Connect with us

Crónica

O que o Japão pode aprender com as exposições de canábis da Europa?

Publicado

em

Ouvir este artigo
Reading Time: 5 minutes

Introdução: Quando a Canábis se torna cultura

Quando nós, na CBD Library, publicámos no X (antigo Twitter) sobre o que testemunhámos nas principais feiras europeias de canábis, não esperávamos a reação que obtivemos. A publicação — com frases como “acidentalmente drogado por fumo passivo”, “mudas de canábis gratuitas a serem distribuídas” e “uma área de recreio infantil ao lado de uma banca de canábis” — rapidamente superou o nosso envolvimento habitual por uma larga margem.

Para o leitor casual, estas podem soar como piadas de uma comédia surrealista. Mas aqui está a questão: são todas reais. Nós vimo-lo com os nossos próprios olhos. Sem enfeites, sem ficção. E enquanto nos ríamos do absurdo de tudo isto, houve um momento — tranquilo, sóbrio — em que nos perguntámos: «Espera, será que isto é mesmo motivo para rir?»

Porque por detrás da névoa e do exagero, o que vimos foi um contraste impressionante: países onde a política se tornou cultura, e outros — como o nosso — onde as leis existem, mas a cultura fica para trás.

“No fumo destas exposições europeias, não vimos apenas o que falta ao Japão, mas também aquilo que poderá vir a ser um dia”

Cannafest (República Checa): Onde a política e a cultura coexistem pacificamente

Realizada em Praga, a Cannafest é uma das maiores exposições de canábis da Europa, com mais de 30.000 visitantes anualmente. Já fomos três vezes e sempre o clima de tranquilidade é marcante. Este não é um lugar de celebração caótica, mas de integração normalizada.

Os produtos de CBD estão alinhados ao lado de artigos médicos, industriais e de bem-estar. Os stands oferecem de tudo, desde tratamentos para animais de estimação a produtos de beleza e alimentos funcionais. Uma família pode parar para comer um hambúrguer de cânhamo enquanto os seus filhos desfrutam da área infantil.

▲ Se o conceito for dirigido aos grandes consumidores recreativos de canábis — os chamados “pedrados” — então instalações como esta seriam provavelmente desnecessárias. A Cannafest reflecte uma sociedade onde a canábis não é uma ameaça, mas uma ferramenta — administrada com racionalidade e aceite com maturidade. A presença de seminários e mesas redondas mostra que a educação caminha lado a lado com o entretenimento.

Mary Jane (Alemanha): Quando a legalização chega antes da cultura

Em contraste, a Mary Jane Berlin, realizada logo após a legalização parcial da canábis recreativa na Alemanha, foi electrizante — e caótica. Mais de 40.000 participantes encheram a Messe Berlin. O ar estava carregado de fumo, a música alta e o ambiente estava entre uma feira de negócios e um festival de música. Os serviços de urgência reportaram 20 pessoas hospitalizadas só no primeiro dia. Mas o evento continuou. Os food trucks fizeram um óptimo negócio. A segurança estava presente, mas não era excessiva.

▲ Aliás, “larica” ​​refere-se aos desejos intensos por comida frequentemente sentidos após o consumo de canábis — um efeito secundário bem conhecido entre os utilizadores.
Por entre a neblina, as cabines do CBD serviam como ilhas de calma. Principalmente em cosmética, o interesse era elevado e as filas eram longas. Mary Jane expôs a energia bruta que a legalização pode libertar — tanto a sua promessa como os seus perigos.

▲No segmento da cosmética e beleza em particular, era praticamente o palco exclusivo do CBD — iam-se formando filas silenciosas de quem sabia.

■ Spannabis (Espanha): Quando a Canábis Deixa de Ser “Especial”

A Spannabis, realizada em Barcelona, ​​​​pareceu mais um ritual do que uma exposição. O fumo subia pelo ar do Mediterrâneo enquanto a música tocava e os charros eram passados ​​de mão em mão. Aqui, a canábis não era um tema; era o pano de fundo.

▲Só de andar por ali, o fumo passivo acabava nos pulmões antes mesmo de se aperceber — e quando dava por si, estava a pensar: “Hum… isto é um bocado divertido”.

Ao contrário das outras exposições, o CBD quase não teve presença. Não houve promoções vistosas nem esforços educativos profundos. Porquê? Porque nos clubes de canábis e na cultura casual de Espanha, o CBD não é uma alternativa; é apenas normal.

A exposição não era sobre defender a canábis. Tratava-se de celebrar o que já é.

▲De acordo com as regras oficiais da Spannabis, a venda e distribuição de produtos com THC são proibidas. E, no entanto, é precisamente esta desconexão entre a política oficial e a realidade local que pode captar melhor a essência da própria Spannabis.

■ Japão: Lei sem Cultura

No Japão, o CBD é tecnicamente legal.
No entanto, socialmente, continua a ser marginalizado. A cobertura mediática é limitada, a publicidade é fortemente restringida e as instituições financeiras tratam frequentemente o sector com desconfiança. As plataformas de comércio electrónico suspendem frequentemente listagens de produtos de CBD.

Além disso, se for descoberto que alguém consumiu canábis — mesmo em pequenas quantidades — será preso, independentemente da sua condição pública, e o seu caso é frequentemente transmitido repetidamente nos noticiários nacionais.
Cria-se assim uma associação forte e persistente na mente do público: “canábis é igual a crime”.
O estigma continua profundamente enraizado na sociedade japonesa.

Esta situação não se deve a maus produtos ou à falta de procura.
A questão central reside na ausência de compreensão cultural em torno da canábis e do CBD. O Japão tem leis.
O que falta é o enquadramento cultural necessário para interpretar e integrar estas leis de forma significativa na sociedade.

■O que deve ser cultivado não é apenas cânhamo, mas cultura

O que deve ser cultivado não é apenas cânhamo, mas cultura. Então o que será necessário? Acreditamos que o CBD no Japão não é apenas um mercado a ser expandido, mas uma cultura a ser cultivada.

Tal como os cuidados com a pele ganharam respeito global através da beleza japonesa — com os seus valores de minimalismo, pureza e artesanato — talvez o CBD japonês possa encontrar o seu próprio caminho. Mas isso exige que nós, como meios de comunicação social e como cidadãos, nos envolvamos com o tema para além da conformidade e em direção à curiosidade. Não podemos confiar apenas na lei. Devemos também nutrir a narrativa. E neste esforço, o que vimos em Praga, Berlim e Barcelona não foi apenas um espectáculo exótico. Foi um espelho — e talvez um mapa.

Em resumo…

▲ Cannafest (República Checa), Mary Jane (Alemanha) e Spannabis (Espanha)

Neste relato, reflectimos sobre as nossas visitas às três maiores feiras de canábis da Europa — Cannafest (República Checa), Mary Jane (Alemanha) e Spannabis (Espanha) — para explorar como a política da canábis evolui para a cultura. O que assistimos não foram apenas exposições de produtos ou festivais de estilo de vida, mas atitudes sociais distintas em relação à normalização, integração e identidade.

Desde a coexistência tranquila de política e educação no Cannafest, à explosão caótica de energia recém-legalizada de Mary Jane, à cultura da canábis totalmente enraizada na Spannabis, onde o CBD desaparece do quotidiano, vimos o espectro do que significa quando a canábis já não é tabu, mas parte da vida cívica.

Entretanto, no Japão, o CBD continua isolado — legalmente permitido, mas culturalmente marginalizado. A lacuna não é apenas regulatória. É narrativa.

Para cultivar uma cultura de canábis verdadeiramente sustentável, o Japão deve fazer mais do que permitir o produto. Deve também envolver-se com as histórias, valores e comunidades que lhe dão significado. No fumo destas exposições europeias, não vimos apenas o que falta ao Japão, mas também aquilo que poderá vir a ser um dia.

 

____________________________________________________________________________________________________

[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

____________________________________________________________________________________________________

O que fazes com 3€ por mês? Torna-te um dos nossos Patronos! Se acreditas que o Jornalismo independente sobre canábis é necessário, subscreve um dos níveis da nossa conta no Patreon e terás acesso a brindes únicos e conteúdos exclusivos. Se formos muitos, com pouco fazemos a diferença!

Takuya Aiuchi
Contributor at  |  + posts

Takuya Aiuchi é o fundador da principal plataforma de informação sobre CBD do Japão, a "Biblioteca CBD". Pioneiro na indústria, contribui com artigos para os meios de comunicação social nacionais e internacionais sobre canábis e participa extensivamente em exposições internacionais. Takuya envolve-se activamente no avanço do conhecimento e das tendências relativas ao CBD e aos canabinoides nos mercados japonês e internacional.

Aiuchi é ainda membro da Sociedade Japonesa de Canabinoides Clínicos e concluiu com distinção os cursos de Consultor de Canábis MM411, Bem-Estar Médico CBD MM411, Gestor de Assuntos Farmacêuticos Qualificado, Especialista Avançado em Rotulagem de Alimentos Funcionais e Examinador Certificado de Aromaterapia de Nível 1.

Clique aqui para comentar
Subscribe
Notify of

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Publicidade


Veja o Documentário "Pacientes"

Documentário Pacientes Laura Ramos Ajude-nos a crescer

Mais recentes

Análise4 dias atrás

A Tailândia encontrou a solução onde os países europeus ainda vêem um problema

Reading Time: 13 minutesNa minha segunda passagem pela Tailândia fiquei, mais uma vez, surpreendida pela positiva. Depois de visitar várias...

Eventos4 dias atrás

Embaixada Real da Tailândia em Tóquio promove “Adaptação do Cânhamo Internacional às Novas Regulamentações do Japão”

Reading Time: 3 minutesRealiza-se amanhã, dia 13 de Novembro de 2025, o Encontro Internacional de Negócios “Adaptando o Mercado Internacional...

Nacional5 dias atrás

Portugal: Infarmed actualiza listas e remove licenças de mais duas empresas de canábis medicinal

Reading Time: 2 minutesO Infarmed atualizou a listagem pública de entidades licenciadas para actividades com canábis medicinal em Portugal. As...

Nacional5 dias atrás

Portocanna reforça portefólio Hexacan com nova solução sublingual com 20% de THC

Reading Time: 2 minutesA empresa portuguesa Portocanna anunciou o lançamento do Hexacan® Hexa 01 Extrato Oleoso de Canábis THC 20%,...

Nacional6 dias atrás

Cypress Hill confirmados no Rock in Rio Lisboa 2026

Reading Time: 2 minutesA lendária banda americana Cypress Hill, cujos temas “Insane in the Brain” e “Hits from the Bong”...

Corporações6 dias atrás

EUA: Trabalhadores da Green Thumb Industries garantem contrato colectivo após 45 dias de greve

Reading Time: < 1 minuteOs trabalhadores da Green Thumb Industries, uma das maiores empresas multi-estatais de canábis dos Estados Unidos...

Corporações2 semanas atrás

Suíça: Pacrim assume controlo da Medropharm e prepara nova fase de expansão na canábis medicinal

Reading Time: 2 minutesA Pacrim adquiriu dois terços da empresa Medropharm, na Suíça, passando a controlar a empresa e o...

Ciência2 semanas atrás

África do Sul: Investigadores descobrem compostos fenólicos raros nas folhas de canábis 

Reading Time: 4 minutesInvestigadores da Stellenbosch University, na África do Sul, descobriram que são produzidos flavoalcalóides nas folhas da planta...

Comunicados de Imprensa2 semanas atrás

Covilhã – Desmantelamento de duas estufas de canábis

Reading Time: < 1 minuteO Comando Territorial de Castelo Branco, através do Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da Covilhã, no...

Eventos2 semanas atrás

Tóquio acolhe a Japan International Hemp Expo a 14 e 15 de Novembro de 2025

Reading Time: 4 minutesPela primeira vez desde a reforma legal, o Japão abre as portas à indústria global do cânhamo...