Economia
Marrocos afirma o seu potencial estratégico na indústria internacional de canábis

Marrocos continua a destacar-se como um dos principais actores globais no sector da canábis legal, com uma produção a atingir 4.082 toneladas em 2024, de acordo com a Agência Nacional de Regulação da Canábis (ANRAC). As 3.371 licenças emitidas pela ANRAC em 2024, comparadas com apenas 430 licenças no ano anteriorm, reflectem o aumento expressivo e os esforços do governo em consolidar uma indústria formal e sustentável. Com o objectivo de capturar uma fatia do mercado global de canábis, estimado em biliões de dólares, o Reino de Marrocos tem investido em infraestrutura, regulamentação e exportações direccionadas, especialmente para mercados medicinais e industriais.
A legalização da canábis também está a transformar a paisagem socio-económica das regiões rurais, particularmente no Rif, onde a planta é cultivada há séculos. Ao formalizar o sector, o governo de Marrocos pretende integrar os pequenos agricultores em cadeias de valor globais, oferecendo-lhes oportunidades antes inexistentes. A ANRAC está focada em transformar esta riqueza agrícola num motor económico que pode vir a assumir uma importância crucial para a economia do país.

Campo de canábis em Marrocos. Crédito: SóBonsFumos
Aproveitando sua tradição agrícola e a proximidade com o mercado europeu, a legalização da canábis não só beneficia o mercado doméstico, mas também representa uma oportunidade de exportação lucrativa.
No ano passado, a ANRAC analisou um total de 4.158 pedidos de licenciamento, tendo aprovado 3.371, anunciou o HESPRESS, . Desses, 3.056 licenças foram atribuídas a 2.907 agricultores para o cultivo e produção de canábis, representando um aumento significativo em relação às 430 licenças emitidas em 2023.
Adicionalmente, foram emitidas outras 315 licenças para 158 operadores envolvidos em várias actividades da indústria da canábis, tais como 77 licenças de processamento, 83 para comercialização, 67 para exportação, 35 para importação de sementes, 50 para transporte, uma para exportação de sementes e duas para a criação e operação de viveiros.
Os 158 operadores licenciados no sector incluem diversas entidades: 35 cooperativas, 87 empresas e 36 operadores individuais.
O governo marroquino parece estar a tentar apoiar também a participação dos agricultores e a implementação de procedimentos regulamentares para a utilização das sementes locais ‘Boujdour’, criando programas de financiamento para pequenos agricultores e a organização de missões de exploração de mercado para promover estes produtos a nível internacional.
Segundo a ANRAC, citada pelo HESPRESS, a produção nacional de canábis em 2024 foi repartida entre 2.786,7 toneladas de variedades locais com um rendimento médio de 17 quintais por hectare, e 1.295,7 toneladas de variedades importadas com um rendimento médio de 28 quintais por hectare.
A agência marroquina confirmou ainda que, em 2024 aprovou a importação de 7,6 milhões de sementes de canábis, com base em 30 licenças de importação concedidas pelo Gabinete Nacional de Segurança Alimentar (ONSSA) a 21 importadores. Além disso, a ANRAC concedeu uma licença para a utilização de 1.717 quintais de sementes de canábis locais, com base em 112 licenças emitidas pela ONSSA para 112 cooperativas.

Foto: D.R.
Redução do crime e impacto na segurança
O Ministério do Interior de Marrocos anunciou em 2024 que, nos últimos 20 anos, houve uma redução de 79% das áreas cultivadas com canábis ilegal.
Num relatório apresentado por Abdelouafi Laftit, Ministro do Interior, à Câmara dos Representantes, o ministério afirmou que “estas áreas diminuíram de 134.000 hectares em 2003 para 27.148 hectares em 2023”, confirmando que as agências de segurança continuam os seus esforços para combater o tráfico internacional de droga.
Desde que a ANRAC iniciou a regulamentação do sector da canábis, Marrocos está a verificar impactos positivos na segurança pública. Um relatório da Direcção Geral de Segurança Nacional indica que houve redução dos casos de tráfico de droga e de crimes associados em 2024. Esta queda é atribuída à formalização e regulamentação da indústria, que desviou uma parte significativa da produção de redes ilegais para mercados controlados pelo governo.
Além disso, os controlos rigorosos impostos pela ANRAC garantem que o sector opera dentro de padrões legais e mais éticos, na tentativa de promover maior transparência e credibilidade para a indústria. Para as comunidades rurais, onde a canábis sempre foi uma economia paralela, a regulamentação trouxe estabilidade e maior integração com a economia formal.
Diversificação de produtos: a aposta no cânhamo
Marrocos não está apenas focado na produção de flores de canábis com THC, mas também na diversificação da indústria através de produtos derivados do cânhamo. De acordo com o jornal HESPRESS, o país lançou 12 novos suplementos alimentares à base de cânhamo, incluindo óleos e cápsulas, destinados tanto ao mercado local quanto ao internacional.
Estes produtos são ricos em canabidiol (CBD) e também outros canabinóides não psicoactivos e estão a posicionar Marrocos como uma potência em mercados de saúde e bem-estar, a par da Tailândia, países que continuam a crescer na indústria da canábis e que poderão vir a tornar-se duas potências a nível global. Esta diversificação é um marco estratégico para adicionar valor ao cultivo e gerar receitas adicionais para os agricultores e investidores em Marrocos.
Agricultores apoiam fiscalização e revogação de licenças
Para garantir a sustentabilidade e a credibilidade do sector emergente marroquino, a ANRAC tem implementado medidas rigorosas contra os operadores que não cumpram os padrões regulamentares. Segundo o HESPRESS, a agência anunciou recentemente que revogará as licenças de empresas que não estejam em conformidade, reforçando o compromisso de manter o mercado marroquino ético e transparente.
Estas acções têm sido amplamente apoiadas pelos agricultores, que muitas vezes enfrentavam concorrência desleal de investidores fraudulentos. A eliminação de operadores que não seguem as normas é vista como uma medida essencial para proteger a reputação do país e atrair investidores legítimos.
Mas apesar dos avanços, o sector da canábis em Marrocos ainda tem alguns desafios pela frente. Os agricultores têm relatado dificuldades com o excesso de produção e a baixa procura do mercado interno, o que tem pressionado os preços baixos. A desconexão entre a oferta e a procura tem deixado muitos produtores em situação financeira delicada, mesmo com as promessas iniciais dos benefícios económicos da legalização.
Para fazer frente a este problema, as associações de agricultores estão a pressionar o governo a expandir os mercados de exportação e a facilitar o acesso dos consumidores em Marrocos aos produtos legais. A expansão para mercados europeus, especialmente na área medicinal, é vista como uma solução viável para equilibrar a oferta e a procura.

Foto: Marcel Favery | Social Weed
Pressão pela legalização recreativa
Embora Marrocos tenha legalizado a canábis para fins medicinais e industriais, há uma crescente pressão dos agricultores para que o uso recreativo também seja regulamentado. De acordo com a Newsweed, os cultivadores legais estão a enfrentar dificuldades para competir com os preços da canábis ilegal, que ainda domina grande parte do mercado doméstico, e procuram integrar na sua economia o uso adulto (ou recreativo) de canábis.
A regulamentação da canábis recreativa poderia aumentar a procura por produtos locais e trazer benefícios económicos adicionais, tanto para o governo quanto para os agricultores. Contudo, o governo ainda não se pronunciou sobre quaisquer planos concretos nesse sentido, mantendo o foco na regulamentação medicinal e industrial.
A legalização da canábis em Marrocos não é apenas uma questão interna. É também uma jogada estratégica para capturar uma fatia do mercado global. As maiores consultoras mundiais estimam que o mercado internacional de canábis possa alcançar mais de 90 biliões de dólares até 2026. Marrocos está bem posicionado para se tornar um fornecedor-chave, especialmente para os países da Europa.
O futuro da indústria da canábis em Marrocos parece promissor, mas o seu sucesso dependerá também de como o governo irá gerir os desafios que se apresentam na actualidade. O equilíbrio entre a regulamentação, o apoio aos agricultores e a exploração de novos mercados será crucial para consolidar a posição de Marrocos como líder global no sector da canábis legal.
Surpreendentemente, com esforços contínuos para expandir os seus mercados, diversificar produtos e fortalecer a regulamentação do sector, Marrocos está a criar um modelo que pode servir de referência para outros países em vias de legalização. Em Marrocos, a indústria da canábis não é apenas uma oportunidade económica, pode ser também uma ferramenta de transformação social e desenvolvimento sustentável.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do 21º Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “Say What? Lisbon” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
