Opinião
A corrida do THC: como as flores de alta potência estão a impulsionar o mercado da canábis medicinal do Reino Unido

O mercado global de canábis medicinal registou um aumento na procura de flores com alto teor de THC, e o mercado do Reino Unido está a seguir o exemplo. Um relatório recente da Cannamonitor mostra que em 2023, 79% de todos os artigos prescritos no Reino Unido eram flores, sendo 93% deles para variedades com predominância de THC. À medida que mais pacientes – especialmente homens mais jovens – procuram opções de alta potência, o mercado parece estar a afastar-se das suas raízes terapêuticas para um carácter quase recreativo. Isto levanta questões sobre o apelo em diversos grupos demográficos, o potencial escrutínio regulamentar e a trajectória da diversidade de produtos no Reino Unido.
Desde a legalização em 2018, o mercado da canábis medicinal no Reino Unido expandiu-se rapidamente, com o volume de produtos prescritos a mais do que duplicar a cada ano. De apenas 278 artigos em 2019, este número subiu para 43.933 em 2021 e atingiu 124.241 em 2022. As projecções para 2023 sugerem que mais de 350.000 artigos foram prescritos aos doentes e a Cannamonitor prevê que o mercado volte a duplicar até ao final de 2024. Se estas tendências se mantiverem, o Reino Unido poderá fornecer mais de 1 milhão de artigos de canábis medicinal até 2025, posicionando-o como um dos maiores mercados de procura da Europa.
No entanto, a procura está em grande parte confinada às prescrições privadas, uma vez que o NHS continua cauteloso e o número de prescrições continua a ser baixo. As clínicas privadas intervieram para colmatar esta lacuna, alargando o acesso através de prescrições de baixo custo e de uma gama crescente de esquemas e alternativas de acesso, melhorando, em última análise, a acessibilidade e impulsionando o crescimento do mercado.
Um mercado definido pelas flores com alto teor de THC, apesar da diversidade de produtos
A oferta de canábis medicinal pode estar em expansão, com cerca de 200 SKUs disponíveis aos pacientes no ano passado, mas é claramente dominada por flores com alto teor de THC. Embora todos os segmentos de flores tenham crescido em termos absolutos, todo o crescimento em termos relativos em 2023 veio de produtos que excedem os 23% de THC. Em particular, os produtos com mais de 24% de THC saltaram de apenas 3% do mercado em 2022 para 22% em 2023, principalmente à custa do segmento de 15-19%.
A popularidade das flores sublinha as vantagens dos produtos inaláveis, oferecendo um início de acção mais rápido em comparação com os produtos orais, uma prioridade para doentes com necessidades imediatas de gestão de sintomas, mas também para doentes com histórico prévio de utilização, que trazem consigo as preferências e expectativas moldadas pelo mercado recreativo.
Os óleos, que representaram 20% das prescrições em 2023, constituem uma alternativa para os doentes que procuram tratamentos não inalados, especialmente aqueles que necessitam de concentrações mais elevadas de CBD, como os doentes com epilepsia infantil. As opções mais recentes, como os cartuchos de vaporizador e os comprimidos, apesar do seu potencial, ainda não conquistaram uma quota de mercado significativa, detendo apenas 1% em 2023. À medida que os doentes se familiarizam mais com estes formatos alternativos, podem tornar-se se segmentos valiosos por si só – mas por enquanto, a flor prevalece.
Fornecimento cada vez mais competitivo
Vários países europeus e da Commonwealth estão a competir para abastecer o mercado do Reino Unido. Ao contrário da maioria dos mercados de procura, como a Alemanha e a Austrália, onde os produtos canadianos dominam a oferta, aproximadamente 75% dos produtos de canábis prescritos no Reino Unido provêm de países europeus como Portugal, Espanha, Macedónia do Norte e Dinamarca. Além disso, em 2024, os produtos cultivados no Reino Unido foram disponibilizados pela primeira vez.
No entanto, os produtos canadianos estão a ganhar terreno rapidamente, em grande parte devido à sua maior oferta de THC. A quota de mercado dos produtos canadianos duplicou entre 2022 e 2023; e em 2023, 56% dos produtos do Reino Unido que excedem os 24% de THC foram provenientes do Canadá, destacando o apelo da canábis canadiana para satisfazer um mercado orientado para a potência, semelhante ao seu mercado recreativo legal.
À medida que a procura continua a centrar-se em estirpes com elevado teor de THC, as importações canadianas poderão conquistar ainda mais quota de mercado, criando um cenário competitivo entre os fornecedores europeus estabelecidos e os recém-chegados canadianos. Em 2024, no entanto, os produtores europeus de países como Portugal e Macedónia do Norte intensificaram os seus esforços nos segmentos de maior potência, introduzindo múltiplos cultivares ultra-potentes que têm atraído uma atenção significativa.
Das mais de 100 variedades de flores prescritas no Reino Unido, as 10 principais representam 60% do mercado, com híbridos populares com tendência índica, como GG#4 e GSC, a liderar a procura. Esta concentração levanta questões sobre a futura diversidade do mercado, especialmente à medida que as marcas se concentram cada vez mais numa gama estreita de opções ultra-potentes para se manterem competitivas.
Embora contribua para o rápido crescimento do mercado e vá ao encontro das necessidades específicas dos doentes, a “corrida ao THC” pode correr o risco de perder o foco médico do mercado, enfatizando os efeitos intoxicantes imediatos em detrimento dos benefícios terapêuticos. Esta tendência reflecte o mercado global mais amplo da canábis, particularmente na América do Norte, onde dominam os produtos focados na potência.
Os incentivos económicos desempenham um papel importante nesta tendência: os produtos com elevado teor de THC impõem preços premium ao longo da cadeia de abastecimento, aumentando as pressões competitivas para fazer face a essa procura. As inovações na selecção genética, nas técnicas de cultivo e nos métodos pós-colheita estão a ajudar a aumentar os níveis de potência, mas a sustentabilidade desta tendência está em dúvida quando alguns produtos já ultrapassam os 30% de THC.
O caminho a seguir: poderá a diferenciação de produtos ser a próxima fronteira?
Existe a preocupação de que a inflacção persistente do THC possa limitar a escolha do paciente e ofuscar a diversidade terapêutica que a canábis medicinal foi originalmente concebida para oferecer. O mercado poderá eventualmente mudar para um foco em perfis de terpenos e estirpes únicas que oferecem mais do que apenas alta potência: no entanto, isto provavelmente exigiria mudanças tanto nas preferências dos pacientes como no interesse na prescrição.
Num mercado maduro, equilibrar o poder com um desenvolvimento de produtos mais abrangente será provavelmente um factor chave de sucesso para que as marcas se mantenham competitivas. Além disso, existe uma preocupação crescente de que um mercado centrado no THC possa atrair o escrutínio regulamentar. Os reguladores podem considerar a imposição de regulamentos mais rigorosos, tais como embalagens normalizadas, novas restrições à comercialização, ou mesmo limites de potência, especialmente se a natureza cada vez mais recreativa do mercado continuar a emergir.
Na América do Norte, a corrida à potência tem por vezes ofuscado as considerações de qualidade, com escândalos de compras em laboratórios, e o Reino Unido poderá enfrentar desafios semelhantes. Embora existam normas de Boas Práticas de Fabrico (GMP) para manter a qualidade do produto, um foco excessivo no conteúdo de THC pode desviar a atenção de outros fatores críticos dos cuidados prestados aos doentes.
Educar os doentes e os prescritores sobre factores como os perfis de terpenos, o sabor e o aroma poderia promover uma apreciação mais matizada das variedades de canábis, afastando-se de um foco singular no conteúdo de THC. Para os fornecedores, isto representa uma oportunidade de obter uma vantagem competitiva, oferecendo produtos inovadores e bem diferenciados, seja através de estirpes únicas, conteúdo optimizado de terpenos ou novos formatos de entrega. À medida que o mercado evolui, a inflacção do THC pode dar lugar a uma abordagem mais equilibrada, onde coexistem qualidade, diversidade e potência.
Neste cenário em evolução, as empresas que equilibram o poder com a qualidade geral, a inovação e as opções centradas no doente provavelmente prosperarão. O futuro do mercado da canábis no Reino Unido e do mercado global da canábis em geral poderá eventualmente reflectir este equilíbrio, com produtos mais diversificados e completos, que satisfaçam as necessidades mais amplas dos doentes e as novas exigências da indústria.
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Esta análise foi originalmente publicada por Arnau Valdovinos no Cannamonitor e editada para o CannaReporter®, com tradução e revisões de Laura Ramos. As informações partilhadas baseiam-se no último relatório da Cannamonitor, que oferece uma visão abrangente das tendências em evolução no mercado de canábis medicinal do Reino Unido a partir de dados de prescrição disponibilizados pela NHS BSA.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Arnau Valdovinos
Como fundador e consultor principal da Cannamonitor, Arnau liga os pontos da cadeia global de fornecimento de canábis através de uma visão independente do mercado internacional. Defensor da reforma das políticas de drogas com base em evidências, Arnau fornece, desde 2018, inteligência e aconselhamento prático a empresas medicinais, recreativas e de CBD em 5 continentes e 19 países.
