Entrevistas
Russel Adler, criador dos Flintts Mints: “Eu era jovem e bastante pobre, e demorei algum tempo a ganhar dinheiro para poder investir na fórmula”

São doces e um bocadinho “picantes”, têm o logotipo de uma flor sorridente e, enquanto se desfazem na boca, estimulam a produção de saliva. Descobrimos os Flintts Mints na Spannabis e desde logo ficámos fãs. O “ingrediente ativo” é a Spilanthes* (ou Acmella oleracea), uma flor originária da América do Sul e muito utilizada no Brasil, que provoca a salivação e deixa uma sensação fresca e efervescente na língua e no palato. Os Flintts Mints são vegan, não contêm açúcar nem organismos geneticamente modificados (OMGs) e estão disponíveis em diferentes sabores e intensidades. Em suma, estes rebuçados em forma de drageias são perfeitos para aquele efeito adverso conhecido por muitos utilizadores de canábis: a boca seca ou de “algodão”!

A flor da Spilanthes, ou Acmella oleracea, a partir da qual da são produzidos os Flinnts Mints
Durante a Spannabis 2024, o CannaReporter® falou com o criador dos Flintts Mints, Russel Adler, um nova-iorquino que passou vários anos à procura da fórmula perfeita para criar esta drageia efervescente, divertida e única.
Os Flintts Mints são um rebuçado fantástico para quem fuma canábis, porque provocam a salivação, ajudando a combater a boca seca… Podes explicar melhor?
Sim. Os Flintts Mints são drageias que fazem salivar e deixam uma sensação efervescente na língua. O efeito vem de uma flor chamada Spilanthes [olerácea L.] *, nativa do Brasil. Quando a mastigamos ou a deixamos repousar na boca, tem este efeito. Descobri esta flor há cerca de 12 ou 13 anos. Tinha para aí 20 anos, era muito jovem.
Onde vivias nessa altura? Onde é que cresceste?
Sou de Nova Iorque, mas estava a viver no Vermont, no norte dos Estados Unidos, no campo. E cultivei esta flor porque um amigo meu tinha-me dado umas sementes de presente. Depois, quando pus uma na boca, percebi que essa era a minha missão na vida, a razão de estar aqui. Eu era jovem e bastante pobre e demorei algum tempo a ganhar dinheiro para poder investir na fórmula.
E começaste como, na cozinha de casa, a fazer experiências?
Exatamente. Tinha a planta na sala. Os primeiros Flintts foram feitos num frasco de verniz para unhas vazio. Pus a farinha da flor em álcool, para a dissolver, e esfregava-a na língua. Era muito desagradável, mas resultava. Depois comecei a transformá-lo numa espécie de rebuçado, mas era muito forte. E finalmente encontrei um cientista, um formulador, que me ajudou a desenvolver a drageia. Mas isto demorou anos. Só lançámos o produto em 2019.
E que outras experiências fizeste? Primeiro foi com álcool e depois, rebuçados, gomas?
Experimentei gomas. Também fiz umas pastilhas. Era uma espécie de açúcar cozinhado. Aquecia o açúcar e depois começava a juntar o açúcar em pó até arrefecer. Fica duro como uma pedra! A minha ideia no início era ser eu a fazê-los, mas cada um saía diferente – um era muito forte, o outro não funcionava. Percebi, então, que precisava de um processo industrial em que tudo fosse formatado. E foi aí que comecei a contactar pessoas.
Que tipo de pessoas e como é que as encontraste?
No Google (risos)! Comecei a fazer telefonemas e acabei por conhecer alguém que é quem hoje fabrica as nossas máquinas para produzir as pastilhas. Ele recomendou-me um cientista. Demorámos três anos até conseguir chegar à fórmula certa com eles. Fizemos muitos ensaios, comprávamos imensos ingredientes. Mas houve fases, especialmente durante a pandemia, em que não havia stock nenhum no mundo. Por isso, mexemo-nos para conseguir encontrar diferentes empresas de botânica que pudessem vir a ser fornecedores. Mas em 2022, ficámos sem fornecimento. Foi um ano difícil. No início, estávamos a produzir pouco e pensávamos que a empresa iria crescer muito lentamente. Mas quando as pessoas começaram a fazer vídeos no TikTok… O primeiro grande vídeo teve 5 milhões de visualizações. E depois, todas as semanas, alguém fazia um vídeo e obtinha milhões de visualizações. Isso foi no final de 2021. Assim, quadruplicámos as vendas num ano.
E depois, em 2022, ficaram sem abastecimento.
Sim, exatamente. Por isso tivemos de parar a publicidade, o que prejudicou as vendas. Finalmente, conseguimos resolver tudo em 2023, ou perto do final de 2022. Tínhamos uma boa oferta e voltámos a impulsionar o marketing. E em 2023, duplicámos novamente. Começámos na minha cozinha e agora temos a nossa fábrica em Nova Iorque, onde o produto é feito, e dois escritórios com uma equipa de 25 pessoas. Sim, é uma experiência muito boa.
E quanto é que cresceram desde o início? Quadruplicaram e mantiveram-se assim desde aí?
Agora fazemos mais num dia do que fizemos durante todo o nosso primeiro ano, em 2019. Por isso crescemos. Mas não sei quanto, ao certo.

Entrevistámos Russel Adler na Spannabis 2024, em Barcelona. Foto de Margarita Cardoso de Meneses | CannaReporter®
Vendem maioritariamente online?
Sim, principalmente em www.flintts.com, diretamente a clientes nos Estados Unidos.
E na Europa?
Na Europa, agora, temos finalmente oferta suficiente para ter um catálogo aqui. Enviávamos encomendas para toda a Europa, mas o IVA era cerca de 40 Euros, por isso, alguém que pagava 20 Euros por três pacotes, depois tinha de pagar mais 40, o que obviamente não funciona. Mas agora o nosso produto já está na Alemanha e pronto para ser enviado daí para toda a Europa.
E quantos países esperam alcançar na Europa?Bem, será o mercado da canábis. O nosso foco principal são a Alemanha, França e Espanha, neste momento. Penso que é por uma questão cultural e talvez por terem algum poder de compra, também. Tudo é muito caro nos Estados Unidos, por isso o produto é bastante caro para o europeu médio.
Não pensas abrir uma fábrica na Europa?
Uau! (risos) Talvez um dia… Mas não, ainda não pensei nisso. Talvez um dia, se a procura o exigir. Penso que nos ajudaria muito ter um negócio implantado aqui, por uma série de razões. Mas o plano agora é apenas continuar a exportar através da Alemanha e talvez também através da Irlanda do Norte. Há a possibilidade de chegar a ambos e, assim, tanto à Europa como ao Reino Unido.
Relacionaste logo esta planta que faz salivar e os teus rebuçados com a canábis?
Não, não, de todo.
Não? Apenas pensaste que seria algo engraçado de produzir?
Sim. Bem, a ideia original era terapêutica. Eu estou sempre a roer as unhas, a fumar ou a beber café. Sou como os bebés, sempre com alguma coisa na boca. E quando eu comia aquelas flores, sentia-me mais calmo, é impressionante. É como quando ouves música alta e te estás a divertir… ficas relaxado. É assim que penso nisto. É uma planta realmente poderosa para acalmar o corpo e reduzir a ansiedade. Mas isso era muito difícil de comercializar. E como demorou anos a finalizar o produto, quando finalmente ficou pronto, a canábis estava a fazer isto [faz gesto com a mão na diagonal, a referir que o mercado estava a aumentar]. Por isso, achei que era mesmo aí que ia colocar o meu barco, para quando a maré subisse. Por isso, no início, não foi esse o objetivo. Agora, aqui na Europa a canábis é, sem dúvida, o nosso maior mercado, mas nos Estados Unidos é o das sex-shops. As pessoas usam os Flintts Mints para experiências sexuais.
E porquê?
Porque deixa a boca húmida! É uma nova onda e vamos trazer essa estratégia para a Europa também, porque agora, nos EUA, há outra coisa, que é o facto de as pessoas os utilizarem para fins medicinais – quando são operadas, ou em terapias contra o cancro. Não é um medicamento e não o comercializamos dessa forma. Mas bom, começámos pela canábis e foi uma boa forma de começar. Depois, a questão do sexo veio atrás e foi ainda maior. E agora, estamos a conseguir um mercado terapêutico que é ainda maior e que também inclui mais pessoas idosas.
E não aumenta a pressão arterial nem nada, como o sal, por exemplo?
Quer dizer, eu não sou médico…
Mas há algum estudo sobre os efeitos da planta? Na hipertensão, por exemplo?
A FDA, a nossa autoridade médica, a estrutura administrativa que regulamenta a nossa comida, disse que não há efeitos tóxicos, por isso pode tomar quantos quiser. É como o café ou um pimento picante – pode deixar o nosso estômago um pouco desconfortável, mas não nos vai deixar doentes.
Não aumenta a tensão nem tem efeitos adversos, portanto…
Não tem sal e tem muito poucos electrólitos. Não tem valor nutricional. O pó branco de que é feito, que forma a maior parte do comprimido, é na verdade um ingrediente europeu, que é o isomalte. É um adoçante sem açúcar, feito com beterraba sacarina. Também é adoçado com sucralose, que é feita de açúcar de cana. E depois tem apenas um pequeno extracto da flor Spilanthes.
Que quantidade de Spilanthes tem cada rebuçado?
Depende da intensidade. Os mais suaves têm menos.
Mais ou menos quanto?
Bem, esse é o nosso segredo comercial (risos). É uma concentração muito, muito pequena. Cabe na ponta do dedo. É muito pequena, mas muito poderosa!
Ha ha! E são vocês que fazem o extracto da planta?
Sim, fazemos o extracto apenas da flor, com dióxido de carbono, como na canábis. Depois retiramos o cloroplasto e por isso não é pegajoso nem resinoso, é fluido. Depois pegamos nos extractos, juntamo-los a este isomalte, misturamos tudo com uma máquina especial – uma bela máquina, uma batedeira farmacêutica – e fica a parecer neve. Depois misturamos com mais pó e flui como areia. É essa fórmula, a fórmula fluida, digamos, que vai para a pastilha. É isso que é transformado nos caramelos.
E também têm a prensa que faz este desenho.
Sim, eu mostro-te a prensa [mostra umas fotografias no site]. Esta é uma prensa de estação única. É onde eu faço protótipos.
O design é mesmo giro.
Obrigado! Isto são desperdícios que sobram depois de se obter o peso correto…
Então são vocês que fazem o processo todo…
Sim. E embalamos cada caixa à mão. Vou mostrar-te outra coisa: esta é a nossa sala de embalagem [mostra uma sala com pessoas a colocar os rebuçados nas caixas]. Como vês, embalam tudo à mão. Costumávamos pagar a empresas externas para o fazer, agora fazemos tudo nós.
Assim conseguem ter outro cuidado…
Sim, finalizamos com amor e cuidado (risos). Isso é muito importante para o produto!
* A Spilanthes (ou Acmella oleracea) é uma flor pertencente à família das Asteraceae. As suas folhas e inflorescências são usadas na medicina tradicional na região norte do Brasil para tratar diversos males da boca e da garganta. Estas partes da planta, quando mastigadas, dão uma sensação de formigueiro nos lábios, língua e palato, devido à sua acção anestésica local, sendo por isso usada para dor-de-dentes ou como estimulante do apetite. O chá das folhas e flores é também tomado contra a anemia, escorbuto, dispepsia e como estimulante da atividade estomáquica. A substância responsável pela acção anestésica da Spilanthes na mucosa bucal é uma isobutilamida denominada espilantol. Na sua composição química, além de espilantol, são citados a espilantina, afinina, colina e fitosterina.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Margarita é colaboradora permanente do CannaReporter desde a sua criação, em 2017, tendo antes colaborado com outros meios de comunicação especializados em canábis, como a revista Cáñamo (Espanha), a CannaDouro Magazine (Portugal) ou a Cannapress. Fez parte da equipa original da edição da Cânhamo portuguesa, no início dos anos 2000, e da organização da Marcha Global da Marijuana em Portugal entre 2007 e 2009.
Recentemente, publicou o livro “Canábis | Maldita e Maravilhosa” (Ed. Oficina do Livro / LeYA, 2024), dedicado a difundir a história da planta, a sua relação ancestral com o Ser Humano como matéria prima, enteógeno e droga recreativa, assim como o potencial infinito que ela guarda em termos medicinais, industriais e ambientais.
