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Da renascença à revolução: Não se pode soletrar saúde mental no século XXI sem psicadélicos

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A conferência Psychedelic Science, que decorreu em Denver, no Colorado. Foto: Luna Vargas
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A Psychedelic Science 2025, realizada em Denver, no Colorado, de 16 a 20 de Junho, foi uma fusão de ciência, mercado e cultura psicadélica. O evento acolheu cerca de 8,000 participantes e escancarou a urgência de conectar saberes tradicionais, políticas públicas e avanços científicos.

A conferência bienal aconteceu num cenário internacional turbulento: o genocídio do povo palestiniano, o apoio dos EUA a Israel na sua escalada sionista e os ataques contra o Irão. Somadas às práticas de xenofobia e às políticas migratórias racistas, essas condições impediram a presença de grande parte do público internacional. Internamente, o país enfrentava protestos contra o governo e episódios crescentes de violência contra imigrantes.

Além disso, o clima na cena psicadélica já estava abatido desde a rejeição da terapia com MDMA pelo FDA. Esse conjunto de factores transformou o evento num espaço mais contido, o que muitos chamaram de “fase de integração” da tão falada “renascença psicadélica”.

Rick Doblin, fundador da MAPS, reconheceu os tempos difíceis:

“Estamos abatidos e magoados, e ainda assim estamos de pé”, afirmou, acrescentando que o foco agora é integrar ciência, política, espiritualidade e pesquisa para continuar a missão de tornar as terapias psicadélicas uma realidade na saúde mental global.

Apesar das derrotas regulamentares, Doblin apresentou avanços locais e dimensionou o panorama global:

  • Nos estudos com TEPT, tanto o MDMA como a canábis têm mostrado resultados promissores, especialmente para veteranos de guerra — público frequentemente usado como ponte de empatia com a opinião pública;
  • Países como Austrália, Portugal, República Checa, Canadá e Suíça têm-se tornado referência com programas de acesso e regulamentação inovadores;
  • Em regiões directamente afectadas por conflitos — Palestina, Israel, Somália, Líbano, Ucrânia — surgem iniciativas de cuidado e pesquisa como resposta concreta ao trauma e ao sofrimento.

Nos Estados Unidos:

  • O Texas aprovou 50 milhões de dólares para estudar ibogaína no tratamento de TEPT, depressão e dependência química em veteranos;
  • O Oregon segue como pioneiro na descriminalização de todas as drogas, sendo o primeiro estado a fazê-lo para todas as substâncias;
  • E o Colorado não apenas legalizou a psilocibina, mas o governador Jared Polis anunciou no evento também o perdão judicial às pessoas condenadas pela sua posse e uso.

Apesar do evento ter sido mais pequeno que edições anteriores e marcado por uma “ressaca regulamentar”, a conferência manteve a sua essência. Houve destaques nos workshops iniciais, na cena cultural do Deep Space e na feira com dezenas de empresas do sector psicadélico.

Comunidade indígena aumenta

A presença de indígenas brasileiros aumentou, indicando uma tentativa mais consistente de conexão com saberes ancestrais. A sessão plenária de abertura incluiu reconhecimento territorial e orações de lideranças indígenas, reforçando o respeito às plantas medicinais e tradições de cura.

As comunidades negra e latina também ampliaram a sua presença, com um maior número de palestrantes, mesas de debate e eventos paralelos dedicados à inclusão em uma cena branca.

Com mais de 700 palestrantes, a variedade de temas e visões sobre múltiplas substâncias é uma oportunidade para a reflexão. Desde Paul Stamets, que trouxe a sua perspectiva humanista neoliberal, apresentando a sua pesquisa histórica impressionante sobre fungos, até Carl Hart, que corajosamente intitulou a sua apresentação “O excepcionalismo dos psicadélicos está a matar-nos”, ao levantar uma crítica fundamental: a selectividade entre substâncias consideradas “boas” e outras estigmatizadas e as implicações reais disso numa sociedade que criminaliza e mata pessoas por essas escolhas.

A conferência encerrou com o sentimento de renovação para o futuro: integrou as dores e avanços dos últimos dois anos, reafirmando o compromisso de trabalhar para um mundo livre de traumas até 2070 com a combinação fundamental de substâncias e terapias.

A ciência e a pesquisa seguem fortalecidas, com décadas de dados já a comprovar a eficácia das terapias psicadélicas. O grande entrave, como sempre, são as políticas públicas e o estigma social. E nesse ponto, países latino-americanos e europeus têm mais margem de avanço que os EUA.

No fim de contas, a ciência e o mercado psicadélico colocam em xeque o próprio sistema capitalista. Por isso, talvez seja hora de mudar o slogan da cena. O renascimento psicadélico já aconteceu, agora precisamos de uma revolução psicadélica com acesso amplo e de qualidade para as populações do mundo inteiro.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Luna Vargas
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Luna Vargas é pioneira na educação canábica no Brasil e fundadora da Inflore, organização que forma e treina profissionais da indústria da canábis. Luna já capacitou mais de 1000 alunos em 24 países, promovendo conhecimento com foco em qualidade e segurança. Fundou a Polen Recruta, a primeira empresa de RH do Brasil que tem como missão resolver o problema de mão de obra qualificada para o mercado que cresce exponencialmente. Luna realiza pesquisas sobre a legalização e regulamentação da canábis em diversos países e trabalha para disseminar educação e informação sobre o tema. Além disso, é uma activa comunicadora, palestrante e autora de artigos em diferentes meios de comunicação, impulsionando a consciencialização e o crescimento do mercado da canábis.

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