Há mais um estudo a concluir que o CBD pode potenciar os efeitos do THC

O canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC) são dois dos compostos mais conhecidos da canábis, frequentemente utilizados pelas suas propriedades terapêuticas. Contudo, contrariamente à noção popular de que o CBD reduz os efeitos negativos do THC, têm surgido alguns estudos a demonstrar que doses elevadas de CBD podem amplificar os efeitos do THC. Uma nova investigação do Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda, publicado na revista Clinical Pharmacology & Therapeutics, corrobora esta hipótese e vem derrubar crenças de longa data sobre a interacção entre estes dois canabinóides. 

CBD e THC: Compreender os seus papéis na canábis

A canábis tem-se tornado cada vez mais popular, tanto para uso recreativo como para uso medicinal, particularmente no controlo da dor. O THC, o composto com propriedades psicotrópicas da canábis, é conhecido pelos seus fortes efeitos analgésicos, mas também é responsável por efeitos secundários indesejáveis, como ansiedade, perturbações cognitivas e distúrbios motores. O CBD, por outro lado, não é intoxicante e acredita-se que neutraliza alguns dos efeitos adversos do THC, como a ansiedade e a paranóia.

Esta crença de que o CBD reduz os efeitos secundários do THC levou à utilização generalizada de produtos de canábis balanceados e/ou ricos em CBD. No entanto, as provas científicas que sustentam esta afirmação têm sido inconsistentes. Enquanto alguns estudos sugerem que o CBD reduz a ansiedade e os problemas cognitivos induzidos pelo THC, outros não mostram esse efeito.

A falta de provas científicas

Para esclarecer a interacção entre estes dois canabinóides, os investigadores propuseram-se examinar se o CBD poderia reduzir os efeitos negativos do THC sem comprometer os seus benefícios no alívio da dor. Liderada pelo Professor Geert Jan Groeneveld, um neurofarmacologista clínico do Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda, a equipa de investigação realizou uma experiência rigorosa para descobrir a verdade.

As pessoas da comunidade canábica afirmam frequentemente que o CBD pode “aliviar” o THC, especialmente no que diz respeito à ansiedade”, explicou Groeneveld. “Mas sempre faltaram provas científicas disso”.

Como foi conduzido o estudo

O estudo envolveu 37 participantes saudáveis, com idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos, que tinham experiência prévia com canábis, mas que a consumiam com pouca frequência. Os participantes foram submetidos a rigorosos exames de saúde para garantir que não existiam doenças subjacentes, como a psicose, que pudessem afectar os resultados. Todos os participantes abstiveram-se de consumir canábis e outras drogas durante várias semanas antes do estudo.

Utilizando um modelo em dupla ocultação e controlado por placebo, os participantes receberam cinco tratamentos diferentes: THC isolado, THC combinado com três doses diferentes de CBD (10 mg, 30 mg e 450 mg) e um placebo. Os tratamentos foram administrados por via oral, sendo o CBD administrado 30 minutos antes do THC para garantir o pico de concentração de ambos os compostos ao mesmo tempo. Os investigadores utilizaram auto-relatos subjectivos e testes objectivos para medir o humor, a ansiedade, a função cognitiva e o desempenho psicomotor.

Resultados surpreendentes: CBD aumentou efeitos do THC

O estudo produziu resultados surpreendentes. Contrariamente à ideia de que o CBD atenua os efeitos adversos do THC, a dose mais elevada de CBD (450 mg) amplificou significativamente os efeitos psicoactivos do THC. Os participantes referiram sentir-se mais intoxicados e as suas capacidades cognitivas e motoras foram mais afectadas do que quando tomaram apenas THC. Este aumento da potência do THC deve-se provavelmente a uma interacção farmacocinética em que o CBD afecta a forma como o THC é metabolizado, provocando concentrações mais elevadas de THC na corrente sanguínea.

Doses mais baixas de CBD (10 mg e 30 mg) não afectaram significativamente os efeitos do THC, sugerindo que o CBD não altera os efeitos do THC quando tomado em conjunto em pequenas doses. Não se registou qualquer redução da ansiedade induzida pelo THC ou do comprometimento cognitivo, o que desafia a ideia de que o CBD pode mitigar consistentemente os efeitos secundários do THC.

Implicações para o controlo da dor e o consumo de canábis

Curiosamente, o estudo concluiu que, apesar do aumento dos efeitos psicoactivos do THC com doses elevadas de CBD, as propriedades analgésicas do THC permaneceram inalteradas nas diferentes condições de tratamento. Esta constatação sugere que, embora o CBD possa intensificar a experiência psicoactiva do THC, não melhora as suas propriedades analgésicas.

Para aqueles que utilizam a canábis por razões terapêuticas, em particular para o controlo da dor, estes resultados podem ter implicações significativas. A crença comum de que a adição de CBD ao THC pode reduzir a ansiedade e outros efeitos secundários pode não ser verdadeira, especialmente em doses mais elevadas de CBD. Isto pode levar os consumidores e os prestadores de cuidados de saúde a repensar a forma como abordam os tratamentos à base de canábis.

Limitações do estudo

Embora o estudo tenha tido uma concepção robusta, apresentou algumas limitações, como o reduzido número de participantes. Além disso, a investigação explorou apenas os efeitos do THC e do CBD ingeridos por via oral. Uma vez que diferentes métodos de consumo, como fumar ou vaporizar, alteram a forma como estes canabinóides são metabolizados, os resultados podem não se aplicar a todos os métodos de consumo de canábis.

Além disso, o estudo não incluiu um grupo apenas de CBD, o que significa que ainda não é claro como o CBD afecta o cérebro e o corpo quando consumido independentemente do THC. Os investigadores, no entanto, estão a realizar mais estudos para investigar os efeitos autónomos do CBD no sistema nervoso central.

Outras investigações e estudos de neuroimagiologia

Os resultados deste estudo estão em sintonia com uma investigação recente publicada na revista Neuropsychopharmacology, que também concluiu que o CBD não atenuou os efeitos perturbadores do THC na conectividade cerebral. De facto, verificou-se que o CBD piorou a perturbação da conectividade em redes cerebrais importantes após o consumo de canábis.

Além disso, um estudo pré-clínico publicado na revista Neurobiology of Disease revelou que o CBD exacerbou os efeitos nocivos da exposição pré-natal à canábis, desafiando ainda mais a noção de que o CBD oferece um papel protector quando combinado com o THC.

Reavaliação da relação entre o CBD e o THC

A sabedoria convencional em torno da interacção CBD-THC está a ser cada vez mais desafiada pela investigação científica. Embora o CBD tenha sido comercializado como um contrapeso aos efeitos negativos do THC, esta nova evidência sugere que, em doses elevadas, o CBD pode intensificar as propriedades psicoactivas do THC. Para os utilizadores de canábis e os prestadores de cuidados de saúde, estas descobertas sublinham a importância de compreender a forma como os canabinóides interagem e os riscos potenciais da sua combinação.

À medida que forem realizados mais estudos, nomeadamente sobre os diferentes métodos de administração e os efeitos exclusivos do CBD, a nossa compreensão das terapias à base de canábis continuará a evoluir. Por enquanto, este estudo serve para recordar que a relação entre o CBD e o THC é mais complexa do que se pensava anteriormente e que os utilizadores devem abordar o consumo de canábis com cautela.

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João Xabregas

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Com formação profissional em desenho técnico CAD (2D e 3D), João Xabregas é activista e defensor de todos os usos e aplicações da canábis. Encontrou e entrou no mundo canábico ainda durante os seus tempos de juventude, onde ganhou especial interesse pelo cultivo da planta, o que o levou a uma jornada de auto-aprendizagem pelo mundo da canábis que ainda continua nos dias de hoje. As suas aventuras ligadas ao cultivo de canábis iniciaram-se com o mesmo objectivo de muitos outros: poder garantir a qualidade e eliminar quaisquer possíveis riscos para a sua saúde daquilo que consumia, bem como evitar quaisquer tipos de dependências do mercado ilícito. No entanto, rapidamente passou a encarar o mundo da canábis e tudo o que a ela diz respeito com um olhar bastante diferente. Assume a enorme paixão que nutre pela planta mais perseguida do mundo e sobre a qual está sempre disposto a escrever e a ter uma boa conversa.

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