Cânhamo
Leonardo Sousa: “É literalmente a auto-suficiência de um país que está aqui atrás, a quase todos os níveis”

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Aos 31 anos, Leonardo Rodrigues Sousa tem-se destacado como um dos mais jovens empreendedores no sector do cânhamo industrial em Portugal e, possivelmente, um dos que mais tem contribuído para mudanças significativas, desde o campo até a Assembleia da República. Com uma loja na Covilhã, cultivos na Meimoa, em Penamacor, e, mais recentemente, na Ilha de São Miguel, nos Açores, Leonardo é uma das maiores promessas para o cânhamo industrial em Portugal.
Nascido em Castelo Branco, Leonardo Sousa fundou em 2021 e é actualmente o CEO da Lynx – Hemp Products, uma empresa de produtos orgânicos à base de cânhamo. Com cultivo na Meimoa, no concelho de Penamacor, e uma loja na Covilhã, Leonardo é também um acérrimo defensor da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente, utilizando todos os meios ao seu alcance para partilhar a paixão pelo cânhamo e o seu compromisso para incentivar uma economia circular, local e biológica.
Fomos visitar a plantação da Lynx Hemp e aproveitámos para conhecer melhor o percurso e as motivações deste jovem empreendedor, reconhecido pelo seu contributo educativo e conhecimento que tem na área do cânhamo.
Leonardo, quanto é que tens aqui plantado?
2,5 hectares.
E estás a produzir com que fim?
Semente e fibras. Com as sementes, quero ver se faço uma farinha alimentar, misturada com trigo, que é mais proteica do que só a farinha de trigo. A fibra, quero ver se consigo desenvolver mais protótipos com a universidade, tanto bioplásticos, como tecidos e papel.

Leonardo Sousa na sua loja, Lynx Hemp, na Covilhã, onde tem uma pequena biblioteca para consulta dos clientes. Foto: Laura Ramos | CannaReporter
Sei que já estás a colaborar com a Universidade da Beira Interior (UBI)…
Em 2022, vendi-lhes alguns quilos de caules de cânhamo, que eles compraram para o departamento de moda, para desenvolver um curso novo de materiais sustentáveis, que abriu no ano seguinte. Entretanto, já lá fui dar uma palestra de electromecânica, sobre as utilidades do cânhamo na área deles, tanto na parte de construção, como na parte de isolamento de carros, isolamento de foguetões, bioplásticos, impressoras 3D com filamentos de cânhamo… Falei um bocado também do carro do Harrison Ford, que não era 100% cânhamo, mas que levava cânhamo e ficaram encantados. Não sabiam que se podia usar a planta para fazer algo que não fosse fumar. Depois disso, organizei um debate com o Núcleo de Estudantes de Economia da UBI, para o qual convidei o Miguel Costa Matos [deputado do PS], um representante da Iniciativa Liberal, o Humberto Nogueira [empresário], a Marta Vinhas [da Sensi Hemp] e o Elad Kaspin [da Cânhamor], para debatermos as oportunidades que Portugal tem com o cânhamo industrial. A ideia era não focar tanto na canábis, mas sim nos campos agrícolas que estão ao abandono, e foi muito produtivo, tanto a nível académico como a nível do que o deputado aprendeu (ou reaprendeu) naquela sessão.
Nós estamos aqui na Meimoa, perto de Penamacor, mas tu vives na Covilhã, onde também tens a tua loja. Como é que tem sido a relação com as autoridades e com a comunidade local?
Tenho tido relações boas, tanto com a GNR de Penamacor como com a GNR da Covilhã. A PSP da Covilhã visitou-me logo na abertura. Foi mais por curiosidade e gostaram bastante do projecto, do que viram. Eu tento que a minha loja seja um espaço ao qual as pessoas possam vir com qualquer idade, que não tenham receio do que é a planta. Isto porque muita gente ouve “canábis” e “cânhamo” e pensa logo noutro mundo, mas quando entra na minha loja vê uma parede feita em cânhamo e a pessoa fica a olhar, naquela: “Pergunto? Não pergunto? Por que é que ele tem aqui um bloco no meio da loja?” E antes que perguntem, eu digo: “Isso é canábis”, e dizem: “Não… não pode, não acredito…” Tenho lá tecido, mostro, “Isto é 100% canábis”. A pessoa toca e diz “Então, isto é melhor que o algodão! Por que é que não estamos a usar isto?” Já usamos! Tiro um livro da minha prateleira (gosto de ter vários livros sobre o tema para mostrar às pessoas) – 1945, Portugal, na altura do Salazar, era só cânhamo em Portugal. Naquela altura, por exemplo, 10.000 pessoas trabalhavam a fazer sapatos e atacadores em cânhamo, só para dar um exemplo. E, principalmente as pessoas mais antigas, quando ouvem isso, ficam chocadas, porque eram novas na altura e não tinham noção que viria a ser trocada uma coisa tão natural por materiais que hoje em dia estão a fazer com que o nosso planeta esteja do jeito que está.
“A PSP da Covilhã visitou-me logo na abertura. Foi mais por curiosidade e gostaram bastante do projecto, do que viram”
Achas que há interesse, aqui na região, pela cultura do cânhamo?
Sim, muito. Quando vim para aqui, vim para um dos piores terrenos a nível de qualidade do solo, acidez do solo, matéria orgânica… Exactamente por esse motivo, para mostrar a quem possui uma terra melhor ou a quem tem terras e meios, que isto se produz em qualquer lado. Não é preciso nada mais do que um pouco de estrume e água. Não são precisos herbicidas, não são precisos pesticidas e uma pessoa consegue cultivar sementes para alimentação humana ou animal, conseguimos fazer aqui celulose, para substituir os eucaliptos (que têm 30% de celulose, enquanto o cânhamo tem 65%), conseguimos fazer bioplásticos, conseguimos fazer bioetanol das sementes de cânhamo, como já fazem do milho no Brasil, entre muitas outras coisas. E, principalmente, isto que eu ando aqui a fabricar – a fibra de cânhamo, isto poderia estar a alimentar as fábricas abandonadas da Covilhã, que antigamente era conhecida como a Manchester portuguesa.
Como é essa história? O que é que faziam?
Era a indústria dos lanifícios. A Covilhã sempre foi muito ligada à indústria dos lanifícios, até que, nos anos 60, 70 e 80, houve muitos avanços industriais no estrangeiro. Portugal também entrou para a Comunidade Europeia nessa altura, mercado europeu, comunitário, apareceram se calhar as quotas, não sei muito bem a história, mas muitas fábricas fecharam, porque não compensava produzir cá, compensava mandar vir de fora. Com o cânhamo, volta a compensar produzir cá, porque, em 90 dias, uma fábrica consegue produzir a própria matéria-prima para fazer roupa, muito mais durável que o algodão, por exemplo.

Leonardo começou cultivar cânhamo num terreno bastante árido, na Meimoa, para provar que era possível fazê-lo com poucos recursos. Foto: Laura Ramos | CannaReporter
Na colaboração com a universidade, o que é que já estão a investigar?
Neste momento, estão à espera das sementes, porque eu prometi oferecer-lhes uns quilos de sementes para fazer uma extracção, para ver se conseguem chegar a um bioetanol. Isto foi para o departamento de química da universidade. O que eu já vendi à UBI foi para moda, para fazerem testes em tecido e pigmentação.
E esta produção que tens aqui, o que vais fazer com ela?
Eu quero ver se ainda antes do final do ano tenho aqui um armazém de apoio à agricultura, porque já encomendei máquinas para limpar as sementes. Depois, as sementes, quero trabalhá-las e pô-las no mercado como sementes alimentares. Os caules, vou perguntar à universidade o que é que eles precisam. O que eles precisarem, eu não faço grande coisa com a venda disso, já lhes disse que dou, porque este terreno ainda precisa de muitos anos de cultivo, pelo menos ao meu ritmo, de regeneração do solo, para conseguir estar a produzir em condições. E também precisávamos de outra coisa, que era um decorticador aqui na região, que não temos.
Quanto custa um decorticador?
O decorticador mais barato seria 12.500 euros + IVA.
E aqui, por exemplo, as entidades regionais não poderiam financiar? Ou uma campanha de crowdfunding?
Podia-se tentar, era uma ideia a pensar. Eu, por acaso, até agora tentei não pedir ajuda nem ao Estado, nem ao governo, nem ao banco, nada. Só agora é que, como é a construção do armazém, pedi ajuda ao banco. Mas as máquinas já seria outro caso a pensar. Talvez com um crowdfunding ou uma ajuda do Estado. Mas duvido muito… para o cânhamo, não há.
Achas que o Estado não está interessado no cânhamo?
Actualmente, acho que não, porque senão eles mesmos estariam a produzir hectares e hectares de cânhamo deles. Uma pessoa quando percebe o que está aqui a produzir, e a quantidade de coisas que se faz com isto, se não produzir é porque não consegue fazer 1+1=2, porque é, literalmente, a auto-suficiência de um país que está aqui atrás, a quase todos os níveis.

A produção da Lynx Hemp destina-se a sementes e fibras. Foto: Laura Ramos | CannaReporter
Para as pessoas que não estão muito por dentro, consegues enumerar o que é se faz a partir do cânhamo?
Entre produtos e subprodutos, são mais de 25.000 aplicações, ou seja, para os enumerar estaríamos aqui muito tempo. Mas, por exemplo, com esta parte, que é a parte interior (shiv), a parte que tem mais celulose, conseguimos fazer material de construção biodegradável e altamente durável, à prova de fogo, e o que muitas pessoas não sabem é que a indústria da construção civil é a que mais polui o meio ambiente. Conseguimos fazer papel, porque tem muita celulose, conseguimos fazer plástico; com esta parte, que é fibra, conseguimos fazer tecido, conseguem-se fazer placas de isolamento. Por exemplo, a Mercedes, todas as Classes C, desde 1994, levam 20 quilos de fibra de cânhamo em forma de isolamento. Em 2019, em França, fizeram uma casa que, desde a fundação até à decoração, 78% da casa foi feita com cânhamo. Na parte alimentar, tudo o que é feito industrialmente de um grão normal, consegue-se fazer do cânhamo, e até nem precisa de ser 100% cânhamo, pode ser adicionado só mesmo para ter as propriedades nutricionais que o cânhamo tem: 33% de proteína, Omega-3, -6 e -9, 21 aminoácidos de que necessitamos para o funcionamento do corpo… tem as gorduras boas, cresce rapidamente, localmente, não é preciso importar, não estamos a depender de outros países para o preço do nosso pão aumentar. O cânhamo podia ser cultivado a nível nacional, a questão é toda essa: estamos a cultivar uma coisa em que nós já fomos os melhores.
Sim, Portugal tem uma grande história com o cânhamo.
Nós, até 1930, éramos os maiores produtores de cânhamo, por causa da nossa parte de navegação: as velas eram de cânhamo, o óleo que usavam para selar as naus, as cordas, os cordames, eram de cânhamo, as naus eram obrigadas a ter sacas de sementes de cânhamo em stock para, caso naufragassem, terem material para semear, produzir a própria vela, produzir os próprios arranjos e ir embora. Porque em 90 dias tinham a matéria-prima pronta.
Era, de facto, uma cultura muito importante. Por que é que achas que deixou de se utilizar?
Fibras sintéticas, petróleo, indústria de papel… muitas indústrias tiveram interesse em acabar com o cânhamo. O que eu tento mostrar é que, com 2 hectares, que é uma área muito pequena, consigo aqui fazer um ganha-pão. Quantos milhares, ou dezenas de milhares, ou até centenas de milhares de pessoas não conseguiriam trabalhar no país a depender disto? Iam fazer uma boa vida.
“Não há como não acordar para a vida e ver que isto é a solução”
Achas que poderia revitalizar o interior do país e criar mais empregos?
Sim, sem dúvida. Só a quantidade de coisas que se consegue fazer disto! Estamos na Meimoa, que é onde eu cultivo, há 200 pessoas que vivem ali. Se uma empresa abrir 20 postos de trabalho, já são mais 50 pessoas na aldeia. De um momento para o outro aumenta a população em 25%, o que, para uma aldeia destas, é óptimo. Os negócios locais, os minimercados, os cafés, os restaurantes, tudo vai aumentar. É uma bio-economia circular, completamente renovável.
Achas que isso podia ajudar, também, toda essa parte económica?
Pode ajudar, sim. Quando as pessoas começarem a ganhar dinheiro com isto… Pelo menos, na minha área, o que eu faço é facturar tudo e cumprir nessa parte, porque isso faz-me ter mais credibilidade, faz-me mostrar que é uma empresa séria. É o que eu estou a tentar fazer, não ando aqui a fazer dinheiro com a planta enquanto dá. O meu lucro vem do terreno. Eu consigo fazer dinheiro e invisto-o para melhorar o terreno.

Leonardo Sousa, da Lynx Hemp, na sua plantação de cânhamo na Meimoa, concelho de Penamacor. Foto: Laura Ramos | CannaReporter
Mas agora tens outra acção aí a decorrer. Queres contar um pouco sobre isso?
Há um tempo, tive a ideia de comprar um terreno e plantar árvores, porque estava a utilizar um terreno aqui, que é um terreno agrícola, mas fica perto de uma serra e, como estava a utilizar este terreno, queria plantar árvores noutro sítio. Deparei-me com uma situação, que foram os incêndios do ano passado na Serra da Estrela, e falei com os Baldios de Verdelhos, que é quem gere as áreas ardidas ou abandonadas da região. Gostava de fazer uma iniciativa de reflorestação com uma empresa e o que fechei com eles foi: nós temos uma flor de cânhamo que é importada, certificada e com menos de 0,3% de THC, que chamamos de Queijo da Serra, porque a variedade acho que é Kompolti e tem traços de Royal Cheese, com um aroma mais virado para o queijo, um cheiro mais intenso… o que eu fiz foi mesmo usar um bom marketing: “esta flor tem uns terpenos mais de queijo, vou fazer o Queijo da Serra”. E foi um sucesso, as pessoas gostaram. Então, decidi que, por cada saco de 10 gramas de cânhamo Queijo da Serra que vendermos, na loja ou online, ou que vendermos a um revendedor, para as pessoas comprarem mais localmente, vamos plantar uma árvore autóctone, entre carvalhos, medronheiros, nogueiras e sobreiros.
Isso é uma boa iniciativa. Tens ideia de quantas árvores vão ser?
Para já, para ter assim um início já com algumas árvores garantidas, estamos a cultivar 2,5 hectares de cânhamo e estamos a pôr 200 árvores por hectare. São logo 500 árvores. Temos um cliente de consultoria de cultivo de cânhamo, que tem mais 2,3 hectares; são mais 460 árvores, logo 960 árvores que vamos plantar só no início. E agora, dependendo de como forem as vendas, estamos à espera de mais 300 a 500 árvores. Estamos a falar de perto de 1500 árvores.
Qual é o teu maior objectivo nesta fase?
Nesta fase, se conseguisse chegar a 10.000 árvores plantadas, era incrível, para já.
Quanto dinheiro vai ser necessário? Quanto é que custa cada árvore?
As árvores são de quatro espécies e variam entre 5,5 a 75 euros. Ainda são alguns milhares de euros.
E o teu maior objectivo de vida, a longo prazo?
Ainda há alguns que eu quero cumprir, mas o maior acho que era mesmo ver a sociedade como um todo a utilizar mais esta planta. Eu tenho uma visão que é: o consumidor tem a culpa da escolha, mas quando não se tem escolha, não se tem culpa. É assim: eu tenho que comprar aquilo e tenho, não tenho outra opção. E, mesmo quando estás a comprar uma opção que pensas que é boa, estás a comprar uma embalagem de cartão que vem de uma floresta de eucaliptos gigantesca. Então, não é a melhor opção. Agora, entre fazer uma matéria-prima em 90 dias, em que estás a capturar mais CO2 do que a floresta, consomes menos água do que o algodão ou o milho, produzes muito mais produtos finais da mesma matéria-prima, não há como não acordar para a vida e ver que isto é a solução.
Em relação à portaria que regulamentou o cânhamo, o que é que achas que teria que mudar para incentivar mais este sector?
Sobre a portaria do cânhamo, acho que está a fechar muito, a proibir muito. É muito proibicionista na questão da área [de cultivo]. Eu tenho pessoas, todos os anos, que me pedem ajuda para cultivar cânhamo, que têm 2 ou 3 ou 4 mil m2, que querem cultivar nas suas quintas, mas não podem, porque não têm o mínimo de 5.000 m2.

Leonardo mostra algumas sementes produzidas na sua plantação de cânhamo. Foto: Laura Ramos | CannaReporter
Que outras coisas é que achas que limitam os agricultores no terreno?
A falta de infra-estruturas para o cânhamo, mas isso é um ciclo vicioso. A legislação é proibicionista porquê? O terreno, a área que se cultiva, os 5.000 m2, se formos a ver os terrenos agrícolas em Portugal, a percentagem deles que têm mais de 5.000 m2 é pequena. A Madeira e os Açores estão completamente isolados, a não ser que alguém tenha lá andado a comprar artigos, em alqueires (1 hectare são 28 alqueires). Lá, as pessoas têm 2 ou 3 alqueires de terra, não têm às dezenas. E principalmente cá, no interior, tens duas ou três famílias que têm milhares de hectares e depois tens meios hectares, 1.000 m2, 2.000 m2… Essas pessoas estão completamente excluídas, não podem produzir cânhamo.
O que é que seria preciso mudar, então, na lei?
Tirar os pontos da área mínima obrigatória, da densidade mínima obrigatória e a parte das estufas, que não são permitidas. Por exemplo, se quiser desenvolver uma estirpe de cânhamo beirão, não a vou fazer a céu aberto, poderia fazê-lo numa estufa. Mas não posso, porque estou em incumprimento com a lei. Não posso cruzar plantas para fazer um estudo em estufa, porque a legislação não permite cultivar cânhamo, em nenhuma etapa, em estufa.
Por que é que não se pode fazer a céu aberto?
Porque tem muito mais variáveis. Imagina que eu agora quero fazer uma reprodução desta planta porque ela é muito boa. Faço um clone e faço uma reprodução, com um cânhamo francês ou um cânhamo ucraniano ou um cânhamo inglês, com o sol de cá, com o solo de cá, mas nunca as impurezas do ar, porque se atrás do monte alguém plantar cânhamo, a polinização cruzada não afecta só a medicinal. A qualidade daquele cânhamo vai afectar a qualidade do meu cânhamo, por isso é que também é muito necessário termos uma variedade portuguesa, e isso não existe.
E achas que só com uma estufa poderíamos desenvolver uma boa variedade portuguesa?
Não, tinha que ser mais do que uma estufa! (risos) Tinham de ser uns milhões de euros de investimento europeu, investigação genética, laboratórios… above my pay grade! (risos)
Achas que aqui, com a UBI, se houvesse o devido investimento, era possível?
Sim, eles têm um bom departamento de biologia vegetal, tive aulas com muitos deles, da bioquímica, e até há cá perto um projecto de genética de ovelhas autóctones. Não é canábis, mas o projecto também foi da universidade, através de um mestrado, e foi co-financiado pela União Europeia.
“Na África do Sul foi inaugurado um hotel de 12 andares feito em cânhamo. Não é impossível. Não é que nunca tenha sido feito, já foi feito! Nós é que estamos a ficar para trás”
Se pudesses pedir ao governo para fazer alguma coisa, o que é que seria?
Era um pólo industrial. Era ver o que se está a passar na Ucrânia, em Cherkasy. Na região de Cherkasy estão a fazer um pólo industrial com fundos europeus e fundos mundiais para reconstruir o país a partir do cânhamo, desde a parte da construção civil à parte alimentar, ao plástico, combustíveis, tudo. É o que eles estão a fazer.

Na loja da Lynx Hemp, na Covilhã, Leonardo assume um papel de educação da sociedade sobre os benefícios na saúde e o potencial do cânhamo na sustentabilidade do planeta, com vários materiais informativos à disposição dos clientes. Foto: Laura Ramos | CannaReporter
E quanto achas que era necessário de investimento para fazer isso aqui, na Covilhã?
Estavam a falar de duzentos e tal milhões de euros, lá. Mas eles têm 2.400 hectares cultivados e têm linhas de produção para muita coisa. Na parte da construção civil, de vários materiais, na parte alimentar, não fazem só limpeza de semente, fazem também óleos e mais produtos alimentares, trabalham com outras empresas de fornecimento que fazem também outros produtos… 2.400 hectares é gigantesco! Portugal, por exemplo, no ano passado, cultivou 22 hectares no país todo – continente e ilhas.
Qual seria um bom valor para começar?
Nós começámos com a parte do cânhamo, com o investimento do terreno, e mais 4.000 euros para comprar o sistema de rega em segunda mão, senão estávamos a falar de 10 ou 12 mil euros só para o sistema de rega. Mas as sementes são baratíssimas; para 2,5 hectares gastámos cerca de 600 euros com entrega (vieram de França). A água vai depender da região de Portugal, do gasto e do custo, o estrume, quanto mais, melhor, e o calcário foi só para manter o pH. Pusemos calcário agrícola, também certificado, que foi 500 euros, acho eu, nos 2 hectares; não foi muito.
E que rendimento esperas obter com a colheita?
Nesta colheita, se conseguir ter o armazém a tempo, ainda consigo tirar dois ou três mil euros em sementes. A palha, a mais curta vou deixando no chão para adubar o terreno e a mais comprida vou tentar vender a 300 euros/tonelada, ou para a universidade ou para alguma empresa que esteja interessada.
Os tijolos de cânhamo, também são um objectivo para o futuro?
Eu fazer, sinceramente, não sei. Vender, sim, e deveria ser em todos os sítios, começar já a construir tudo… imagina, se dessem um incentivo fiscal às construtoras que fizessem prédios em cânhamo. “Ah, não é possível, porque vai cair.” Na África do Sul foi inaugurado um hotel de 12 andares feito em cânhamo. Não é impossível. Não é que nunca tenha sido feito, já foi feito! Nós é que estamos a ficar para trás. Quem sabe o que está a ficar para trás e vê que as coisas não estão a mudar, irrita-se, porque é complicado uma pessoa sozinha mudar alguma coisa.
Mas tu já estás a fazer a tua parte.
Sim. Ao menos isso. Pelo menos aqui da região, tento tomar conta. O que é de dinheiro que consigo cá gastar a arrendar tractores ou a pagar a pessoas locais para fazerem o serviço, e também a plantar árvores, por exemplo… o propósito de deixar cá na região, deixo.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do XXI Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” em 2018 e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
