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Entrevistas

Alan Dronkers: “A HempFlax está a produzir a fibra mais limpa da Europa (…) mas tem de passar para o próximo nível”

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Alan Dronkers na Asia International Hemp Expo & Forum, em Bangkok, 2024. Foto: Laura Ramos | CannaReporter®

Poucos nomes têm tanto peso no mundo do cânhamo e da canábis como o da família Dronkers. Desde o seu pioneirismo na genética de sementes até à preservação da rica história da planta, os seus contributos foram fundamentais para moldar a indústria da canábis como a conhecemos hoje. No centro deste legado está Alan Dronkers, 57 anos, um visionário profundamente envolvido no cultivo de cânhamo, na sustentabilidade e na inovação. Filho de Ben Dronkers e um dos fundadores da HempFlax, uma das mais antigas e principais empresas de cânhamo da Europa, Alan dedicou décadas a explorar todo o potencial das aplicações industriais, benefícios ambientais ou agricultura regenerativa com esta planta.

O seu pai, Ben Dronkers, com quem também já falámos para o CannaReporter®, fundou a Sensi Seeds e o Hash Marihuana & Hemp Museum (em Amesterdão e também Barcelona), tornando o nome Dronkers sinónimo de preservação e progresso no movimento global da canábis.

Em reconhecimento da sua dedicação ao longo da vida à investigação e defesa do cânhamo, Alan recebeu um doutoramento honoris causa da Universidade de Rajabhat, em Chiang Mai, na Tailândia, uma prestigiada instituição conhecida pela sua excelência agrícola. Esta homenagem sublinha o seu profundo impacto na indústria global do cânhamo e destaca o crescente interesse académico e científico pelo potencial da canábis, algo a que Alan Dronkers se dedica agora: transmitir o conhecimento e a história da canábis e do cânhamo às gerações futuras.

Estivemos à conversa com Alan Dronkers durante a Asia International Hemp Expo & Forum, em Novembro de 2024, em Bangkok e ficámos a saber mais sobre o seu percurso de vida e as intenções da sua família para vender a HempFlax, de maneira a que possa avançar para o próximo nível.

Alan, a minha primeira pergunta é pura curiosidade sobre como foi crescer sendo filho do Ben Dronkers? 

Muito especial, porque não há muita gente que tenha um pai assim. De certa forma, ele estava a fazer algo que a maior parte do mundo via de um modo muito negativo, por isso, por vezes, também não era fácil. Obrigou-me, desde muito novo, a aprender que a ciência, por exemplo, nem sempre é real ou verdadeira. De facto, a ciência está corrompida. Não se pode confiar na ciência. Aprendi isso quando tinha 17 anos ou algo do género. Se havia problemas com o Ben e as autoridades, tinha de ir falar com o Presidente da Câmara, para tentar fazer avançar as coisas. Mas, para mim, começou realmente quando me envolvi com as sementes e com o Museu. E também no Museu, se tivermos de olhar para qualquer argumento, foi isso que aprendi: para compreender realmente o argumento, temos sempre de ler o que o outro lado da história está a dizer. Se não olharmos, lermos ou compreendermos o que o outro lado está a tentar dizer, como é que podemos descobrir o que pode ser real? Por isso, também para mim (e foi sempre assim), este modo de vida colocou-me numa situação em que não confio em tudo de imediato. Quero sempre ver o que os diferentes lados da perspectiva estão a dizer e só depois é que se pode formular o que se pensa ser real.  E não precisa de ser canábis. No fim de contas, tudo é assim.  Por isso, acho que, por causa do meu pai e da minha situação de vida, fui forçado a defender diferentes posições em relação à canábis desde muito novo. Mas só se pode fazer isso se se compreender realmente todos os argumentos dos diferentes pontos de vista. 

Alan Dronkers recebeu um doutoramento honoris causa da Universidade de Rajabhat, em Chiang Mai, na Tailândia. Foto: D.R. | theartofmaryjanemedia.com

A canábis esteve sempre presente na sua vida, certo? Mas lembra-se de quando foi a primeira vez que percebeu realmente do que era esta planta?  

Sim. Bem, uma história engraçada é que também me lembro de quando não sabia, acho eu. Tinha talvez oito anos, ou algo do género, era muito novo. E o meu pai disse-me ‘sim, eu fumo haxixe aqui, mas as pessoas não percebem. Por isso, não se fala sobre isso, sabes?’  No dia seguinte fui para a escola e falei com o meu melhor amigo e disse-lhe que sim, que o meu pai fumava haxixe. E ele perguntou-me o que era isso e eu disse que não sabia. Ainda me lembro disso… Mas sim, também comecei a perceber a forma como a sociedade encarava este assunto numa idade mais avançada, e eu ainda era muito novo – 16, 17 anos, quando comecei a ouvir os diferentes argumentos, as diferentes ideias políticas e, no final, também a diferença na ciência. E o engraçado é que, mesmo há muito, muito tempo, os meios de comunicação social faziam o mesmo que fazem hoje: repetem a mesma mensagem o tempo todo, as mesmas palavras, até, para programar as pessoas, e as pessoas não entendem realmente, sabe? Até compram pasta de dentes porque pensam que torna os dentes brancos. E não se apercebem de que foram programadas, porque há anúncios todos os dias na televisão que nos dizem que esta coisa torna os dentes brancos. Inconscientemente, estamos programados. Sim, somos manipulados. E acontece a mesma coisa no que diz respeito à propaganda, em que dizem às pessoas o que pensar, não só o que pensar, mas também o que dizer às pessoas que duvidam da ideia estabelecida. Por isso, vejo muito deste tipo de coisas e a única razão pela qual vejo isso é porque cresci com um pai assim.

“Estamos a tentar vender a HempFlax, para que possa haver dinheiro a entrar na empresa novamente, para chegarmos a este nível de solidez no futuro”

E ainda se lembra do que queria ser quando crescesse?  

Sim, lembro-me. Durante muito tempo, quis ser arqueólogo. Tenho uma paixão pela História.  Mas, por outro lado, o que é bom é que, por causa do Museu, pude entrar na história da canábis e do cânhamo, o que foi uma bela aventura na vida para aprender todas estas coisas. 

E foi para a universidade ou começou logo a trabalhar?

Recebi um doutoramento honorário aqui na Tailândia, na Universidade de Rajabhat, em Chiang Mai. Tenho muita sorte em ser um doutor honorário. Isso é muito bom. Mas sim, sempre ensinei por causa dos Museus em Amesterdão e Barcelona. Nos primeiros 30 anos só tínhamos um – o de Amesterdão. E havia sempre pessoas que queriam aprender coisas. Vieram cá escolas, pessoal da polícia, do governo, o que fosse. Havia sempre pessoas que queriam aprender, por isso, parte do que eu faço é muito disto. E, especialmente na Tailândia, não tenho estado a trabalhar, mas tenho falado com muitas pessoas, visitado muitas universidades e, de certa forma, posso ensinar e ajudar muitas pessoas daqui. 

Cresceu nos Países Baixos. 

Sim. 

Por que é que se mudou para a Tailândia? Já vive aqui há 18 anos, não é?

Sim. 

Mas porque é que decidiu viver aqui?  

Bem, a minha mulher é tailandesa e os meus filhos são holandeses e tailandeses, por isso essa foi uma boa razão. Mas outra razão foi que, quando estava sozinho e não tinha família, ter toda esta responsabilidade pelas plantas de canábis, fazer sementes para a Sensi Seeds, já era muito stressante e perigoso, de certa forma, porque há sempre falhas de comunicação, mal-entendidos e, apesar de fazermos coisas legais, não é muito claro para muitas pessoas. Por isso, há sempre o risco de acontecerem coisas más. Prisões ou mesmo ladrões, sabe? Temos de nos preocupar tanto com os criminosos como com a polícia. Por isso, quando arranjei uma família, foi uma coisa muito diferente.  E depois, quando obtivemos uma licença do governo para fazermos o nosso trabalho, em vez de ser mais fácil, as coisas tornaram-se mais problemáticas e mais perigosas. Por isso, foi estranho que, de facto, quando obtivemos uma licença para fazer o que queríamos, as coisas fossem menos seguras. Por isso, nessa altura, disse: “Está bem, isto vai demorar talvez mais 50 anos, mas não posso… por isso, a certa altura, fui-me apagando e achei que era melhor sair desta situação, porque é como uma linha da frente numa guerra. E tu não queres estar lá se tiveres uma família. Se fores um jovem e não tiveres família, é diferente.  

Quando se tem filhos, tudo muda. Então, em que ano é que isso aconteceu? 

Deixei a Holanda em 2007. 

Alan Dronkers com Jack Herer e o pai, Ben, nos anos 90. Foto: Sensi Seeds

Na altura, a Sensi Seeds já era enorme.

Sim, já estava tudo estabelecido nessa altura. Portanto, não foi esse o problema. O único problema era que a nossa posição legal e o nosso trabalho, a criação e produção de sementes e tudo o mais, estava a mudar e as leis estavam a mudar. E antes a lei estava do nosso lado, mas depois mudou e, por isso, precisamos de uma licença. Então tudo era um problema e a certa altura foi a gota de água para mim. Depois tive uma vida completamente diferente com a minha família aqui na Ásia. Durante os primeiros dois anos, não falei sobre o assunto a ninguém, mas apenas e só porque tinha estado envolvido nisso toda a minha vida até àquele momento. E era realmente muito stressante e perigoso, mesmo quando era legal. Nos primeiros 10 anos em que estive aqui, só tinha a minha vida com a minha família, mas depois comecei a andar por aí, a visitar pessoas diferentes, a conhecer pessoas diferentes que estavam interessadas na canábis e no cânhamo. Depois ouvi dizer que o governo e o exército estavam a falar sobre o assunto e, portanto, havia um interesse de diferentes origens por este tema. Também sabia que esta era uma parte muito importante da medicina budista, mas não sabia onde encontrar essas pessoas. Por isso, no início, durante alguns anos, andava à procura de um templo ou de um mosteiro onde ainda se usasse esta medicina tradicional, mas não encontrei nada. Até descobrir que o Departamento de Medicina Tradicional está sob a alçada do governo e do Ministério da Saúde. Foi então que acabei por visitar estas pessoas e fiquei a conhecê-las. E, mais uma vez, se tiverem alguma pergunta sobre o que quer que seja, tenho muitos conhecimentos, por isso posso partilhá-los. Mesmo com o Museu, sou um pouco como uma enciclopédia ambulante, porque sei muito sobre história, a história do Museu ou questões legais, ou o lado político da história, sementes, criação de animais, cânhamo, agricultura, ambiente, todas estas coisas. Sei como fazer papel, ou as coisas mais engraçadas, porque aprendi tudo isso. E aprendi-o porque era necessário para a empresa e para perceber onde estão as oportunidades para o cânhamo. Por isso, mais uma vez, temos de estudar, aprender, descobrir e só assim podemos encontrar um mercado ou uma forma de ajudar toda a indústria.  

Então, a partir dos bancos de sementes e dos Museus, como e quando é que a HempFlax foi criada? 

No início dos anos 90, estava a ler todos estes livros e havia um livro alemão de Hans-Georg Baer. E o título era Von Hanf ist die Rede. Era um livro que ensinava, não apenas sobre a canábis, mas também sobre a história do cânhamo e a importância que esta planta tem tido durante milhares de anos em todas as culturas do mundo. E acho que, em 1991, recebi o primeiro exemplar do livro de Jack Herer – The Emperor Wears No Clothes (O Rei Vai Nu). E, não muito depois disso, no final de 91 ou início de 92, conheci o Jack Herer em Amesterdão. Além disso, já tínhamos uma secção inteira sobre o cânhamo no Museu, mas também por causa da inspiração dele. A história do cânhamo tornou-se uma história muito maior em toda a história desta planta. Portanto, a inspiração veio daí. Em 1992, já tinha ido, com um dos nossos trabalhadores da empresa, visitar a indústria do cânhamo que ainda existia na Hungria. Mas isto foi mesmo antes da queda do muro [de Berlim]. Por isso, estive lá quando ainda era comunista, por um momento. E no ano seguinte, 1992 ou 1993, quando voltámos, era legal. Era diferente, porque eles tinham copiado as leis e as ideias americanas. Assim, os russos nunca se importaram com a quantidade de cânhamo que a Hungria estava a cultivar, mas, de repente, havia todas estas regras, e lembro-me do professor, que se queixava dos comunistas, de como este país era horrível por causa do comunismo durante todos estes anos. Só havia um telefone na aldeia onde ele vivia, mas no ano seguinte voltámos e ele, em vez de se queixar dos “malditos comunistas”, queixava-se dos “malditos americanos”, porque agora já nem sequer podia cultivar cânhamo sem todas estas regras, regulamentos e registos, ao passo que antes os russos nunca se preocuparam com a quantidade de cânhamo cultivada na Hungria. Nós estávamos lá para investigar o cânhamo, mas, por causa disso, em toda a Europa de Leste e também na Rússia, tudo estava a desmoronar-se. Não era o sítio certo para começar. E ainda havia subsídios para o cânhamo industrial na Europa e também nos Países Baixos, apesar de ninguém o estar a cultivar. Por isso, acabámos por decidir cultivar nós próprios nos Países Baixos. O meu pai comprou uma pequena empresa de processamento de cânhamo em 1993 e tivemos a nossa primeira colheita de cânhamo em 1994. Portanto, estas são as mesmas máquinas que toda a gente utiliza agora.

“Tínhamos cerca de 4.000 toneladas de fibra e ninguém queria comprá-las, porque não havia indústria que as utilizasse”

Desde então, o que melhoraram na HempFlax? Onde começaram e como está a situação actual da empresa?  

Bem, a HempFlax está a produzir a fibra mais limpa da Europa. Portanto, existimos há 30 anos e penso que construímos 10 linhas de máquinas ao longo de 30 anos, ou adaptações à linha de máquinas, pelo que a inovação nunca pára. E a HempFlax está a processar a fibra de forma totalmente mecânica, pelo que não existe um processo húmido, o que reduz toda a energia e todo o tipo de outras equações no processamento do cânhamo. Mas mesmo neste processamento, fomos os primeiros, não só a fazer esta máquina de colheita, como também a cortar o caule em pedaços de 60 centímetros. Assim, em vez de usar todo o caule longo e tentar processá-lo, a máquina no campo já o estava a cortar em pedaços de 60 centímetros, porque não importa o que se vai fazer com a fibra, mesmo têxtil. De qualquer forma, nunca se vai utilizar a planta de quatro metros. E isso fazia com que tudo funcionasse melhor. Assim, este método ficou conhecido como o método de colheita HempFlax. Muitos outros seguem esta forma de processar a colheita.  

Que tipo de produtos é que fabricam?  

Bem, no início não havia mercado, certo? Por isso, fomos os primeiros a produzir cânhamo. Havia uma empresa francesa que fazia papel para cigarros. Mas, quanto ao resto, não havia cânhamo na Europa, em nenhum lado, apenas na Europa de Leste nessa altura, mas ainda era a Europa de Leste, não estava ligada. Por isso, ninguém nos podia dizer como o fazer. As máquinas que se utilizavam em França eram muito pequenas, porque havia muitos pequenos agricultores que tinham feito o seu próprio produto. Por isso, para uma grande utilização industrial não era útil. Precisávamos de máquinas maiores para uma colheita mais rápida. Tivemos uma situação em que havia um terreno de 25 hectares e, com esta velha máquina de França que também experimentámos nessa altura, demorava quatro horas a fazer um círculo à volta do campo e a cortar dois metros de plantas. (risos) Portanto, só para colher aquele campo eram precisos muitos dias. Por isso, é possível compreender que era necessário aumentar a escala para este nível industrial. A certa altura, em 1996 ou 1997, tínhamos cerca de 4.000 toneladas de fibra e ninguém queria comprá-las, porque não havia indústria que as utilizasse.

Nem sequer em França?

Bem, os franceses faziam papel, mas não recebíamos nenhuma encomenda deles. Mas, felizmente, recebemos uma encomenda de uma empresa de papel para cigarros na Turquia e conseguimos enviar um barco cheio de fibras do norte dos Países Baixos para a Turquia. E foi nessa altura que vendemos metade da nossa montanha de 4.000 toneladas. (risos) Mesmo na indústria automóvel, demora muito tempo até que as coisas se desenvolvam, porque de cada vez que é introduzido um novo modelo de carro, é necessário um pouco mais de alguns milhares de toneladas que a indústria exige, por isso é um processo lento, esta construção do mercado. E se somos pioneiros, não temos apenas de o fazer, temos também de criar ou construir o mercado. Assim, a maior parte da nossa fibra destina-se a utilização industrial na indústria automóvel. Algumas vão para material de isolamento e a maior parte da nossa madeira vai para cavalos, para camas de animais, e para pequenos animais de estimação, como coelhos e hamsters. O desenvolvimento do produto ainda está à espera de uma série de coisas, como bons processos e os próximos níveis de desenvolvimento e investimentos necessários. Foram precisos 30 anos para chegarmos a este nível, mas chegámos à conclusão de que, mais uma vez, são necessários grandes investimentos para sermos realmente sólidos no futuro e também realmente significativos para a economia da nossa sociedade. Portanto, ainda há muito a fazer. 

Mas é curioso o facto de ter criado a empresa porque sabia que havia coisas que se podiam fazer com o cânhamo. 

Sim, por causa do nosso museu sabíamos tudo sobre a sua utilização na história. Mas é interessante termos criado a empresa porque sabíamos que havia coisas que podiam ser feitas com o cânhamo.

Alan e Ben Dronkers foram oradores no mesmo painel, na AIHEF, em Bangkok. Foto: Laura Ramos | CannaReporter®

Não havia ninguém que quisesse comprar, mas depois teve de descobrir como voltar a criar utilizações para o cânhamo. Quais foram as primeiras? Mencionou o automóvel e o papel…

Sim, o primeiro foi realmente o negócio das camas de cavalos com a madeira de cânhamo. Isto permitia poupar muito trabalho porque o cânhamo pode ficar mais tempo nos estábulos e é também um ambiente mais saudável para o cavalo. Havia uma empresa inglesa que tinha começado meio ano antes de nós, ou algo do género. Ouvimos falar dela e teve muito sucesso porque, para as pessoas que têm cavalos, o cânhamo é realmente o melhor material para utilizar. Poupa muito trabalho e o trabalho é um tempo valioso, o tempo das pessoas é muito valioso. Por isso, ao poupar muito trabalho, é mais saudável para os cavalos e todas essas coisas. Portanto, era simples, o melhor de todos os tipos de testes e coisas do género. As revistas de cavalos estavam a publicar sobre ele porque era o melhor produto a utilizar.  Isso ajudou muito.  Mas depois vemos muitas promessas, como por exemplo, o Hempcrete. Existia um mercado de Hempcrete, mas ainda era pequeno. Passados 30 anos, continua a ser pequeno. E eu lembro-me de estar há 25 anos em feiras de negócios como esta. Este é um bom exemplo, sabe, já havia uma promessa. Já havia uma Iso Chanvre em França, desde 91 ou 92, portanto já estavam a trabalhar com cânhamo, e eu estive numa feira de negócios como esta, onde era tudo sobre materiais de construção renováveis ou orgânicos ou ecológicos, há 25 anos! Vi muitos produtos, de como fazer casas ou construções ou o que quer que fosse, e muitas, muitas coisas eram interessantes. Mas se me perguntar o que é que é mainstream, passados 25 anos? Nada. Continuam a construir casas da mesma forma e até usam mais esferovite, plástico, lã de vidro e lã de rocha, e as pessoas têm de viver num sítio assim. Literalmente, a respirar químicos e microfibras que são perigosos para os pulmões, mas esta é a realidade. Na Europa, ainda assim, é melhor do que nos Estados Unidos, porque as casas nos Estados Unidos são quase como um saco de plástico com algum papel e fita adesiva, percebe o que quero dizer? Infelizmente, os materiais de construção naturais que deveriam estar a tornar-se mainstream, como o cimento de cânhamo… – há exemplos de casas em quase todo o lado, há muitas pessoas que têm feito promoção a isto – ainda não é mainstream, por isso, ainda estamos à espera que muitas destas coisas aconteçam.

“O nosso foco agora está no que estamos realmente a vender, que é a fibra que vai para a indústria automóvel”

Qual é o principal objectivo da HempFlax neste momento? O que estão a produzir?

O nosso foco agora está no que estamos realmente a vender, que é a fibra que vai para a indústria automóvel. Mas nós, de facto, adaptámos a nossa linha de máquinas, não há muito tempo, para controlar a qualidade da fibra, para que não haja outras fibras no meio ou poluição, de modo a que a nossa fibra possa ir directamente para um processo em que se faz uma espécie de têxtil a partir dela. Mas, tal como o cânhamo, podemos imaginar que, se houver um avanço na cotonização do cânhamo que seja realmente eficiente, então isto pode ser muito importante, mas também estamos à espera disso há 30 anos.  

Também fazem alguns materiais de isolamento…

Sim, tínhamos uma empresa na Alemanha que estava a produzir materiais de isolamento. Mas o problema é que lá também é preciso construir o mercado de raiz. E isso é muito, muito dispendioso. Por isso, vendemos basicamente 90% dessa empresa a uma grande multinacional que está a fazer construção em toda a Europa e que também produz muito do seu próprio material de construção para que eles próprios o possam utilizar. E continuamos a fornecer fibra, mas isso era necessário para passar ao nível seguinte. Não podíamos aumentar esse nível. Sim, e é por isso que estamos a tentar vender a HempFlax, para que possa haver dinheiro a entrar na empresa novamente, para chegarmos a este nível de solidez no futuro.

Quer dizer, vender a empresa ou vender acções? 

Só acções ou a empresa inteira, não importa, no fim de contas. A HempFlax tem de passar para o próximo nível. Não podemos carregar isso, não somos grandes industriais. Temos sido pioneiros, temos estado a levar as coisas para a frente, e, sim, é uma grande indústria, a que criámos, mas o nível a que tem de chegar precisa da base profissional, mas também da base financeira para poder chegar lá. Tem essa capacidade, por isso, acho que isso vai acontecer.  

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do XXI Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “O que diz Lisboa?” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” em 2018 e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

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