Internacional
Europa tem quase 23 milhões de utilizadores de canábis, a mais consumida de todas as substâncias ilícitas
A canábis continua a ser, de longe, a substância ilícita mais consumida na Europa. Estas são as conclusões do “Relatório Europeu sobre Drogas de 2024 – Tendências e Desenvolvimentos”, divulgado hoje em Lisboa pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) e que se baseia na informação do ano anterior fornecida pelos Estados-membros (mais a Turquia e a Noruega). Os inquéritos nacionais sobre o consumo de canábis sugerem que, globalmente, cerca de 8% dos adultos europeus (22,8 milhões com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos) consumiram canábis no último ano, sendo que o número aumenta para 85,4 milhões de pessoas (29,9%) ao longo da vida.
“Estamos a notar desenvolvimentos significativos no mercado de canábis. No seu conjunto, tudo isto significa que continua a existir uma necessidade premente de compreender melhor os potenciais danos associados aos diferentes padrões de consumo de canábis e as implicações que isto suscita para as políticas e práticas”, refere o relatório.
É necessário compreender melhor quais respostas são eficazes
Estima-se que cerca de 1,3% dos adultos na União Europeia (3,7 milhões de pessoas) sejam consumidores diários ou quase diários de canábis, sendo este “o grupo com maior probabilidade de ter problemas associados a esta substância”, alerta o relatório. De acordo com o Observatório, “o consumo de canábis pode causar ou agravar uma série de problemas de saúde física e mental, incluindo sintomas respiratórios crónicos, dependência de canábis e sintomas psicóticos. Além disso, estudos concluíram que o consumo regular de canábis pode estar associado a um pior desempenho escolar e a um risco aumentado de envolvimento com o sistema de justiça criminal. Os problemas estão mais associados ao início precoce do consumo, a produtos de alta potência e a padrões de consumo mais regulares e de longo prazo”, refere o documento.
O OEDT salienta ainda a necessidade de compreender melhor os tipos de “problemas” enfrentados pelos consumidores de canábis, bem como quais são as vias de encaminhamento adequadas e as opções de tratamento eficazes para aqueles com problemas relacionados com a canábis. “A canábis é considerada responsável por mais de um terço de todos os internamentos para tratamento da toxicodependência na Europa. Esta conclusão é difícil de interpretar, em parte devido à grande variedade de intervenções fornecidas aos consumidores de canábis, que podem incluir intervenções breves ou encaminhamentos directivos do sistema de justiça criminal. É necessário mais trabalho para compreender melhor o tipo de serviços oferecidos às pessoas com problemas de canábis. No entanto, a informação que existe sugere que os tratamentos psicossociais, como a terapia cognitivo-comportamental, são comummente oferecidos e que as intervenções de saúde em linha (online) parecem estar cada vez mais disponíveis”, pode ler-se no relatório.
A avaliação do risco de danos nesta área é complicada pela aparentemente “crescente gama de produtos à base de canábis potencialmente disponíveis para os consumidores”, que podem incluir produtos comestíveis, produtos de alta potência e vários derivados. “Esta diversidade pode ter implicações no risco de um indivíduo ter problemas com o consumo de canábis e é, portanto, uma área que requer maior investigação e atenção regulamentar”.
Globalmente, o número de pessoas que iniciaram pela primeira vez tratamento por problemas relacionados com a canábis manteve-se relativamente estável até 2019, antes de diminuir durante a pandemia, e não regressou aos níveis anteriores à pandemia na maioria dos Estados-Membros da UE até 2022.
Apreensões indicam que as rotas de tráfico podem estar a diversificar-se
As apreensões de canábis continuaram, em geral, a níveis historicamente elevados em 2022, indicando “a elevada disponibilidade desta droga”. No entanto, a quantidade total de resina de canábis apreendida na União Europeia diminuiu significativamente, em grande parte devido a uma diminuição das apreensões comunicadas por Espanha. “É possível que isto reflita uma adaptação nas rotas de abastecimento por parte dos envolvidos no tráfico de resina de canábis do Norte de África para a Europa, em resposta às medidas anti-tráfico tomadas pelas autoridades espanholas”, reflecte o relatório. Neste contexto, é também interessante notar que, desde 2019, o volume de canábis herbácea apreendida aumentou significativamente em Espanha.
“Em 2022, Espanha foi responsável por 69 % de toda a resina apreendida, 47 % de toda a canábis herbácea apreendida e 81 % do número total de plantas de canábis declaradas apreendidas na União Europeia, sublinhando o papel significativo desempenhado por Espanha, tanto como país de trânsito país para o tráfico de canábis e como área de produção. No entanto, é importante notar que uma produção significativa de canábis também ocorre noutros locais da União Europeia. As recentes grandes apreensões destacam o papel que a Espanha continua a desempenhar como país de trânsito de resina destinada ao mercado europeu. Em 2023, por exemplo, as autoridades espanholas apreenderam 22 toneladas de resina de canábis escondidas em embalagens falsas de tomate, suspeitas de serem destinadas ao tráfico para França.
Outras substâncias consumidas na Europa
A cocaína é a segunda substância ilícita mais consumida na Europa, tendo sido utilizada no último ano por quatro milhões de pessoas (1,4%) entre os 15 e os 64 anos, aumentando para 15,4 milhões (5,4%) ao longo da vida.
No que diz respeito ao MDMA (ecstasy), os números apontam para 2,9 milhões (1%) com idades entre os 15 e os 65 anos, subindo para 12,3 milhões (4,3%) que responderam sobre o consumo ao longo da vida.
As anfetaminas foram consumidas no último ano por 2,3 milhões (0,8%) de adultos com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, aumentando para 10,3 milhões (3,6%) ao longo da vida.
A heroína (o opiáceo ilícito mais consumido na Europa) e outros opiáceos sintéticos foram consumidos por 860.000 pessoas de alto risco. Em 2022, 513 mil consumidores estavam em tratamento de substituição de opiáceos, sendo esta a droga que representa cerca de 24% dos pedidos de tratamento na UE. A mesma substância é encontrada em 74% das mortes por overdose.
Veja aqui o relatório completo:
EMCDDA-2024-31813_en
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e directora de programa da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” em 2018 e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.