabis. Realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

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