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Ciência

O que é o HHC e que efeitos pode ter na saúde dos humanos?

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O HHC (hexahidrocanabinol) é um canabinóide que pode ser tanto natural quanto semi-sintético, dependendo da forma como é obtido. Apesar de existir em pequenas quantidades nas plantas de canábis, ele é extremamente raro, sendo principalmente um subproduto da degradação do THCA. No entanto, a quantidade é tão pequena que a extracção directa não é viável comercialmente. Assim, a maioria do HHC que está à venda no mercado é produzido em laboratórios, a partir do CBDA derivado do cânhamo, tornando-o num canabinóide semi-sintético. O processo envolve a hidrogenação, onde átomos de hidrogénio são adicionados ao THCA ou ao CBDA, alterando a sua estrutura química. Em consequência, o consumo de HHC apresenta riscos para a saúde que é importante ter em conta.

Na maioria das pessoas, o HHC tem efeitos semelhantes aos do THC, mas a falta de estudos sobre sua segurança e os possíveis contaminantes na sua produção são os grandes motivos de preocupação. Em algumas pessoas, esses efeitos podem ser menos previsíveis do que os do THC tradicional e provocar sintomas mais graves, como ansiedade, paranóia, tonturas, confusão, sedação e até dificuldades respiratórias.

Apesar de ainda não existirem muitos estudos científicos aprofundados sobre os efeitos a longo prazo da utilização de HHC, existem algumas preocupações potenciais com seu consumo, o que levou já vários países a proibir a sua comercialização. Desta forma, e até que haja mais investigação, o consumo deve ser feito com cautela e preferencialmente com produtos de fontes confiáveis.

Possíveis riscos do HHC para a saúde

  1. Falta de estudos clínicos
    Ainda não há estudos suficientes para determinar os efeitos a longo prazo no organismo e desconhece-se a sua toxicidade e interacções com outros medicamentos.
  2. Efeitos psicoactivos
    O HHC tem efeitos semelhantes aos do THC, mas em algumas pessoas os sintomas podem ser mais graves e intensos.
  3. Origem e pureza dos produtos
    Geralmente, o HHC disponível no mercado é produzido em laboratório, através da hidrogenação do CBDA, um processo que pode envolver solventes e metais catalisadores. Estes metais aceleram reacções químicas sem serem consumidos no processo e se não forem bem purificados, os resíduos podem permanecer no produto final e apresentar riscos para a saúde. Por isso, a pureza do HHC e de outros compostos sintéticos deve ser rigorosamente controlada. A qualidade e a segurança do produto final dependem também do fabricante. Tendo em conta que a maioria destes produtos são feitos na China, há uma forte possibilidade de eles serem mal purificados e poderem conter resíduos químicos prejudiciais.
  4. Riscos cardiovasculares
    A hidrogenação pode alterar a forma como o corpo metaboliza o canabinóide, aumentando riscos como alterações na pressão arterial e frequência cardíaca.
  5. Legalidade e falta de regulamentação
    Em muitos países, o HHC não está bem regulamentado, o que significa que os produtos podem conter impurezas ou concentrações inconsistentes.

Que produtos com HHC existem no mercado?

A grande maioria do HHC disponível no mercado é produzida em laboratório, através da hidrogenação do CBDA derivado do cânhamo, e pode ser encontrado em diversas formas, incluindo:

  • Óleos e tinturas, para consumo oral ou sublingual;
  • Vapes e cartuchos, um dos formatos mais populares, usado para inalação;
  • Comestíveis (gomas, chocolates, bebidas), uma forma de consumo mais discreta, mas com um efeito mais intenso e prolongado;
  • Flores e resinas, as flores de cânhamo são pulverizadas com HHC, para imitar o efeito do THC, e depois fumadas ou vaporizadas.

Onde se vende?

  • Lojas de CBD e headshops: Em países onde a legislação permite, como nos EUA e algumas partes da Europa;
  • E-commerce: Muitas lojas vendem HHC online, principalmente nos países onde não há restrições legais;
  • Mercado ilícito: Em locais onde a legalidade é incerta, há sempre um mercado paralelo, quase sempre sem qualquer garantia ou controlo de qualidade.

Países onde o HHC está disponível 

A legalidade do HHC ainda está a ser debatida em muitos países e não existe uma regulamentação clara na maioria deles. Normalmente, a legislação é omissa nesta questão, por se tratar de um composto relativamente recente.

Actualmente, o HHC é encontrado em vários estados dos Estados Unidos da América e em alguns mercados ainda não regulamentados, como Portugal, Alemanha, Itália, Suíça, Reino Unido e Espanha.

Contudo, em Março, a Comissão das Nações Unidas para os Estupefacientes (CND) vai decidir se classifica ou não o HHC na Tabela II da Convenção das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas. A posição a favor da União Europeia já foi confirmada, o que representa uma alteração significativa na regulamentação internacional. Se o HHC for incluído na lista, enfrentará restrições regulamentares generalizadas, algumas imediatas e outras que se desenvolverão ao longo do tempo.

Países que proibiram o HHC

O HHC tem sido alvo de proibições em diversos países, devido a preocupações com a saúde pública e potenciais riscos associados ao seu consumo. Entre os países que já proibiram o HHC encontram-se os seguintes:

  • Áustria: Proibiu o HHC em 23 de Março de 2023, através de uma emenda à Nova Portaria de Substâncias Psicoactivas (NPSV).
  • França: A Agência Nacional de Segurança do Medicamento e Produtos de Saúde (ANSM) anunciou a proibição da produção, venda e uso do HHC e de dois dos seus derivados, HHCO e HHCP, a partir de 13 de Junho de 2023, devido à falta de estudos científicos sobre sua segurança.
  • Suécia: Implementou a proibição do HHC a 11 de Julho de 2023, considerando-o uma substância psicoactiva não regulamentada.
  • Luxemburgo: No dia 1 de Agosto de 2023, o Ministério da Saúde anunciou que o HHC seria regulamentado, alargando a sua lista de substâncias psicotrópicas para incluir todos os “agonistas sintéticos dos receptores canabinóides” e “canabinomiméticos sintéticos”, abrangendo os canabinóides semi-sintéticos como o HHC.
  • Lituânia: Proibiu o HHC a 23 de Novembro de 2022.
  • Eslovénia: Implementou a proibição do HHC a 15 de Novembro de 2023.
  • República Checa: A proibição do HHC entrou em vigor a 6 de Março de 2024.
  • Alemanha: O fabrico e a venda de produtos contendo HHC e outros canabinóides sintéticos foram proibidas a 27 de Junho de 2024. No entanto, a posse e o consumo desses produtos permanecem legais.
  • Polónia: Proibiu o HHC a 14 de Abril de 2023.
  • Finlândia: Classificou o HHC como uma substância psicotrópica, tornando ilegal o seu fabrico, importação, venda, transporte e armazenamento.
  • Bélgica, Dinamarca e Reino Unido também já anunciaram a intenção de proibir a comercialização do HHC.

É importante notar que a legislação referente ao HHC está em constante evolução e outros países podem implementar restrições ou proibições no futuro.

Estudos e pesquisa com HHC

Não existem ainda muitos estudos que possam garantir a segurança ou confirmar os perigos do HHC. No entanto, já foram publicados alguns artigos científicos sobre o Hexahidrocanabinol. Embora a pesquisa ainda seja limitada, alguns estudos recentes investigaram as suas propriedades químicas, farmacológicas e potenciais efeitos biológicos.

1. “Hexahydrocannabinol (HHC) and Δ9-tetrahydrocannabinol (Δ9-THC) driven activation of cannabinoid receptor 1 results in biased intracellular signaling“, de 2024
Este estudo analisa as diferenças estruturais e farmacológicas entre o HHC e o Δ9-THC, destacando como pequenas modificações na estrutura química podem influenciar a estabilidade e as características farmacológicas dos canabinóides.

2. “Studies Pertaining to the Emerging Cannabinoid Hexahydrocannabinol (HHC)“, de 2023
Esta pesquisa foca-se em dois isómeros do HHC, (9R)-HHC e (9S)-HHC, avaliando as suas afinidades de ligação aos receptores canabinóides e actividades funcionais. Os resultados indicam que o (9R)-HHC possui afinidade e actividade semelhantes às do Δ9-THC, enquanto o (9S)-HHC apresenta actividade funcional reduzida.

3. “The Semisynthetic Cannabinoid Hexahydrocannabinol (HHC)“, de 2023
Este artigo discute a emergência do HHC no mercado europeu, especialmente na Suíça, onde surgiu no início de 2022. O estudo aborda a síntese semi-sintética do HHC a partir do CBD e as suas propriedades psicoactivas.

Embora estes estudos forneçam alguns insights iniciais sobre o HHC, é importante notar que a pesquisa sobre este canabinóide ainda está em estágios iniciais. Mais investigações são necessárias para compreender completamente seus efeitos, segurança e potenciais aplicações terapêuticas.

De qualquer forma, Ethan Russo, um dos mais experientes médicos e investigadores do mundo e uma referência na área da canábis medicinal, com formação em neurologia e psicofarmacologia, alertou que “os canabinóides sintéticos são 10 a 100 vezes mais potentes que o THC” e podem causar danos irreversíveis na saúde e mesmo causar a morte”. Numa entrevista exclusiva ao CannaReporter®, Ethan Russo explicou que “o facto de estas coisas estarem a ser fabricadas é um subproduto da proibição. A maior parte destas substâncias não aparece nas análises à urina”, disse, justificando o motivo pelo qual são procuradas.

Como é que os canabinóides sintéticos actuam no nosso corpo?

Ethan Russo explicou ao CannaReporter® que os canabinóides sintéticos que têm estado disponíveis são, de um modo geral, “agonistas completos do receptor CB1”, em contraste com o THC natural da planta. “O THC é o que se chama um agonista parcial fraco. Agora, deixe-me explicar o que acabei de dizer: se pensarmos nos receptores como fechaduras e na substância como a chave, queremos um bom ajuste. Com o THC, esta é uma ligação fraca. E é assim que a natureza funciona. O THC é como a anandamida, que também é um agonista parcial fraco, enquanto que estes canabinóides sintéticos se ligam de modo extremamente forte [aos receptores] e por isso são o que eu chamo de agonistas totais. Muitas vezes podem ser 10 a 100 vezes mais potentes que o THC. Portanto, desde logo, isto é demasiado. Tal como um excesso de THC produz paranóia, ansiedade, ritmo cardíaco acelerado, estes são muito piores, porque não só afectam o receptor CB1, como também têm frequentemente aquilo a que se chama efeitos ‘fora do alvo’.  Alguns destes canabinóides sintéticos podem ser directamente tóxicos para o coração, o fígado ou os rins.

Russo considerou ainda que “devido à proibição, há pessoas a morrer pela exposição a canabinóides sintéticos perigosos. Por isso, na verdade, eles não deviam existir e a necessidade está a ser perpetuada pelas leis e apenas pelas leis”.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do XXI Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” em 2018 e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

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