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A Tailândia encontrou a solução onde os países europeus ainda vêem um problema

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Na minha segunda passagem pela Tailândia fiquei, mais uma vez, surpreendida pela positiva. Depois de visitar várias unidades de cultivo e processamento de canábis nos arredores de Banguecoque, regressei à cidade com a mochila cheia de amostras. Ao entrar no Queen Sirikit National Convention Center para a AIHEF (Asia International Hemp Expo & Forum), o segurança pediu-me para abrir a mochila, para fazer a revista de rotina. Lá dentro, várias embalagens com amostras de flores de canábis, provenientes de diferentes produtores tailandeses. O aroma, inconfundível. O segurança olhou, sorriu e acenou para que eu entrasse. Nenhuma pergunta, nenhum problema. São momentos como este que mostram o quão singular é o que está a acontecer na Tailândia, também conhecida como “a terra dos sorrisos”. Neste artigo mergulhamos numa análise profunda ao panorama actual da canábis na Tailândia e como o país se prepara para ser uma potência, não só na Ásia, mas a nível global.

Num continente onde a canábis continua a ser fortemente criminalizada, e num mundo onde muitos países ainda lutam para regulamentar e enquadrar a planta dentro de molduras legais complexas, a Tailândia destaca-se como um caso absolutamente simples e único. As fachadas coloridas dos dispensários encontram-se em quase todas as ruas da capital e há até quem diga, em tom exagerado, que existem mais dispensários de canábis do que 7-Elevens.

Em Banguecoque, a canábis faz parte do quotidiano e de acordo com alguns produtores o mercado está “mais vibrante do que nunca”. As flores de canábis são consideradas um produto natural (ou ‘raw’), por isso não entram na categoria dos narcóticos. Há centenas de empresas a produzir inúmeros cultivares de canábis e é possível encontrar flores em dispensários, cafés e pequenos clubes espalhados por toda a cidade. Habitantes locais e turistas, mais jovens e mais velhos, entram e saem destas lojas sem qualquer receio.

O ambiente é de uma normalidade quase desconcertante. Apesar de não se verem muitas pessoas a fumar na rua e de o governo insistir que é necessária uma prescrição para obter canábis medicinal, o acesso tornou-se tão simples como comprar um café ou uma cerveja. Alguns dispensários têm clínicas integradas e médicos a prescrever na hora, para condições tão abrangentes como ansiedade ou problemas de sono. A maioria dos dispensários exibe menus detalhados, explicando os efeitos das diferentes estirpes, e muitos oferecem espaços confortáveis para consumo no local. Não há tensão, nem estigma. Apenas um comércio florescente e uma convivência pacífica com a planta.

O dispensário The Herbalist está integrado no resort The Beach Samui, em Koh Samui

Actualmente, estão a florescer muitas empresas: o sector agrícola, o de processamento, o de cosméticos e bem-estar, com destaque para os resorts de wellness e turismo de saúde. A produção de cânhamo, por exemplo, é vista como uma oportunidade de diversificação para os agricultores. O cânhamo pode ser usado para fibras, construção, têxteis, componentes para a indústria automóvel, sementes ou óleos de massagem, além da vertente medicinal ou de bem-estar.

O turismo de saúde é o que torna a história verdadeiramente relevante para a economia e a inovação nos negócios na Tailândia. O governo encara a canábis e o cânhamo como uma componente estratégica da economia nacional, com produtos e indústrias capazes de gerar riqueza, empregos e exportações.

O CannaReporter® falou com Bryan Lunt, fundador e gerente do The Beach Samui, um resort na ilha de Koh Samui, onde é possível relaxar em frente ao mar com todo o tipo de terapias à base de canábis que se possam imaginar.

O hotel tem uma equipa médica e um dispensário integrado, o The Herbalist, e é uma das atracções ao nível do turismo de saúde que se destacam actualmente na Tailândia. Bryan, britânico a viver na Tailândia há 25 anos, diz que é inspeccionado com regularidade pelas autoridades e que não é difícil cumprir as regras exigidas. Esta entrevista será publicada em breve, num artigo separado.

Da Rainha Sirikit ao Golf: a Tailândia celebra a canábis entre negócios e tradição

A AIHEF, que decorreu de 5 a 7 de Novembro, contou com mais de 200 empresas de vários países do mundo, bem como com especialistas e oradores de mais de 20 nações, que se reuniram para partilhar os seus conhecimentos, experiências e tecnologias, visando fomentar uma verdadeira cooperação comercial no sector.

Natcha Klahan (ao centro), foi uma das principais organizadoras do GrowZone, o primeiro Torneio de Golf para os profissionais da canábis na Tailândia

A antecipar o evento, no dia 4 de Novembro, aconteceu o Growzone — 1º Torneio de Golf, organizado por Thapana Uparanukraw, da Stealth Garden e Natcha Klahan, da World Pharma Solutions, destinado aos profissionais da indústria da canábis. O Campo de Golfe de Thana City, a cerca de uma hora de Banguecoque recebeu mais de 120 jogadores e dezenas de outros profissionais da indústria para um evento de verdadeiro networking no meio da Natureza.

Como evento paralelo ao golf, destinado aos não jogadores, um shuttle levou cerca de 25 profissionais a visitar quatro empresas de cultivo: a Gram Canyon, a World Pharma, a Cana Australasia e a Pentagon. Só numa das zonas da visita, no distrito de Bang Sao Thong, em Samut Prakan, existiam pelo menos 17 empresas a cultivar canábis.

Grande parte da organização do Torneio de Golfe e da visita às empresas coube a Natcha Klahan, COO da World Pharma Solutions, especialista em operações e estratégia empresarial no sector da canábis e uma verdadeira força da Natureza.

Assumindo-se como uma verdadeira ‘workaholic’, Natcha é uma pioneira da indústria na Tailândia, que se empenha em fazer as coisas bem, para promover o sucesso de todos. “O crescimento neste sector depende da integridade e da conformidade. Estamos a reunir pessoas que desejam construir parcerias reais, fortalecer a cadeia de fornecimento de canábis da Tailândia e impulsionar o sector de forma responsável”, referiu ao CannaReporter®.

A entrevista completa com Natcha Klahan será também publicada em breve, em separado. Além das empresas mencionadas acima, o CannaReporter teve ainda oportunidade de visitar a Thai Stick, a Iridescence e a Actera, sobre as quais falaremos no futuro.

O papel crucial da Rainha Sirikit no sector do cânhamo na Tailândia

Dia 5 de Novembro, 10 horas da manhã, abertura oficial da AIHEF 2025, no Queen Sirikit National Convention Center, em Banguecoque. Antes de mais, há um minuto de silêncio em honra da Rainha-Mãe, Sirikit, que faleceu aos 93 anos, no passado dia 24 de Outibro.

Mãe de Vajiralongkorn, o actual rei da Tailândia, Sirikit foi a ex-rainha consorte da Tailândia de 28 de abril de 1950 a 13 de outubro de 2016, enquanto esposa do rei Bhumibol. Curiosamente, Sirikit impulsionou o cultivo de cânhamo no passado.

Na cerimónia de abertura, passa um vídeo que mostra a Rainha Sirikit nos campos de canábis da Tailândia, entre os agricultores e as tecedeiras que produziam têxteis a partir das fibras do cânhamo, referindo que a Rainha sempre promoveu o cultivo desta planta no país.

Este facto foi relembrado mais tarde por Phasakorn Chairat, Secretário Permanente Adjunto do Ministério da Indústria, que recordou as palavras de Sirikit:

“O cânhamo deve ser considerado pelas suas vantagens e os seus aspectos nocivos devem ser eliminados. Pode ser promovido como uma cultura economicamente viável, uma vez que produz fibras de alta qualidade”

De acordo com o representante do Ministério da Indústria, “esta directriz real sempre foi o princípio orientador do Ministério da Indústria: maximizar o valor dos recursos através de processos de produção padronizados e da criação de valor em cada etapa da cadeia industrial, impulsionando a Tailândia para uma verdadeira estabilidade, prosperidade e sustentabilidade”.

Patrick Atagi, presidente e CEO do National Industrial Hemp Council dos Estados Unidos da América, participou na primeira sessão da AIHEF 25 e afirmou: “O dinheiro está a fluir [na Tailândia]. Dinheiro a sério, dólares reais estão a ser trocados”.

Economia estratégica, sustentabilidade e canábis medicinal

No discurso de abertura da AIHEF 2025, Phasakorn Chairat, destacou ainda a estratégia nacional para impulsionar o cânhamo e a canábis como motores da estabilidade económica da Tailândia.

“É para mim uma grande honra participar na Asia International Hemp Expo & Forum 2025, uma plataforma internacional que permite aos sectores público e privado trocar perspectivas sobre as novas culturas económicas da Tailândia, nomeadamente o cânhamo, a canábis e o kratom, que se tornaram ‘indústrias do futuro’ e atraem a atenção global”, afirmou.

Segundo Phasakorn, o Ministério da Indústria considera estas culturas parte da Nova Indústria em Curva S, integradas no modelo económico BCG (Bio-Circular-Verde), um pilar da estratégia nacional de desenvolvimento industrial sustentável. “A Tailândia está empenhada em expandir o potencial destas culturas económicas para as indústrias modernas — abrangendo materiais, biotecnologia, têxteis, energia, alimentos do futuro e produtos de saúde — no âmbito do Plano de Acção para o Desenvolvimento Industrial do Cânhamo Comercial (2023-2030)”, acrescentou.

O objectivo é tornar a Tailândia o Centro da ASEAN para a Indústria do Cânhamo em cinco anos, com zonas bioindustriais e sistemas logísticos a apoiar a produção e exportação.

De acordo com Phasakorn, o Ministério da Indústria promove três estratégias principais para o crescimento sustentável das chamadas “plantas económicas”:

  1. Padrões internacionais de produção – Adopção de normas como GMP, ISO, Fábrica Verde e Pegada de Carbono, além da criação de oito padrões industriais para produtos de cânhamo, incluindo óleo de semente, extratos de CBD (30–80%), fibras e blocos de hempcrete.
  2. Aplicações industriais de elevado valor acrescentado – Desenvolvimento de produtos com base no cânhamo, desde têxteis funcionais e materiais de construção ecológicos até biocompósitos e produtos com CBD e THC para saúde e cosmética.
  3. Promoção de investimento e integração industrial – Facilitação de investimentos em fábricas, I&D e joint ventures em Zonas Bioindustriais, com apoio do Conselho de Investimentos e colaboração com o Ministério da Saúde Pública no Comité Nacional de Plantas Medicinais.

Entre os projectos já em curso estão protótipos de produtos de cânhamo para segurança e defesa, como capacetes de bombeiros, uniformes militares e macas de resgate, desenvolvidos pelo Instituto Têxtil da Tailândia, com o objectivo de valorizar o cânhamo nacional e promover inovação sustentável.

Um sector de biliões que ainda carece de “educação”

Phumchai Kambhato, o novo presidente da Associação Tailandesa de Comércio de Cânhamo Industrial (TIHTA), referiu que a indústria do cânhamo na Tailândia ainda é “um bebé”, mas tem “um enorme potencial”. Em 2024, o valor do mercado do cânhamo, canábis e kratom na Tailândia atingia já os 47 biliões de BAHT tailandeses, cerca de 1,2 mil milhões de euros.


“Temos que tornar o cânhamo e a canábis numa alternativa económica”, disse, acrescentando que “é necessário construir em cima dos diferentes standards de toda a cadeia de valor” para que a Tailândia possa “acelerar esta indústria para todos os intervenientes”.

A indústria do cânhamo e da canábis na Tailândia está em plena expansão e deverá atingir um valor de 1,7 mil milhões de dólares ainda em 2025, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 33%, segundo os dados apresentados por Phumchai na AIHEF 2025. O objectivo do governo tailandês é claro: “transformar o país no principal hub de cânhamo da Ásia até 2030, quando o sector poderá alcançar os 7,1 mil milhões de dólares.

As metas passam por adoptar normas reconhecidas internacionalmente, desenvolver variedades tailandesas de alta qualidade e produtividade, atrair investimento estrangeiro em toda a cadeia de valor e ligar o sector à economia verde e à saúde pública, promovendo também a educação de produtores, operadores e consumidores.

Há uma preocupação transversal a todo o sector, para a qual Kambhato não quis deixar de alertar: a falta de formação dos profissionais. “Há falta de formação, tanto a nível industrial como medicinal. É muito importante investir na educação”, referiu.

Phumchai explicou ainda que nos próximos três meses o governo deverá apresentar um novo projecto de lei para regulamentar o uso adulto de canábis na Tailândia, reforçando que “o uso recreativo tem que ser controlado”.

O CannaReporter® entrevistou Phumchai Kambhato e publicará esta entrevista em separado.

Anthony Traurig, Consultor Jurídico em Regulamentação Global da Canábis, apresentou na AIHEF a plataforma XPharms Xchange, uma plataforma B2B de comércio grossista de canábis medicinal que utiliza a tecnologia blockchain. A plataforma permitirá que compradores e vendedores de todo o mundo negociem flores de canábis medicinal. “Para mim, é mais claro do que nunca que a canábis medicinal tailandesa será uma grande força disruptiva no mercado internacional, oferecendo produtos de alta qualidade a um preço difícil de igualar”, referiu. “Apesar da montanha-russa regulamentar dos últimos anos, o futuro é promissor para a canábis tailandesa”, auspiciou.

A importância da Medicina Tradicional e Alternativa Tailandesa

Somsak Kreechai, Director-Geral Adjunto do Departamento de Medicina Tradicional e Alternativa Tailandesa (DTAM), acrescentou, na sua intervenção, que “nos últimos anos, temos assistido a um progresso notável nas inovações na fitoterapia tailandesa. Muitos novos produtos combinaram com sucesso a sabedoria tradicional com a tecnologia moderna”. Estas inovações não só criam novo valor económico, como também reflectem a evolução criativa da sabedoria ancestral tailandesa.

A principal missão do DTAM é supervisionar e regular o uso de canábis, cânhamo e kratom para fins medicinais e de saúde, garantindo que a sua utilização é precisa, segura e padronizada.

“Estamos a trabalhar para melhorar a qualidade das matérias-primas e dos extractos de CBD e THC para cumprir as normas internacionais, permitindo a sua utilização fiável em formulações da medicina tradicional tailandesa e em produtos de saúde. Estamos também a construir um sistema abrangente — desde a origem até ao destino final — que engloba as normas GACP, GMP e GLP, além do desenvolvimento de redes de dispensários médicos certificados, para que a Tailândia possa realmente tornar-se o Centro de Serviços Médicos para a Canábis e o Cânhamo na ASEAN”, referiu Kreechai.

Mas as oportunidades na indústria do cânhamo e da canábis não se limitam ao cultivo ou à extracção. Residem na criação de novo valor através de inovações relacionadas com a saúde, seja na alimentação, na cosmética, nas bebidas ou no turismo de bem-estar. “Esta missão está alinhada com os pontos fortes da Tailândia em matéria de massagem tailandesa, serviços de spa e turismo de bem-estar, que têm conquistado reconhecimento mundial”, concluiu.

Por seu lado, Rachele Invernizzi, da Federcanapa (Federação Italiana do Cânhamo) e da FIHO (Federation of International Hemp Organizations) relembrou, durante a primeira sessão da AIHEF, que o futuro do cânhamo é a colaboração global: “A Europa pode trazer experiência regulamentar, investigação e desenvolvimento, enquanto que a Tailândia traz a sabedoria e o conhecimento ancestral”.

Rachele protagonizou um momento caricato durante o seu painel: “As flores de CBD são uma tendência na Europa. Em Itália não as podemos comercializar, mas fazemo-lo um pouco e mandamo-las para outros países na Europa”, disse, provocando risos entre o público e os restantes oradores.

O CannaReporter® falou com Rachele Invernizzi e publicará a entrevista em breve.

Aya Amni, do Japão, alertou que o seu país está a enfrentar uma situação “muito desafiante”, porque o governo quer restringir o CBN, depois de ter proibido o CBD com mais de 0,0001% de THC. “A proibição do CBN provocará danos irreversíveis para a indústria e para os pacientes no Japão”, alertou, pedindo ajuda a todos para assinarem uma petição contra essa proibição.

O Japão prepara-se para acolher a “JIHE 2025”, que se realizará a 14 e 15 de Novembro, em Shinjuku, Tóquio, e o CannaReporter® estará presente para perceber melhor a situação da canábis no país do sol nascente.

O uso essencialmente medicinal, mas com prática relaxada

Formalmente, o governo promove apenas o uso medicinal da canábis e tenta enquadrar o sistema de licenciamento, cultivo, processamento, exportação e uso clínico, exigindo a todos os operadores a conformidade com as normas GACP. Os dados indicam que já foram registadas milhares de licenças para cultivo, comércio, distribuição, importação e exportação, mas nem todas conseguiram ainda as certificações necessárias para estar em conformidade com as regras que o governo tailandês quer implementar em breve.

Apesar da insistência do governo em promover a canábis “apenas medicinal”, com prescrição médica, na prática a venda, o consumo e a circulação de canábis na Tailândia ocorrem de forma fluida e orgânica e muito menos restritiva do que nos restantes países asiáticos ou mesmo europeus. Muitos dispensários e cafés operam sob modelos bastante abertos e a sociedade adaptou-se de forma natural, sem sobressaltos, e sem o caos que tantos críticos previram. Não se vêem pessoas a consumir na rua e tudo parece funcionar de forma bastante ordenada.

Contudo, persiste a falta de formação dos trabalhadores dos dispensários e dos próprios profissionais de saúde, algo em que Tian Sherer, uma empresária tailandesa que cresceu na Califórnia, nos Estados Unidos, quer mudar. Tian regressou à Tailândia durante a pandemia e já não regressou. Autora do livro “Canábis e Nutrição: Consumir Canábis para uma Vida Saudável”, Tian aproveitou a onda da legalização para promover cursos de formação em canábis e esse tem sido o seu foco no seu país natal.

O CannaReporter® falou com Tian Sherer e publicará essa entrevista em separado.

Porque é que a Tailândia parece ter a solução onde os outros países ainda vêem um problema?

Primeiro, porque o país transformou uma planta com estigma histórico em cultura agrícola, em indústria e em produto de bem-estar, em vez de olhar para ela apenas como uma substância controlada.

Em 2021, o vice-primeiro Ministro e o Ministro da Saúde Pública da Tailândia, Anutin Charnvirakul anunciava o registo oficial de quatro variedades de canábis como Património Nacional.

Anutin Charnvirakul ficou conhecido como o Ministro que impulsionou a legalização da canábis na Tailândia. Foto: D.R. | Bangkok Post

A decisão foi tomada com o intuito de promover a investigação e o desenvolvimento da indústria nacional baseada na planta da canábis e nas suas utilizações medicinais e industriais.

Na altura, o ministro disse ao Bangkok Post que esse reconhecimento iria “gerar benefícios económicos para o país, além de aumentar o potencial dos agricultores para competir no mercado global”, o que ajudaria também a “reduzir o déficit comercial com outros países”.

A maior parte da planta (incluindo as flores no seu estado natural, ou raw) foi removida da lista de narcóticos controlados e os produtores locais foram incentivados a cultivar cânhamo e canábis. O auto-cultivo até ao limite de seis plantas também foi autorizado, mas os extractos e as resinas mantêm-se proibidos.

Segundo, porque a aposta do governo da Tailândia combina agricultura, industrialização, inovação de produtos e turismo, numa convergência que muitos países ainda não conseguiram operacionalizar.

Muitas empresas já têm todas as certificações necessárias para vender na Tailândia e exportar para outros países, principalmente a Austrália. A Europa está na mira de muitas delas.

Terceiro, porque o enquadramento prático, embora ainda em evolução, permitiu uma normalização do consumo e distribuição que dificilmente se vê noutros países, onde o peso da repressão ainda permanece.

Quarto, porque o governo, mesmo que esteja ainda a ajustar políticas para reforçar regulamentação, abriu a porta para que a canábis se tornasse parte da economia nacional, ao contrário de muitos países que ainda vêem a planta apenas como um “problema para controlar”.

Não obstante este panorama impressionante, a liberdade de facto não significa que tudo acontece sem qualquer regulamentação. Os esforços da maioria das empresas para evoluirem para uma situação de conformidade são notáveis, até porque a maioria quer exportar para outros países e sem certificação GACP não será possível.

Além disso, a exportação, o uso medicinal e a inovação ainda exigem investimento em investigação, formação, qualidade e certificação e nem tudo é simples ou imediato.

No entanto, o que a Tailândia conseguiu, talvez sem grande plano inicial, mas com uma prática surpreendentemente pragmática, foi transformar a canábis de um problema em algo banal. Onde outros países ainda vêem risco, a Tailândia vê oportunidade.

Onde outros países regulam com medo, os tailandeses experimentam com liberdade, um sorriso e uma vénia.

Num mundo que ainda debate a descriminalização e tropeça em preconceitos, burocracias e bloqueios políticos, a Tailândia mostra que é possível uma relação mais simples e saudável com a canábis: uma relação em que o respeito, o consumo responsável e a aceitação social substituem o medo e a repressão.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do 21º Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “Say What? Lisbon” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

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