Cânhamo
4º edição do Hemp Fiber Lab realiza-se já no próximo fim-de-semana, em Sintra

O coletivo 7 irmãs, em colaboração com a Sensihemp, organiza o 4º Hemp Fiber Lab na Quinta dos 7 nomes, em Sintra, de 20 a 22 de Junho. Neste workshop de 3 dias, os participantes podem aprender a transformar o cânhamo “da planta até ao fio”, para no final criarem uma peça artesanal e colaborativa, “da fibra ao fio – do fio ao têxtil”.
Desta vez, Lilian Rodrigues, organizadora do evento e fundadora do coletivo 7 irmãs, junta-se a Marta Vinhas, da marca portuguesa de roupa de cânhamo Sensihemp e a outras “irmãs” da constelação como Sabina Batista, especialista em tinturaria natural, a poetisa e cantora Sheila Rodrigues de “As da Fonte” ou a artista chinesa Scarlet Hongying. A missão das artesãs é partilhar o conhecimento de cada uma com quem quiser saber mais sobre como processar a fibra de cânhamo para criar tecidos – e não só, porque desta vez, como contou Lilian ao CannaReporter®, “o objetivo é fazer uma peça do início ao fim”.
A ideia deste workshop prático e colaborativo é, nas palavras da organizadora, “tecer o caminho para criar pontes entre produtores e artesãos” que usam ou queiram usar o cânhamo como matéria-prima. E para isso, nada melhor que pôr as mãos na fibra. Neste caso, aprender com quem tem conhecimento e prática para partilhar. Tal como diz Marta Vinhas, os participantes vão encontrar “muita beleza nos detalhes: desde rituais à beira-rio com cânticos, até ao som do tear em funcionamento, aos pigmentos naturais que vão transformar tecidos e mãos.”
A sinergia entre as 7 Irmãs e a Sensihemp nasceu de uma visão partilhada: “queremos regenerar, criar com consciência, cuidar da terra e das pessoas. O projecto 7 Irmãs tem sido uma guardiã preciosa dos saberes ancestrais e da escuta profunda. Unir a Sensihemp a este território é quase natural. Juntas, queremos trazer o cânhamo para o centro da conversa sobre sustentabilidade, economia circular e cultura comunitária”, explica Marta.
Uma história com muitas histórias dentro
O primeiro Hemp Fiber Lab aconteceu em 2019 “da vontade de várias mulheres se encontrarem para descobrir como transformar a fibra de cânhamo em fio, porque não havia ninguém a fazer isto em Portugal”, contou-nos Lilian. Na altura foi um Lab prático, de investigação, em colaboração com Alice Albergaria Borges, “que trazia já experiência e conhecimento com linho”, e a ilustradora Inês Milagres que já trabalhava com plantas. Como explica Lilian, “foi um encontro de fiadeiras e artesãs curiosas que tinham vontade de descobrir esta fibra para usar no seu artesanato”.
A segunda edição teve lugar em 2020, ano em que decidiram construir as suas próprias ferramentas e experimentar com vários tipos de macerações (da planta do cânhamo), fibras e instrumentos. Nesses dois dias, na Quinta dos 7 Nomes, participaram 20 pessoas “muito curiosas”, lembra Lilian. Isso foi uma semana antes do “lock down”, mas em 2021 as almas curiosas que orbitavam o coletivo 7 irmãs, entre as quais se mantinham Alice Albergaria e Scarlet Hongying, voltaram a unir forças para mais um Fiber Lab em Canal Caveira, Grândola. Foi um encontro “muito bonito, de 3 dias, com mais artesãos que trouxeram técnicas que tinham preparado antes”, lembrou Lilian. Dessa vez trabalhou-se o cânhamo, tingiu-se com diversas plantas e pigmentos naturais, e teceu-se uma peça num tear tradicional de forma colaborativa –100% natural e feita à mão.
Para Lili este encontro foi muito importante, porque “foi muito bem documentando, houve pessoas que ficaram inspiradas e surgiram outros movimentos – nesse ano, foi como uma onda que acordou as pessoas e apareceu mais gente a explorar estas áreas”.
Mas o caminho do cânhamo é tortuoso. Desde então, houve novos regulamentos e algumas buscas policiais que dificultaram a vida aos produtores de cânhamo. Entre umas coisas e outras, o tempo passou.
Após o interregno, Lilian decidiu retomar o projeto porque, confessa, o cânhamo sempre foi o que mais a interessou. As conversas foram acontecendo e os resultados foram-se vendo, Alice Albergaria juntou-se a Marta Vinhas, da Sensi Hemp, para criar uma coleção de t-shirts 100% cânhamo, produzido parcialmente por Lilian, com pigmentos naturais; outras vontades criativas foram surgindo. E assim, finalmente, decidiram que era altura de organizar mais um Fiber Lab.
4º edição tem o objetivo de “fazer uma peça do princípio ao fim”
E tudo começa no rio, porque a água, como diz Lilian, “é o elemento envolvido em todos os processos do cânhamo e é muito importante na parte têxtil – água da chuva para a rega, água do rio para macerar as fibras e poder trabalhá-las…” Assim, o primeiro dia vai começar com uma homenagem ao rio que rega a quinta, com cânticos conduzidos pela poetisa Sheila Rodrigues, cujo trabalho de pesquisa e recuperação dos cantes tradicionais marcará a pauta deste momento de abertura. “A Sheila vai acompanhar e incentivar o movimento de cantar no trabalho, tão importante nos ofícios tradicionais, um ato comunitário que nos une, o que hoje em dia faz muita falta”, avança Lilian. A partilha da música durante “os trabalhos” ao longo do processo criativo “é o fio condutor que fica em todos”.
Os “trabalhos” continuam no dia seguinte com a decorticação (quebra da casca do talo do cânhamo) e a separação e preparação das fibras com ferramentas tradicionais.
No sábado, o dia está reservado para a transformação da fibra em fio e a coloração dos mesmos com flores, legumes ou minerais, com a tintureira Sabina Batista. E no domingo será o dia de usar os fios obtidos para criar uma peça entre todos, que contará a história desse tecido, desta experiência e destes momentos partilhados com a upcycler e artista plástica Scarlet.
Os participantes são convidados a levar uma peça sua, com a sua própria história, para criarem uma peça nova com uma história coletiva, com o acompanhamento da fiadeira Mariana Amorim.
No final, haverá material para montar uma exposição com os resultados.
Além da experiência e das peças finais, também haverá outras surpresas, umas pensadas e outras por ver. Como diz Marta, “Teremos momentos inesperados de conexão entre pessoas de áreas muito diferentes, partilhas espontâneas, dança ao luar, comida canábica e oficinas conduzidas por quem vive mesmo estas práticas no dia-a-dia. É um evento vivo e orgânico – e, normalmente, as melhores surpresas são aquelas que não se planeiam”, afirma.
HEMP FIBRE LAB
20 a 22 de Junho, Quinta dos 7 Nomes, Colares, Sintra
Participantes: máximo de 30 pessoas
PROGRAMA:
Sexta-feira 20/06, a partir das 17h: Recepção
– Ritual performance de abertura à beira rio com as “As Da Fonte” com canto
– Jantar canábico e convívio
Sábado 21/06, todo dia e noite
Participantes: até 20 pessoas
– Processamento da fibra (decorticar, espadelar, ripar, sedar)
– Oficinas de fiação, tingimento natural e tecelagem em tear manual
– 19h00 – Jantar: para participantes e público que queira juntar-se
– 21h00 – Baile tradicional / celebração solstício com a Vira-Vadio – Cantigas de ofícios
Domingo 22/06, todo dia
Participantes: até 20 pessoas (manhã/tarde)
– Práticas de acabamento e aplicação têxtil
– Montagem de peças colaborativas
– Reflexões coletivas e partilha de aprendizagens. Encerramento com ‘As da Fonte’
Preços:
3 dias: 275,00€ / tudo incluído (alimentação, dormida em acampamento próprio – para outro tipo de alojamento contacte a organização).
Bolsas sociais e descontos: 160,00 € (contacte a organização).
1 dia: 160,00€
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Margarita é colaboradora permanente do CannaReporter desde a sua criação, em 2017, tendo antes colaborado com outros meios de comunicação especializados em canábis, como a revista Cáñamo (Espanha), a CannaDouro Magazine (Portugal) ou a Cannapress. Fez parte da equipa original da edição da Cânhamo portuguesa, no início dos anos 2000, e da organização da Marcha Global da Marijuana em Portugal entre 2007 e 2009.
Recentemente, publicou o livro “Canábis | Maldita e Maravilhosa” (Ed. Oficina do Livro / LeYA, 2024), dedicado a difundir a história da planta, a sua relação ancestral com o Ser Humano como matéria prima, enteógeno e droga recreativa, assim como o potencial infinito que ela guarda em termos medicinais, industriais e ambientais.
