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EUA – Legalização não aumentou uso de canábis, mas reduziu consumo de álcool e ultrapassou-o

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Os jovens norte-americanos estão a consumir menos canábis hoje do que em 2014, mas, pela primeira vez desde que há registo, o uso de canábis ultrapassou o consumo de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos da América (EUA). A legalização parece não ter levado, portanto, a um aumento progressivo do uso de canábis entre os jovens (como se verificou durante a proibição) e até pode estar a ajudar a reduzir outros consumos problemáticos, como o álcool ou o tabaco, de acordo com alguns estudos já publicados. No Canadá, por exemplo, a canábis já está a ser usada num programa piloto de redução de danos para o abuso de álcool.

Os estudos e relatórios sobre o consumo de substâncias feitos pelas diversas instituições e organismos públicos nos EUA multiplicou-se desde a legalização da canábis recreativa, nos estados do Colorado e Washington, em 2012. Dois deles publicados recentemente, apontam para tendências que parecem contraditórias, mas que até podem não o ser.

Os resultados do último Inquérito Nacional sobre Consumo de Drogas e Saúde (NSDUH) publicado pela Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias (SAMHSA), indica que, na última década, o consumo de canábis diminuiu 18% entre os jovens norte-americanos entre os 14 e os 17 anos. Dos jovens consultados em 2023, apenas 18,4% (43.6 milhões) declarou ter consumido “marijuana” pelo menos uma vez, enquanto que em 2022 eram 19,2%. Mesmo assim, não baixou ao nível de 2021, em que apenas 17,9% declararou ter usado canábis no mês anterior. A canábis, porém, continua a ser a substância ilícita mais consumida. De acordo com o mesmo inquérito, 21,8% (61,8 milhões de pessoas) dos inquiridos de todas as idades respondeu ter usado canábis nos últimos 12 meses, sendo os métodos de uso mais comuns:

  • Combustão / cigarros de canábis (77% ou 47,6 milhões de pessoas)
  • Vaporização (38,3% ou 23,7 milhões)
  • Bebidas e comestíveis (48,3% ou 29,8 milhões)
  • Dabs, ceras, shatter ou concentrados (16% ou 9,9 milhões)
  • Loções, cremes ou apósitos cutâneos (7,8% ou 4.8 milhões)
  • Gotas, tiras, pastilhas ou sprays orais ou sublinguais (5,5% ou 3,4 milhões)
  • Cápsulas ou comprimidos (3,3% ou 2 milhões)
  • Outros (0,7% ou 443 mil pessoas)

Muitos utilizadores reportaram “o uso em mais do que uma forma no passado mês ou ano”, informa ainda o relatório.

Canábis ultrapassa álcool pela primeira vez
Outro estudo sobre consumos reportados, realizado pela Universidade Carnegie Mellon e publicado em Maio deste ano, diz que, em 2022, cerca de 17,7 milhões de pessoas terão usado canábis com uma frequência diária ou quase diária; enquanto o consumo frequente de álcool foi reportado por 14,7 milhões de consumidores. Este estudo analisou 42 anos de data recolhida nos sucessivos Inquéritos Nacionais sobre Consumo de Drogas e Saúde (NSDUH) em 27 relatórios, reportados entre 1979 e 2022 por um total de 1.641.041 consumidores.

“(…) pensamos que entre as gerações mais jovens que crescem com a canábis legal como opção, a aceitação da canábis irá tornar-se mais prevalente e uma alternativa às opções tradicionais”

Tendo em conta que no ano de 1992 apenas 900 mil norte-americanos terão relatado um consumo de canábis diário – contra 8,9 milhões de consumidores assíduos de álcool naquela altura – isto supõe um aumento de cerca de 1700% de consumidores de canábis em 30 anos. Tal subida pode dever-se a um aumento real desse consumo, mas também ao facto de que, desde a legalização, os inquiridos têm mais liberdade para assumir abertamente a sua utilização de canábis sem receio de sofrer julgamentos ou represálias.

De acordo com as declarações prestadas por Scott Fortune, analista da Roth MKM ao canal de notícias da CNBC, “havendo indicações de que os consumidores estão a substituir as substâncias recreativas (álcool, tabaco), pensamos que entre as gerações mais jovens que crescem com a canábis legal como opção, a aceitação da canábis irá tornar-se mais prevalente e uma alternativa às opções tradicionais”.

A legalização propiciou a redução do consumo de álcool (um problema que custa ao país milhares de milhões de dólares por ano) mas não levou a um aumento do consumo de canábis entre os jovens.

Por outro lado, começa-se a perceber que a canábis pode ser um apoio eficaz para a redução de alguns consumos, nomeadamente o de álcool, como diversas análises e estudos realizados nos últimos anos têm vindo a apontar.

Este artigo de Amanda Reiman (Ph.D em Trabalho Social), investigadora da Universidade de Berkeley, dedicado ao uso de canábis como substituto para outros consumos e publicado no Harm Reduction Journal em 2009, dizia que, dos inquiridos numa recolha anónima de dados feita pelo Berkeley Patient’s Group (BPG), 40% dos inquiridos tinha usado canábis como substituto do álcool, 26% como substituto de outras drogas ilícitas e 66% como substituto de drogas sujeitas a receita médica. As razões mais comuns para esta escolha foram: menos efeitos adversos (65%), melhor controlo dos sintomas (57%), e menos potencial para sofrer síndrome de abstinência (34%) com a canábis”.

Por curiosidade, no mesmo artigo, a autora citava ainda a conclusão de um outro artigo datado de 1998 em que Rosalie Liccardo Pacula (Ph.D), investigadora da School of Business Economics da Universidade de San Diego, questionava se o aumento das taxas do álcool levariam a uma redução do consumo de ‘marijuana’: “Conforme o preço da cerveja foi aumentando, o consumo de canábis foi diminuindo”, destaca Reiman. “Isto pode dever-se a que a introdução de álcool nos ambientes da adolescência aumenta a probabilidade da introdução de outras susbstâncias nesse ambiente; assim que a presença de álcool diminui, a presença de outras substâncias também diminui”. Interessante dado para o debate sobre se a canábis é ou não uma “gateway drug”, a primeira droga na escalada de consumo.

A Health Canada, por seu lado, tem neste momento a decorrer um programa-piloto para a redução de danos do abuso de álcool. No folheto informativo e orientativo para trabalhadores clínicos e sociais, a Health Canada explica o potencial da planta para este fim, as vantagens, as formas de uso, os possíveis efeitos adversos e quem não deve consumir canábis. Falaremos sobre este programa e outras políticas que o Governo canadiano está a implementar neste sentido mais profundamente em breve.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Margarita é colaboradora permanente do CannaReporter desde a sua criação, em 2017, tendo antes colaborado com outros meios de comunicação especializados em canábis, como a revista Cáñamo (Espanha), a CannaDouro Magazine (Portugal) ou a Cannapress. Fez parte da equipa original da edição da Cânhamo portuguesa, no início dos anos 2000, e da organização da Marcha Global da Marijuana em Portugal entre 2007 e 2009.

Recentemente, publicou o livro “Canábis | Maldita e Maravilhosa” (Ed. Oficina do Livro / LeYA, 2024), dedicado a difundir a história da planta, a sua relação ancestral com o Ser Humano como matéria prima, enteógeno e droga recreativa, assim como o potencial infinito que ela guarda em termos medicinais, industriais e ambientais.

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