Ciência
Canabinóides oferecem nova esperança no combate ao cancro do colo do útero
Uma revisão científica de estudos pré-clínicos recentemente publicada no Journal of Cancer Research and Clinical Oncology aponta para o potencial dos canabinóides como aliados no tratamento do cancro do colo do útero, especialmente em situações avançadas ou resistentes às terapias tradicionais. A investigação sugere que compostos presentes na planta da canábis, como o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), podem reforçar o arsenal terapêutico disponível e melhorar os resultados clínicos.
O cancro do colo do útero permanece entre as principais causas de morte por cancro em mulheres, ocupando o oitavo lugar entre todos os tipos de cancro e o quarto lugar entre os cancros que mais afectam as mulheres em todo o mundo, principalmente na África subsaariana. Embora a prevenção e o diagnóstico precoce tenham evoluído significativamente, muitos casos continuam a surgir em estágios tardios, com taxas de sobrevivência reduzidas e respostas terapêuticas insuficientes.
Segundo esta revisão, publicada a 16 de Outubro de 2025, diversos estudos pré-clínicos confirmam que a canábis tem potencial no tratamento deste tipo de cancro. Canabinóides como o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) demonstram efeitos anticancerígenos ao induzir apoptose, inibir a proliferação celular e suprimir metástases.
Actuando através de vários mecanismos moleculares associados ao sistema endocanabinóide, dois canabinóides proeminentes, o THC e o CBD, exibem propriedades anti-invasivas em células de cancro cervical, principalmente através da indução da expressão do inibidor tecidual da metaloproteinase-1 (TIMP-1), que é mediada pelos receptores canabinóides (CB1 e CB2).

O THC e o CBD aumentam a expressão de TIMP-1, que inibe a metaloproteinase de matriz 2 (MMP2) e bloqueia a angiogénese e a invasão tumoral. Os canabinoides induzem apoptose em células de cancro cervical aumentando a produção de espécies reativas de oxigénio (ROS), interrompendo o potencial da membrana mitocondrial, ativando vias de morte celular dependentes de caspases, regulando positivamente proteínas pró-apoptóticas e regulando negativamente proteínas antiapoptóticas. Em particular, o CBD demonstrou diversas propriedades anticancerígenas específicas, incluindo a indução de respostas imunes que obstruem a invasão tumoral e a angiogénese, a activação da via p38/MAPK, a modulação do eixo RhoA-FAK-Src, o aumento da síntese de ceramida através da activação do receptor CB e a regulação positiva da expressão normal de p53. Estes mecanismos, em conjunto, promovem a apoptose e inibem o crescimento, a sobrevivência e a angiogénese do cancro do colo do útero.
Os efeitos resultam da interacção dos canabinóides com diferentes mecanismos biológicos, incluindo o aumento de stress oxidativo nas células malignas e a modulação de vias de sinalização essenciais para a sobrevivência tumoral, como a PI3K/AKT/mTOR. A regulação de proteínas envolvidas na migração de células cancerígenas também pode contribuir para um comportamento tumoral menos agressivo.
Um dos pontos mais relevantes da revisão destaca a possível sinergia entre os canabinóides e a quimioterapia. Em modelos laboratoriais, a combinação com fármacos como a cisplatina parece potenciar os efeitos citotóxicos da terapia convencional. Este efeito poderá, no futuro, permitir reduzir as doses da quimioterapia, diminuindo efeitos secundários sem comprometer ou melhorando a sua eficácia.

A utilização de nanotecnologia em formulações com canabinóides surge como uma das estratégias mais inovadoras analisadas na revisão. Sistemas avançados de entrega, como nanopartículas, podem melhorar a estabilidade e a biodisponibilidade dos compostos da planta, além de permitirem uma administração mais precisa, direccionada ao tumor. Esta abordagem promete maior eficácia terapêutica e menor toxicidade em tecidos saudáveis, um dos desafios centrais no tratamento do cancro.
Apesar do entusiasmo crescente, os autores alertam para os limites actuais desta revisão. Até ao momento, toda a evidência deriva de estudos pré-clínicos, não havendo ainda ensaios clínicos em humanos que permitam confirmar segurança e eficácia. Para além disso, a grande heterogeneidade deste tipo de tumores pode exigir estratégias específicas e personalizadas, adaptadas ao perfil molecular de cada doente. Questões regulamentares e farmacológicas, como a baixa biodisponibilidade dos canabinóides, continuam também a ser obstáculos à translação destes resultados para a prática médica.
Ainda assim, os investigadores concluem que a integração dos canabinóides como terapia adjuvante poderá representar um avanço relevante no tratamento do cancro do colo do útero. À medida que a ciência avança e se abre caminho para ensaios clínicos robustos, esta abordagem poderá trazer uma nova esperança a milhares de mulheres que enfrentam esta doença todos os anos.
Leia abaixo a revisão na íntegra:
s00432-025-06323-6
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do 21º Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “Say What? Lisbon” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.



