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Cânhamo

David Gang: “Acredito que o cânhamo deve ser visto como uma indústria global gerida localmente”

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Com um doutoramento em Fisiologia/Bioquímica de Plantas pela Washington State University, David Gang tem focado a sua investigação no metabolismo especializado das plantas, explorando a biossíntese de metabolitos em plantas aromáticas e medicinais, incluindo o cânhamo.

Professor no Instituto de Química Biológica da Washington State University (WSU) e director do Centro para Políticas, Investigação e Extensão sobre Canábis (CCPRO) nos Estados Unidos. Gang fundou o Laboratório de Imagem de Tecidos, Metabolómica e Proteómica (TIMPL) na WSU, contribuindo significativamente para a compreensão da química biológica das plantas.

Nesta entrevista, Gang discute o impacto da legalização do cânhamo nos Estados Unidos, destacando a aprovação do Farm Bill em 2018, que permitiu o cultivo e a investigação da planta. O investigador descreve os desafios enfrentados na selecção de variedades adequadas para cultivo, dada a ausência de um catálogo nacional, e a necessidade de reconstruir a infraestrutura de processamento de cânhamo no país. Gang enfatiza a importância da cooperação internacional, especialmente com países europeus como a França, para revitalizar a indústria do cânhamo nos EUA. Além disso, salienta a necessidade de desenvolver uma indústria global de cânhamo gerida localmente, promovendo a colaboração e a partilha de conhecimento entre nações.

Falámos com David Gang em Novembro, em França, no World Hemp Forum.

O Professor e investigador da Washington State University, David Gang, no World Hemp Forum, em França. Foto: António João Costa | CannaReporter®

Ontem tivemos a oportunidade de assistir à sua apresentação, que foi extremamente interessante devido ao trabalho que têm desenvolvido, tanto na América como com muitas variedades europeias. Gostaria de saber um pouco mais sobre o que faz e há quanto tempo está envolvido nesta área.

Sim, trabalho na Washington State University, localizada no estado de Washington, no noroeste dos Estados Unidos. Comecei a trabalhar com cânhamo assim que foi legalizado no país. Em 2018, tivemos uma mudança na legislação conhecida como Farm Bill, que legalizou o cânhamo para diversos fins. Após isso, cada estado teve que ajustar sua legislação local. Comecei a trabalhar com agricultores em 2019 e, em 2020, passámos a trabalhar diretamente com a planta, pois levou algum tempo até recebermos todas as aprovações necessárias. Antes disso, já tinha experiência com a análise de canabinóides através de uma licença da DEA, mas era um propósito diferente, ainda que relacionado com a mesma espécie.

Quando a legalização aconteceu, a investigação universitária começou devido ao interesse da indústria?

Sim, formámos uma parceria com a Oregon State University, que mencionei na minha apresentação. Eles são grandes parceiros e têm mais pessoas interessadas no cânhamo do que nós na nossa universidade. O objectivo da investigação é desenvolver a indústria do cânhamo na nossa região, identificando o que é necessário para apoiar o sector, desde as variedades que melhor se adaptam ao nosso território até aos processos de transformação e análise. Isso inclui determinar quais propriedades das fibras são ideais para diferentes produtos, como têxteis ou materiais de construção, e quais produtos têm maior potencial na nossa área.

Desde a aprovação da Farm Bill, como foi o processo de selecção de variedades nos EUA? Tinha algum catálogo disponível?

Não havia qualquer catálogo nos Estados Unidos, uma vez que o cultivo de cânhamo era completamente ilegal antes disso. Tínhamos de obter as variedades e sementes de onde fosse possível. Felizmente, pouco tempo depois, variedades francesas ficaram disponíveis através de fornecedores, bem como algumas variedades de Itália, Hungria e Polónia, que funcionaram muito bem na nossa região. Também testámos algumas variedades chinesas, mas não se adaptaram tão bem.

“Toda a infraestrutura para a transformação do cânhamo desapareceu e agora temos de reconstruí-la do zero”

E foi possível encontrar sementes antigas ou patrimoniais do cânhamo nos EUA?

É muito difícil encontrar essas sementes, pois grande parte foi destruída quando o cânhamo foi proibido no país. Nos EUA, costumávamos ter uma coleção de germoplasma, mas também foi destruída. Agora, estamos a reconstruí-la com o apoio de pessoas que guardaram sementes em segredo ou que as trouxeram de outras partes do mundo nos últimos anos. Também existem variedades selvagens, conhecidas como ‘ditch weed’, que ainda crescem no leste dos Estados Unidos.

Quais têm sido os maiores desafios para a indústria do cânhamo nos EUA?

Toda a infraestrutura para a transformação do cânhamo desapareceu e agora temos de reconstruí-la do zero. No entanto, o cenário está a mudar: há seis anos, não existia qualquer transformador nos EUA. Há cinco anos, havia apenas um. Há um ano e meio, eram duas dúzias, e agora já existem cerca de 30. É um progresso significativo. Muitas pessoas, incluindo eu, vêm à Europa para aprender como desenvolver a indústria do cânhamo, observando especialmente o modelo francês, que é um líder neste sector.

Qual é a sua visão para o futuro da indústria do cânhamo?

Acredito que o cânhamo deve ser visto como uma indústria global gerida localmente. Precisamos de cooperação internacional para aprender uns com os outros, melhorar práticas e partilhar os benefícios do cânhamo para a sociedade e o meio ambiente. O modelo de cooperativismo, como o praticado na França, é uma lição valiosa que pode ser adaptada a outras regiões.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Sou um dos directores do CannaReporter, que fundei em conjunto com a Laura Ramos. Sou natural da inigualável Ilha da Madeira, onde resido actualmente. Enquanto estive em Lisboa na FCUL a estudar Engenharia Física, envolvi-me no panorama nacional do cânhamo e canábis tendo participado em várias associações, algumas das quais, ainda integro. Acompanho a industria mundial e sobretudo os avanços legislativos relativos às diversas utilizações da canábis.

Posso ser contactado pelo email joao.costa@cannareporter.eu

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