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Crónica

“O cânhamo pode tornar-se numa oportunidade para as novas gerações de agricultores”

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Uma das imagens relativas ao cânhamo no Museu de Riachos, em Torres Novas. Foto: D.R.

O Museu Agrícola de Riachos, fundado em 1989 com o propósito de preservar as memórias da comunidade riachense ligada à agricultura, inclui um importante espólio ligado à cultura do cânhamo. O museu tem centenas de peças agrícolas e é visitado todos os anos por mais de duas mil pessoas. Riachos, no concelho de Torres Novas, era uma terra agrícola com uma economia muito dependente do sector primário. Luís Mota Figueira, director técnico do museu, escreveu um texto que foi publicado em 2021 na CannaDouro Magazine e que explica a ligação da região ao cânhamo.

Somos um museu comunitário. Com a devida vénia, respigo de um texto do Antropólogo André Lopes o seguinte excerto: “Existe no Museu Agrícola de Riachos (MAR), no Ribatejo, um espólio completo sobre a produção do cânhamo na região, composto por objectos e ferramentas (gramadeiras, espadelas, plantas) e documentação (fotografias, trabalhos académicos, publicações oficiais e revistas). (…) Nos 34 anos da campanha, o Ribatejo produziu 90% do cânhamo nacional, nas margens do Almonda e do Tejo, nos concelhos de Torres Novas e Golegã. As varas de cânhamo existentes no MAR, semeadas há umas boas décadas nas várzeas do Almonda, são de uma robustez impressionante: com mais de 3 metros são exemplares únicos para a memória do labor das árduas tarefas daquela cultura. Apesar de profícua, a lavoura do cânhamo foi a mais marcante nos corpos dos trabalhadores riachenses, como alguns ainda hoje testemunham: ”Aquilo não era para cachopos”. Assim era descrita esta cultura agrícola no Jornal “Riachense” de 9 de maio de 2009. 

O Jornalista Manuel Fernandes Vicente referia, a 9 de agosto de 2013, no Jornal Torrejano  alguns aspectos do  “I Encontro Nacional de Canhameiros – Amigos do Cânhamo” ocorrido no MAR. Enumerava a presença de “(…) cerca de duas dezenas de participantes.”, avançando que, “Segundo um jovem agricultor que veio do Algarve ao encontro no museu de Riachos, a produção de cânhamo pode tornar-se economicamente interessante. Mas, para isso, há que ir mais além do que a simples produção de fibra de cânhamo, que ao ser vendida no estrangeiro, traz receitas exíguas, que mal compensam todos os custos de produção e comercialização da cultura. A produção do cânhamo, contextualizada com tecnologias adequadas, pode revalorizar-se, integrando a nova economia agrária.

O MAR observa este processo, oferece a interpretação histórico-etnográfica, e está disponível para funcionar como uma «porta de entrada» a favor da reabilitação desta cultura agrícola. O cânhamo pode, agora com impactos minimizados, tornar-se numa nova oportunidade para as novas gerações de agricultores. Eles serão os herdeiros dos saberes dos “Canhamicultores”,  designação dada pelo Historiador de Torres Novas, Joaquim Rodrigues Bicho, aos agricultores de cânhamo empreendedores dos anos 40 a 70 do século passado. 

Joaquim Lopes Santana e Manual Carvalho Simões são riachenses que, entre outros, também nos oferecem informações disponíveis nas suas descrições publicadas. Natércia Santos e Cecília Baptista, Investigadoras do Instituto Politécnico de Tomar produziram informação científica em parceria com o MAR, disponibilizando hipóteses de mais aplicações em produtos derivados desta cultura. Dentro das dinâmicas que unem as Pessoas, os seus Territórios e as suas Organizações, o MAR, ao apresentar narrativamente a Colecção “O Cânhamo” utiliza os saberes dos que os partilharam connosco e já não estão entre nós. Porém, também resgata os saberes dos Agricultores, das Casas Agrícolas e dos Investigadores, usando documentos de arquivo, conhecimentos orais e dados credibilizados pela investigação politécnica. O NESTMAR – Núcleo de Estudos  do MAR, agrega esta componente científica. 

O conjunto patrimonial sobre a cultura do cânhamo (material e imaterial), suscitando questionamentos, promove a procura de respostas. A rede de parceiros e a sua participação museológica integra-se nessa defesa dos valores culturais credibilizados e, por isso, encontramos, associada a esta cultura, a colaboração do movimento associativo, empresarial, científico e social. A função social do museu liga Tradição e Contemporaneidade, de modo inclusivo, gerando maior literacia patrimonial. Salvaguardar o património, evocando gerações antigas para servir as gerações presentes e futuras, é a nossa Missão.

Da visão retida em https://cannadouro.pt/magazine/ e seguindo a ideia de que “A CANNADOURO MAGAZINE visa promover a divulgação e utilização do cânhamo agro-industrial enquanto recurso e matéria-prima para uma vivência mais ecologicamente sustentável, contribuindo para a descarbonização da sociedade e  adopção de hábitos de consumo mais ecológicos, recuperando o papel histórico de relevo que o cânhamo já ocupou antes da era petro-quimica”, clarificamos o nosso posicionamento. Acreditamos que a iniciativa da revista é merecedora de atenção e colaboração do MAR disponibilizando-nos, dentro das nossas competências, para nos associarmos ao caminho conjunto na valorização do Cânhamo.
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Este texto foi originalmente publicado na CannaDouro Magazine.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Luís Mota Figueira
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Director Técnico do Museu Agrícola de Riachos, em Torres Novas
lmota@ipt.pt 

 

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