Connect with us

Opinião

O principal erro da legalização na Alemanha

Publicado

em

Ouvir este artigo
Foto: D.R.
Reading Time: 3 minutes

A primavera alemã vai chegar com novas flores. A Alemanha é o terceiro país da União Europeia a legalizar totalmente a planta, depois de Malta e do Luxemburgo, faltando apenas a aprovação do Conselho de Estados. Nos outros países da União Europeia já existe um imenso mercado legal de CBD e outros cannabinóides, podendo este ser entendido também como ‘mercado sem THC’. No entanto, a Alemanha cometeu um erro crucial.

Com o avanço alemão já são mais de 9 os países a regulamentar o chamado “mercado recreativo” ou o “uso adulto” de canábis a nível global. Basicamente, que todos os países do mundo têm alguma abertura ou legislação para o uso medicinal. 

Desde que o Uruguai abriu o caminho das legalizações há 10 anos, na esfera nacional, tem vindo a acontecer uma onda anti-proibicionista que abre espaço para sonhar com mais justiça e quem sabe com o fim da guerra às drogas. Temos muita coisa para comemorar e aprender com esses processos e é importante enfatizar a dedicação de milhares de militantes pela causa canábica no mundo, incansáveis na missão.

“A premissa que precisamos ter quando pensamos na legalização é que os consumidores já usam canábis, independentemente da legislação. (…) Portanto, as leis não podem ser criadas como se não existisse uma cadeia produtiva complexa”.

Faz mais de dois anos que a lei da legalização alemã vem sendo desenhada e aguardada com muito optimismo. Era esperado um desenho inovador e de vanguarda, dada a importância do país no cenário europeu e global. Mas o que a gente vê hoje na lei não reflecte as expectativas do processo de elaboração e nem o impacto desejado pela articulação do movimento. O universo da política decepciona um pouco, mas a votação foi significativa: quase o dobro a favor da legalização. A luta não termina com a legalização e o esforço é contínuo para atender as necessidades das pessoas.

A premissa que precisamos ter quando pensamos na legalização é que os consumidores já usam canábis, independentemente da legislação. O acesso é muito fácil e amplo em grande parte do mundo. Portanto, as leis não podem ser criadas como se não existisse uma cadeia produtiva complexa, estruturada e internacional, estabelecida há mais de 100 anos dentro do proibicionismo. 

“Não implementar a cadeia produtiva total da planta com um acesso amplo pode ser um tiro no pé.”

Dito isto, vamos ao erro fundamental da legalização alemã: o acesso!

5 problemas principais: 

  1. Cultivo caseiro de 3 plantas, com limite de 50g por habitação, demonstra que quem negociou esses números não entende de canábis, não utiliza e nunca cultivou. Não cumpre totalmente a função e liberdade das pessoas de cultivar. Ter mais de 3 plantas pode ser usado para penalizar quem passar desse limite. Na Califórnia são 6 plantas, no Canadá são 4, mas existem outros exemplos melhores no planeta, como a Tailândia, onde o cultivo é ilimitado.
  2. O comércio de canábis no sistema de dispensários não foi incluído na lei. Pelo menos inicialmente, não haverá lojas com produtos de THC, apesar de já existirem centenas de lojas de “CBD” com uma grande infinidade de produtos, inclusive psicotrópicos. Importante realçar que estamos a falar da mesma planta.
  3. O sistema “Clube” (associações, clubes de compaixão, clube social)  é um sistema de transição que será adoptado para grupos de cultivo com até 500 pessoas. Esse sistema não dá amplo acesso à diversidade de produtos que o mercado “recreativo” tem. Basta ver a implementação dos clubes no Uruguai.  Além disso, na lei alemã vai ser limitado a 50g de flor por mês. Comparando com o mercado canadiano, uma pessoa pode adquirir 30g por compra. O limite está muito mais no dinheiro que se quer gastar do que na limitação por gramas.
  4. Na falsa tentativa de tentar proteger os jovens, a lei coloca uma limitação de THC para pessoas de 18 a 21 anos. Não faz sentido, porque não é possível controlar e fiscalizar o limite imposto. É a parte da lei que serve para conservador ver. Quando se entende sobre a manufactura dos produtos de canábis e sobre a forma de consumo percebe-se que, na prática, será impossível de implementar.
  5. Finalmente, os turistas não terão acesso ao mercado alemão. Isto é suposto acontecer num país que faz fronteira com outros 9 países e que tem um turismo mundial imenso.

Ou seja, ao invés de inovar e propor os próximos passos do futuro das legalizações mundiais, a Alemanha chegou tímida, fazendo uma bricolagem do que deu errado no Canadá e no Uruguai. Esqueceu-se de olhar para a Tailândia e não vai ajudar a cumprir os objectivos do governo alemão de acabar com mercado ilegal, reduzir o dinheiro do tráfico de drogas e aumentar a qualidade e segurança dos produtos. Sem falar no acesso ao uso medicinal.

Não implementar a cadeia produtiva total da planta e dar acesso amplo pode ser um tiro no pé no cenário conservador e facista que se impõe na Alemanha de hoje em dia. É preciso lembrar que a legalização é um processo longo e que a regulamentação será um novo capítulo nessa história.  

________________________________________________________________
Luna Vargas é antropóloga, educadora canábica, palestrante e fundadora da Inflore, uma plataforma educativa que se dedica a formar profissionais no sector da canábis. Luna nasceu no Brasil e pesquisa processos de legalização em diferentes países do mundo. Actualmente mora na Tailândia.

 

____________________________________________________________________________________________________

[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

____________________________________________________________________________________________________

O que fazes com 3€ por mês? Torna-te um dos nossos Patronos! Se acreditas que o Jornalismo independente sobre canábis é necessário, subscreve um dos níveis da nossa conta no Patreon e terás acesso a brindes únicos e conteúdos exclusivos. Se formos muitos, com pouco fazemos a diferença!

Luna Vargas
+ posts

Luna Vargas é pioneira na educação canábica no Brasil e fundadora da Inflore, organização que forma e treina profissionais da indústria da canábis. Luna já capacitou mais de 1000 alunos em 24 países, promovendo conhecimento com foco em qualidade e segurança. Fundou a Polen Recruta, a primeira empresa de RH do Brasil que tem como missão resolver o problema de mão de obra qualificada para o mercado que cresce exponencialmente. Luna realiza pesquisas sobre a legalização e regulamentação da canábis em diversos países e trabalha para disseminar educação e informação sobre o tema. Além disso, é uma activa comunicadora, palestrante e autora de artigos em diferentes meios de comunicação, impulsionando a consciencialização e o crescimento do mercado da canábis.

3 Comments
Subscribe
Notify of

3 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Publicidade


Veja o Documentário "Pacientes"

Documentário Pacientes Laura Ramos Ajude-nos a crescer

Mais recentes

Internacional3 dias atrás

Alemanha: Importações de canábis disparam 400%. Governo pede à Comissão Europeia para endurecer regras de acesso

Reading Time: 3 minutesA Alemanha enviou recentemente à Comissão Europeia um rascunho para um projecto de lei que propõe reforçar...

Internacional3 dias atrás

Jarred Shaw arrisca pena de morte na Indonésia por encomendar gomas de canábis para a Doença de Chron: “Estão a retratar-me como um grande traficante”

Reading Time: 3 minutesJarred Dwayne Shaw, o basquetebolista norte-americano de 35 anos que foi preso em Maio na Indonésia por...

Internacional4 dias atrás

Espanha aprova Decreto Real para regulamentar o uso medicinal de canábis em fórmulas magistrais

Reading Time: 2 minutesO Conselho de Ministros espanhol aprovou um novo Decreto Real que regula o uso medicinal de preparados...

Comunicados de Imprensa1 semana atrás

Vila Viçosa – Dois detidos por tráfico de estupefacientes

Reading Time: < 1 minuteO Comando Territorial de Évora, através do Núcleo de Investigação Criminal de Reguengos de Monsaraz, no...

Eventos1 semana atrás

A discussão acesa sobre a descriminalização da canábis com os partidos políticos foi o momento sui generis da PTMC25

Reading Time: 18 minutesNo final do dia de conferências da Portugal Medical Cannabis 2025 (PTMC25), em Lisboa, teve lugar um...

Eventos1 semana atrás

Hemp for the Future: Conferência sobre cânhamo e canábis arranca amanhã na Islândia

Reading Time: 2 minutesArranca amanhã em Reiquiavique a segunda edição da conferência Hemp for the Future, um evento que reúne...

Eventos2 semanas atrás

‘Science in the City’ em Bordéus debateu a regulamentação da canábis medicinal em França

Reading Time: 14 minutesA importância da educação médica, a harmonização dos produtos e das leis europeias e a comparticipação das...

Internacional2 semanas atrás

Trump promove vídeo a defender CBD para seniores e bolsa de valores reage

Reading Time: < 1 minuteDonald Trump publicou na sua rede Truth Social um vídeo, sem descrição, a explicar o funcionamento...

Comunicados de Imprensa2 semanas atrás

Penamacor – Detido por cultivo de canábis

Reading Time: < 1 minuteO Comando Territorial de Castelo Branco, através do Posto Territorial de Penamacor, no dia 20 de...

Cânhamo4 semanas atrás

Reconhecimento legal das flores de cânhamo vai a discussão no Parlamento Europeu

Reading Time: 3 minutesA Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu (AGRI) aprovou em Setembro uma emenda que reconhece as flores...