Crónica
O que o Japão pode aprender com as exposições de canábis da Europa?

Introdução: Quando a Canábis se torna cultura
Quando nós, na CBD Library, publicámos no X (antigo Twitter) sobre o que testemunhámos nas principais feiras europeias de canábis, não esperávamos a reação que obtivemos. A publicação — com frases como “acidentalmente drogado por fumo passivo”, “mudas de canábis gratuitas a serem distribuídas” e “uma área de recreio infantil ao lado de uma banca de canábis” — rapidamente superou o nosso envolvimento habitual por uma larga margem.
Para o leitor casual, estas podem soar como piadas de uma comédia surrealista. Mas aqui está a questão: são todas reais. Nós vimo-lo com os nossos próprios olhos. Sem enfeites, sem ficção. E enquanto nos ríamos do absurdo de tudo isto, houve um momento — tranquilo, sóbrio — em que nos perguntámos: «Espera, será que isto é mesmo motivo para rir?»
Porque por detrás da névoa e do exagero, o que vimos foi um contraste impressionante: países onde a política se tornou cultura, e outros — como o nosso — onde as leis existem, mas a cultura fica para trás.
“No fumo destas exposições europeias, não vimos apenas o que falta ao Japão, mas também aquilo que poderá vir a ser um dia”
■ Cannafest (República Checa): Onde a política e a cultura coexistem pacificamente
Realizada em Praga, a Cannafest é uma das maiores exposições de canábis da Europa, com mais de 30.000 visitantes anualmente. Já fomos três vezes e sempre o clima de tranquilidade é marcante. Este não é um lugar de celebração caótica, mas de integração normalizada.
Os produtos de CBD estão alinhados ao lado de artigos médicos, industriais e de bem-estar. Os stands oferecem de tudo, desde tratamentos para animais de estimação a produtos de beleza e alimentos funcionais. Uma família pode parar para comer um hambúrguer de cânhamo enquanto os seus filhos desfrutam da área infantil.
▲ Se o conceito for dirigido aos grandes consumidores recreativos de canábis — os chamados “pedrados” — então instalações como esta seriam provavelmente desnecessárias. A Cannafest reflecte uma sociedade onde a canábis não é uma ameaça, mas uma ferramenta — administrada com racionalidade e aceite com maturidade. A presença de seminários e mesas redondas mostra que a educação caminha lado a lado com o entretenimento.
■ Mary Jane (Alemanha): Quando a legalização chega antes da cultura
Em contraste, a Mary Jane Berlin, realizada logo após a legalização parcial da canábis recreativa na Alemanha, foi electrizante — e caótica. Mais de 40.000 participantes encheram a Messe Berlin. O ar estava carregado de fumo, a música alta e o ambiente estava entre uma feira de negócios e um festival de música. Os serviços de urgência reportaram 20 pessoas hospitalizadas só no primeiro dia. Mas o evento continuou. Os food trucks fizeram um óptimo negócio. A segurança estava presente, mas não era excessiva.
▲ Aliás, “larica” refere-se aos desejos intensos por comida frequentemente sentidos após o consumo de canábis — um efeito secundário bem conhecido entre os utilizadores.
Por entre a neblina, as cabines do CBD serviam como ilhas de calma. Principalmente em cosmética, o interesse era elevado e as filas eram longas. Mary Jane expôs a energia bruta que a legalização pode libertar — tanto a sua promessa como os seus perigos.
▲No segmento da cosmética e beleza em particular, era praticamente o palco exclusivo do CBD — iam-se formando filas silenciosas de quem sabia.
■ Spannabis (Espanha): Quando a Canábis Deixa de Ser “Especial”
A Spannabis, realizada em Barcelona, pareceu mais um ritual do que uma exposição. O fumo subia pelo ar do Mediterrâneo enquanto a música tocava e os charros eram passados de mão em mão. Aqui, a canábis não era um tema; era o pano de fundo.
▲Só de andar por ali, o fumo passivo acabava nos pulmões antes mesmo de se aperceber — e quando dava por si, estava a pensar: “Hum… isto é um bocado divertido”.
Ao contrário das outras exposições, o CBD quase não teve presença. Não houve promoções vistosas nem esforços educativos profundos. Porquê? Porque nos clubes de canábis e na cultura casual de Espanha, o CBD não é uma alternativa; é apenas normal.
A exposição não era sobre defender a canábis. Tratava-se de celebrar o que já é.
▲De acordo com as regras oficiais da Spannabis, a venda e distribuição de produtos com THC são proibidas. E, no entanto, é precisamente esta desconexão entre a política oficial e a realidade local que pode captar melhor a essência da própria Spannabis.
■ Japão: Lei sem Cultura
No Japão, o CBD é tecnicamente legal.
No entanto, socialmente, continua a ser marginalizado. A cobertura mediática é limitada, a publicidade é fortemente restringida e as instituições financeiras tratam frequentemente o sector com desconfiança. As plataformas de comércio electrónico suspendem frequentemente listagens de produtos de CBD.
Além disso, se for descoberto que alguém consumiu canábis — mesmo em pequenas quantidades — será preso, independentemente da sua condição pública, e o seu caso é frequentemente transmitido repetidamente nos noticiários nacionais. Cria-se assim uma associação forte e persistente na mente do público: “canábis é igual a crime”. O estigma continua profundamente enraizado na sociedade japonesa.
Esta situação não se deve a maus produtos ou à falta de procura. A questão central reside na ausência de compreensão cultural em torno da canábis e do CBD. O Japão tem leis. O que falta é o enquadramento cultural necessário para interpretar e integrar estas leis de forma significativa na sociedade.
■O que deve ser cultivado não é apenas cânhamo, mas cultura
O que deve ser cultivado não é apenas cânhamo, mas cultura. Então o que será necessário? Acreditamos que o CBD no Japão não é apenas um mercado a ser expandido, mas uma cultura a ser cultivada.
Tal como os cuidados com a pele ganharam respeito global através da beleza japonesa — com os seus valores de minimalismo, pureza e artesanato — talvez o CBD japonês possa encontrar o seu próprio caminho. Mas isso exige que nós, como meios de comunicação social e como cidadãos, nos envolvamos com o tema para além da conformidade e em direção à curiosidade. Não podemos confiar apenas na lei. Devemos também nutrir a narrativa. E neste esforço, o que vimos em Praga, Berlim e Barcelona não foi apenas um espectáculo exótico. Foi um espelho — e talvez um mapa.
■ Em resumo…
▲ Cannafest (República Checa), Mary Jane (Alemanha) e Spannabis (Espanha)
Neste relato, reflectimos sobre as nossas visitas às três maiores feiras de canábis da Europa — Cannafest (República Checa), Mary Jane (Alemanha) e Spannabis (Espanha) — para explorar como a política da canábis evolui para a cultura. O que assistimos não foram apenas exposições de produtos ou festivais de estilo de vida, mas atitudes sociais distintas em relação à normalização, integração e identidade.
Desde a coexistência tranquila de política e educação no Cannafest, à explosão caótica de energia recém-legalizada de Mary Jane, à cultura da canábis totalmente enraizada na Spannabis, onde o CBD desaparece do quotidiano, vimos o espectro do que significa quando a canábis já não é tabu, mas parte da vida cívica.
Entretanto, no Japão, o CBD continua isolado — legalmente permitido, mas culturalmente marginalizado. A lacuna não é apenas regulatória. É narrativa.
Para cultivar uma cultura de canábis verdadeiramente sustentável, o Japão deve fazer mais do que permitir o produto. Deve também envolver-se com as histórias, valores e comunidades que lhe dão significado. No fumo destas exposições europeias, não vimos apenas o que falta ao Japão, mas também aquilo que poderá vir a ser um dia.
____________________________________________________________________________________________________
[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
O que fazes com 3€ por mês? Torna-te um dos nossos Patronos! Se acreditas que o Jornalismo independente sobre canábis é necessário, subscreve um dos níveis da nossa conta no Patreon e terás acesso a brindes únicos e conteúdos exclusivos. Se formos muitos, com pouco fazemos a diferença!

Takuya Aiuchi
Takuya Aiuchi é o fundador da principal plataforma de informação sobre CBD do Japão, a "Biblioteca CBD". Pioneiro na indústria, contribui com artigos para os meios de comunicação social nacionais e internacionais sobre canábis e participa extensivamente em exposições internacionais. Takuya envolve-se activamente no avanço do conhecimento e das tendências relativas ao CBD e aos canabinoides nos mercados japonês e internacional.
Aiuchi é ainda membro da Sociedade Japonesa de Canabinoides Clínicos e concluiu com distinção os cursos de Consultor de Canábis MM411, Bem-Estar Médico CBD MM411, Gestor de Assuntos Farmacêuticos Qualificado, Especialista Avançado em Rotulagem de Alimentos Funcionais e Examinador Certificado de Aromaterapia de Nível 1.
