Ciência
Revisão sistemática aborda riscos e benefícios da canábis medicinal na saúde mental

Uma revisão sistemática intitulada “Os efeitos diferenciais da canábis medicinal na saúde mental” realizada por investigadores da Universidade Erasmus de Roterdão, na Holanda, aborda o papel da canábis medicinal na gestão das condições de saúde mental, destacando os seus potenciais benefícios e efeitos adversos, bem como os mecanismos subjacentes que contribuem para os seus diferentes efeitos em cada indivíduo. A canábis medicinal emergiu como uma alternativa promissora, embora complexa, para o tratamento de múltiplas perturbações da saúde mental. Com um número crescente de pacientes e médicos a explorar o seu potencial terapêutico, é importante compreender os distintos e complexos efeitos dos canabinóides na saúde mental.
A utilização da canábis para fins medicinais tem uma longa história, que remonta a milhares de anos de uso terapêutico da planta. Contudo, a sua aplicação moderna no tratamento de problemas de saúde mental constitui um domínio relativamente recente. À medida que a investigação progride, a canábis medicinal está a ser considerada para o tratamento de doenças como a ansiedade, a depressão, a perturbação de stress pós-traumático (PTSD) ou até mesmo a esquizofrenia. A complexidade do seu perfil deve-se em grande parte à presença de diversos canabinóides na planta, que interagem de múltiplas formas com o sistema endocanabinóide humano. Esta interacção dinâmica oferece tanto potenciais benefícios terapêuticos como riscos que requerem um conhecimento aprofundado para uma aplicação segura em cada tratamento.
Compreender as perturbações da saúde mental e os desafios do tratamento
As perturbações de saúde mental apresentam uma natureza multifacetada, exigindo frequentemente uma abordagem de tratamento personalizada. Embora os tratamentos convencionais, tais como a psicoterapia e a medicação, sejam efectivos para muitos pacientes, não são a opção mais apropriada para todos. Em certos casos, os efeitos secundários associados aos medicamentos convencionais podem motivar os doentes a procurar tratamentos alternativos. A canábis medicinal tem vindo a ganhar força como opção suplementar ou alternativa, devido ao seu potencial para aliviar os sintomas nos casos em que os tratamentos convencionais se mostram ineficazes.
Todavia, o desafio reside na variabilidade das reacções dos doentes. Enquanto alguns indivíduos apresentam melhorias acentuadas dos sintomas, outros podem experienciar efeitos negativos, que podem mesmo agravar a sua doença. Estes resultados contrastantes sublinham a importância da medicina personalizada e a necessidade de investigações contínuas para determinar quem mais pode beneficiar das terapias à base de canábis.
Canabinóides: Como funcionam no cérebro
No cerne do debate sobre a canábis medicinal, encontra-se o papel dos canabinóides, compostos químicos da planta da canábis que incluem o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O THC é conhecido sobretudo pelas suas propriedades psicotrópicas, enquanto que o CBD é reconhecido pelos seus potenciais efeitos terapêuticos sem esses efeitos associados. Ambos os canabinóides interagem com os receptores do sistema endocanabinóide do cérebro, uma rede responsável pela regulação do humor, da memória, do sono e do apetite.
O sistema endocanabinóide inclui receptores designados CB1 e CB2. O receptor CB1, predominantemente localizado no cérebro, é responsável pela mediação dos efeitos psicoactivos do THC. Em contrapartida, o receptor CB2 apresenta uma maior implicação na regulação do sistema imunitário e no controlo da inflamação. O equilíbrio entre a activação destes receptores é determinante para a obtenção dos resultados benéficos ou adversos da canábis medicinal na saúde mental.
Impactos positivos da canábis medicinal na saúde mental
Diversos estudos têm vindo a salientar os potenciais benefícios da canábis medicinal na gestão de perturbações da saúde mental. Para muitos doentes, os tratamentos à base de canábis mostraram-se promissores na redução dos sintomas de ansiedade, depressão e stress crónico. Os principais efeitos positivos da canábis medicinal podem ser resumidos nos seguintes pontos:
- Redução da ansiedade: Doses baixas de CBD podem ter efeitos ansiolíticos, aliviando os sintomas de ansiedade social e stress geral sem efeitos psicoactivos significativos. Este facto torna o CBD uma alternativa para aqueles que lutam com os medicamentos convencionais para a ansiedade;
- Gestão da depressão: Alguns estudos sugerem que os canabinóides podem ter um efeito positivo no humor, através da modulação dos sistemas de neurotransmissores. Esta modulação pode resultar numa redução dos sintomas depressivos, particularmente em pacientes que não responderam adequadamente aos antidepressivos tradicionais;
- Melhoria do sono: A canábis medicinal pode ter um impacto positivo na qualidade do sono em indivíduos que sofrem de insónia. Ao influenciar o ciclo sono-vigília através dos receptores canabinóides, é possível que os doentes experimentem um sono mais profundo e repousante;
- Alívio dos sintomas de PTSD: Em doentes com PTSD, a canábis tem demonstrado eficácia no alívio de sintomas como pesadelos e ansiedade, possivelmente contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida global. Adicionalmente, os efeitos calmantes de determinados canabinóides podem contribuir para a redução da hiper-excitação, uma característica comum da PTSD.
Embora estes resultados positivos suscitem optimismo, é necessário tê-los em consideração no âmbito mais abrangente da variabilidade individual e da probabilidade de ocorrência de efeitos secundários.
Potenciais efeitos secundários e considerações
Apesar do potencial terapêutico da canábis medicinal, esta não está isenta de riscos. Alguns doentes podem sentir efeitos secundários que podem agravar a sua saúde mental. As principais preocupações incluem:
- Psicose e défice cognitivo: A associação entre doses elevadas de THC e um risco acrescido de psicose e défices cognitivos tem sido observada, sobretudo em indivíduos com predisposição para esquizofrenia ou perturbações psiquiátricas. Para estes pacientes, as propriedades psicoactivas do THC podem desencadear ou intensificar episódios psicóticos;
- Exacerbação da ansiedade: Embora doses baixas de CBD possam reduzir a ansiedade, doses elevadas de THC podem ter o efeito oposto, levando a um aumento da ansiedade ou a ataques de pânico. Esta resposta bifásica significa que a dosagem é fundamental para obter benefícios terapêuticos sem efeitos adversos;
- Dependência e tolerância: O consumo regular de canábis pode induzir a dependência em alguns indivíduos, dificultando a manutenção de efeitos terapêuticos consistentes. Com o decurso do tempo, pode desenvolver-se tolerância, exigindo doses superiores que podem aumentar o risco de efeitos secundários;
- Interacções com outros medicamentos: A canábis medicinal pode interagir com outros tratamentos farmacológicos, alterando potencialmente a sua eficácia ou aumentando os efeitos secundários. Esta questão reveste-se de particular importância para os pacientes que já se encontram a fazer uso de regimes de medicação complexos para a saúde mental ou outras condições médicas.
Considerando os potenciais riscos identificados, os prestadores de cuidados de saúde devem acompanhar atentamente os doentes e adaptar os planos de tratamento às necessidades individuais, garantindo que os benefícios da canábis medicinal superam os potenciais riscos.
Mecanismos subjacentes aos efeitos diferenciais
Para compreender por que razão a canábis medicinal afecta os indivíduos de forma diferente, é necessário explorar os complexos mecanismos do sistema endocanabinóide. Vários factores contribuem para os diversos efeitos em diferentes indivíduos:
- Variabilidade genética: As diferenças genéticas na expressão dos receptores canabinóides e na produção de endocanabinóides podem influenciar a forma como os sujeitos respondem à canábis. As variações nos genes associados à regulação dos neurotransmissores podem determinar a extensão do benefício terapêutico ou o risco de efeitos adversos;
- Dosagem e composição de canabinóides: A proporção entre o THC e o CBD exerce uma função crucial na regulação do impacto global da canábis medicinal. Os produtos que apresentam níveis mais elevados de CBD estão geralmente associados a menos efeitos psicoactivos, ao passo que os produtos com predominância de THC podem proporcionar um alívio mais eficaz dos sintomas, embora com um possível comprometimento cognitivo como contrapartida;
- Historial médico e de saúde individual: A condição de saúde geral do paciente, incluindo as patologias prévias e a medicação concomitante, pode influenciar a resposta à canábis. Nesse sentido, as abordagens de tratamento personalizadas, que considerem estes factores, são fundamentais para optimizar os resultados;
- Factores ambientais e psicológicos: Os níveis de stress, o estilo de vida e até as expectativas relativamente ao tratamento podem modular os efeitos da canábis medicinal. Um ambiente de apoio e uma comunicação clara entre o doente e o prestador de cuidados de saúde podem maximizar os benefícios terapêuticos e reduzir os riscos.
Estes factores evidenciam a complexidade inerente à utilização da canábis medicinal na prática clínica. Nesse sentido, as abordagens adaptadas, que considerem a variabilidade individual, são fundamentais para alcançar os melhores resultados.
Direcções futuras e oportunidades de investigação
O domínio da canábis medicinal na saúde mental é uma área em expansão que apresenta um potencial significativo. Contudo, ainda há um vasto leque de conhecimento a ser explorado. As futuras orientações da investigação incluirão:
- Ensaios clínicos com formulações padronizadas: São necessários ensaios clínicos mais rigorosos utilizando formulações padronizadas de canábis para determinar as dosagens e rácios ideais de canabinóides para várias condições de saúde mental. Esta normalização ajudará os médicos a tomar decisões mais informadas;
- Estudos longitudinais: A realização de estudos a longo prazo que analisem os efeitos do consumo crónico de canábis na saúde mental fornecerá informações valiosas sobre a sua segurança e eficácia. Esta investigação é fundamental para compreender o potencial de dependência, tolerância e alterações cognitivas a longo prazo;
- Abordagens de medicina personalizada: Os progressos alcançados no domínio dos testes genéticos e na investigação de biomarcadores poderão, num futuro próximo, viabilizar tratamentos personalizados com canábis medicinal. A adaptação dos tratamentos a perfis genéticos e historial médico individuais poderá maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar os efeitos adversos;
- Estudos dos mecanismos de acção: A investigação contínua sobre os mecanismos de acção dos canabinóides contribuirá para um aprofundamento da compreensão da interacção destes compostos com o sistema endocanabinóide. O aprofundamento do conhecimento nesta área poderá conduzir ao desenvolvimento de novos agentes terapêuticos que ofereçam benefícios específicos para as perturbações da saúde mental.
Conclusões da revisão sistemática
A canábis medicinal representa uma fronteira no tratamento da saúde mental, oferecendo tanto um grande potencial como desafios significativos. Os diversos efeitos observados, que vão desde o alívio dos sintomas de ansiedade, depressão e PTSD até ao risco de resultados adversos como a psicose e o défice cognitivo, sublinham a necessidade de abordagens personalizadas e de investigação contínua. O conhecimento aprofundado da interacção dos canabinóides com o sistema endocanabinóide permite aos investigadores e aos médicos optimizar os benefícios terapêuticos da canábis medicinal, enquanto se mitigam os seus riscos.
À medida que o sector continua a evoluir, a promessa da canábis medicinal de melhoria dos resultados em termos de saúde mental continua a ser forte. Com a realização de mais estudos e uma compreensão mais detalhada da variabilidade individual, a canábis medicinal pode tornar-se um componente valioso das estratégias personalizadas de cuidados de saúde mental, oferecendo esperança àqueles que não encontraram alívio com os tratamentos tradicionais.
Esta revisão sistemática sublinha a necessidade de avaliar cuidadosamente os riscos e os benefícios do uso da canábis medicinal na saúde mental. Os profissionais de saúde devem manter-se informados e vigilantes, assegurando que os tratamentos são adaptados às necessidades individuais e baseados em evidências científicas sólidas.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Com formação profissional em desenho técnico CAD (2D e 3D), João Xabregas é activista e defensor de todos os usos e aplicações da canábis. Encontrou e entrou no mundo canábico ainda durante os seus tempos de juventude, onde ganhou especial interesse pelo cultivo da planta, o que o levou a uma jornada de auto-aprendizagem pelo mundo da canábis que ainda continua nos dias de hoje. As suas aventuras ligadas ao cultivo de canábis iniciaram-se com o mesmo objectivo de muitos outros: poder garantir a qualidade e eliminar quaisquer possíveis riscos para a sua saúde daquilo que consumia, bem como evitar quaisquer tipos de dependências do mercado ilícito. No entanto, rapidamente passou a encarar o mundo da canábis e tudo o que a ela diz respeito com um olhar bastante diferente. Assume a enorme paixão que nutre pela planta mais perseguida do mundo e sobre a qual está sempre disposto a escrever e a ter uma boa conversa.
