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Ciência

Estudo revela que incapacidade para conduzir depois de utilizar canábis pode durar mais de cinco horas

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Um estudo publicado no Journal of Psychopharmacology vem contrariar a percepção dos utilizadores de canábis que acreditam estar aptos a conduzir apenas algumas horas após o consumo de THC. Em oposição ao pressuposto comum de que as capacidades de condução retornam à normalidade no espaço de três horas, os investigadores descobriram que as perturbações na condução relacionadas com a canábis podem persistir por mais de cinco horas, mesmo quando os utilizadores se sentem sóbrios e prontos para conduzir. O estudo envolveu e acompanhou 38 adultos com um consumo semanal de canábis e experiência de condução de pelo menos dois anos.

Esta investigação chama a atenção para a discrepância entre a percepção e a capacidade real de condução após o consumo de canábis. Com a legalização do consumo de canábis a difundir-se globalmente e milhões de pessoas a consumi-la regularmente, estas descobertas possuem implicações críticas para a segurança pública, a política e a responsabilidade pessoal.

O consumo de canábis está a aumentar – e os incidentes de trânsito relacionados com a canábis também

Em 2021, mais de 52 milhões de cidadãos norte-americanos declararam consumir canábis. Concomitantemente, tem-se verificado um aumento dos acidentes rodoviários envolvendo condutores com THC positivo. Não obstante, a investigação existente tem-se esforçado por acompanhar as tendências de consumo de canábis no mundo real e as suas consequências para a segurança rodoviária.

De acordo com os investigadores, o presente estudo emergiu da necessidade premente de compreender durante quanto tempo a canábis compromete efectivamente a capacidade de condução de um indivíduo. Os estudos anteriores concentraram-se predominantemente em períodos reduzidos, principalmente nas primeiras três horas após a sua ingestão. Contudo, esta janela estreita de observação deixa pontos cegos críticos, em especial porque os utilizadores se sentam frequentemente ao volante antes de as suas perturbações terem diminuído.

Estrutura do estudo: Um aprofundamento da condução sob o efeito da canábis

Para compreender melhor como a canábis afecta a condução ao longo do tempo, os investigadores conceberam uma experiência laboratorial rigorosa. Eis como funcionou:

  • Participantes: 38 adultos saudáveis com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos, cada um com pelo menos dois anos de experiência de condução em auto-estrada e consumo semanal de canábis.
  • Metodologia: Trata-se de um estudo aleatório, double-blinded, controlado por placebo, no qual os participantes estiveram envolvidos em três sessões, ao longo de um dia inteiro. Cada sessão envolvia a inalação de um placebo, uma dose baixa de THC (5,9%) ou uma dose alta de THC (13%) utilizando um vaporizador.
  • Simulações de condução: Os participantes executaram tarefas de condução simulada, em quatro momentos distintos, ao longo de um período de oito horas. Durante este tempo, foram avaliadas competências como a manutenção na faixa de rodagem, o seguimento de outros veículos e a ultrapassagem.

Principais conclusões: A canábis prejudica a condução durante mais tempo do que os utilizadores imaginam

Os resultados revelaram deficiências claras e consistentes em vários comportamentos de condução:

  1. Manutenção da faixa de rodagem: Controlo reduzido
    • Após uma dose baixa de THC, os participantes fizeram menos correcções de direcção durante 3,5 horas.
    • Após uma dose elevada de THC, as deficiências duraram até 5,5 horas – muito para além do tempo que os utilizadores normalmente acreditam estar “bem” para conduzir.
  2. Seguimento de automóveis: Tempos de reacção mais lentos
    • Os participantes demonstraram uma utilização menos consistente do pedal do acelerador e reacções retardadas até três horas após a administração de uma dose elevada de THC.
  3. Ultrapassagem: Aumento da assunção de riscos
    • Os participantes que ingeriram doses elevadas procuraram realizar manobras mais arriscadas, incluindo a escolha de espaços mais estreitos entre os veículos e o prolongamento do tempo de permanência na faixa de rodagem em oposta. Esta situação constitui um indicador evidente de falta de discernimento e um aumento do risco de ocorrência de um acidente.

Uma das conclusões mais alarmantes foi o desfasamento entre a percepção e a incapacidade real:

  • A maioria dos participantes sentia-se “suficientemente sóbria para conduzir” ao fim de apenas duas a três horas, apesar de as perturbações mensuráveis durarem muito mais tempo.
  • Cerca de dois terços dos utilizadores estavam dispostos a conduzir enquanto ainda estavam objectivamente alterados – demonstrando os perigos da sobriedade auto-avaliada.

Níveis sanguíneos de THC: Uma medida pouco fiável para avaliar a incapacidade

Outra conclusão de relevo suscitada no âmbito do presente estudo coloca em causa o actual enquadramento jurídico associado à condução sob o efeito de canábis:

  • As concentrações de THC no sangue e na saliva não previram de forma fiável a incapacidade de conduzir.
  • Os participantes com níveis elevados de THC tiveram, por vezes, um melhor desempenho do que os que apresentavam níveis mais baixos, o que compromete a utilização de marcadores biológicos para avaliar a incapacidade.

Esta descoberta vem acentuar as preocupações crescentes de que os limites de THC no sangue, frequentemente utilizados na legislação referente à condução sob o efeito do álcool, não reflectem com precisão a capacidade de conduzir em segurança.

Implicações para a segurança pública e as políticas

Sendo a canábis a segunda substância recreativa mais utilizada depois do álcool, é fundamental compreender o seu impacto real no comportamento de condução. Este estudo vai mais longe do que a investigação anterior:

  • Avaliação dos efeitos num período de tempo alargado.
  • Utilização de dosagens padronizadas para todos os participantes.
  • Testar várias dimensões da capacidade de condução, incluindo a atenção, o controlo e a tomada de decisões.

Reforça igualmente a ideia de que a sobriedade subjectiva não é fiável e que os actuais métodos de teste do THC podem não ser suficientes para determinar a incapacidade em tempo real.

Limitações: O que faltou e o que vem a seguir

Embora o estudo ofereça informações valiosas, os investigadores reconheceram certas limitações:

  • A dimensão da amostra foi modesta e incluiu poucas mulheres, adultos mais velhos ou utilizadores ocasionais, o que limita a aplicação geral dos resultados.
  • As condições de condução simuladas, embora avançadas, não podem imitar totalmente os ambientes do mundo real com elementos imprevisíveis como o tráfego e as condições meteorológicas.

Olhando para o futuro, a equipa de investigação planeia:

  • Incorporar técnicas de imagiologia cerebral (fMRI) para observar como a canábis afecta a actividade neural durante a condução.
  • Investigar o impacto de concentrações mais elevadas de THC.
  • Explorar os efeitos de tolerância entre os utilizadores frequentes.
  • Desenvolver instrumentos de avaliação alternativos para além dos níveis biológicos de THC para os testes de sobriedade na estrada.

Repensar a canábis, a condução e a sensibilização do público

Este estudo transmite uma mensagem crítica: o consumo de canábis compromete as capacidades de condução por um período mais longo do que a maioria dos consumidores imagina e as percepções subjectivas de sobriedade podem ser perigosamente enganosas. As campanhas de saúde pública devem educar os utilizadores sobre os riscos de conduzir demasiado cedo após o consumo de canábis. Entretanto, os decisores políticos devem proceder à reavaliação das leis sobre a incapacidade baseada no THC, bem como considerar ferramentas de avaliação comportamental e cognitiva mais precisas.

À medida que a legalização se propaga, a garantia da segurança rodoviária requer regulamentos fundamentados em evidências, métodos de teste mais engenhosos e uma população esclarecida que compreenda que o estado de sobriedade não é sinónimo de não estar sob o efeito da canábis.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Com formação profissional em desenho técnico CAD (2D e 3D), João Xabregas é activista e defensor de todos os usos e aplicações da canábis. Encontrou e entrou no mundo canábico ainda durante os seus tempos de juventude, onde ganhou especial interesse pelo cultivo da planta, o que o levou a uma jornada de auto-aprendizagem pelo mundo da canábis que ainda continua nos dias de hoje. As suas aventuras ligadas ao cultivo de canábis iniciaram-se com o mesmo objectivo de muitos outros: poder garantir a qualidade e eliminar quaisquer possíveis riscos para a sua saúde daquilo que consumia, bem como evitar quaisquer tipos de dependências do mercado ilícito. No entanto, rapidamente passou a encarar o mundo da canábis e tudo o que a ela diz respeito com um olhar bastante diferente. Assume a enorme paixão que nutre pela planta mais perseguida do mundo e sobre a qual está sempre disposto a escrever e a ter uma boa conversa.

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Reinhold
3 meses atrás

An der Studie nahmen 38 Erwachsene teil..

auch wenn da double-blinded steht.. mit so wenigen Personen ist die Studie nicht belastbar..

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