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Entrevistas

Jacqueline Poitras: “Os médicos são dolorosamente ignorantes quando se trata de canabinóides e dos seus efeitos no corpo humano”

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Fundadora da ‘MAMAKA- Mothers for Cannabis’, uma associação para pacientes de canábis medicinal da Grécia, Jacqueline Poitras tem sido uma das principais activistas pelos direitos dos pacientes europeus, participando em vários eventos em todo o mundo, incluindo no Parlamento Europeu. Actualmente, é membro do Conselho de Pacientes da IACM, que esta semana participa, pela primeira vez, na 67ª sessão da Comissão de Estupefacientes (CND) das Nações Unidas (ONU), em Viena, na Áustria.

Mãe de uma jovem com Síndrome de Aicardi, Jackie, como é conhecida no meio, foi defensora do movimento das pessoas com deficiência na Grécia durante grande parte da vida da sua filha, antes de descobrir os benefícios terapêuticos da canábis em 2014.

Através da MAMAKA, Jacqueline desempenha um papel de liderança nas mudanças nas políticas relativas à canábis na Grécia e reúne-se frequentemente com membros do Ministério da Saúde e do governo grego nos seus esforços para promover o acesso gratuito à canábis para pacientes em toda a Grécia e no resto da Europa. Falámos com ela para conhecer melhor o seu percurso pelo mundo da canábis medicinal.

Jacqueline Poitras tem sido activista pela mudanças nas políticas relativas à canábis na Grécia e na Europa

Quando e por que é que decidiu fundar a associação de pacientes Mamaka?
A Mamaka oficialmente reconhecida pelo Estado grego em 2018, mas já estava envolvida não oficialmente na defesa e educação dos pacientes desde 2015.

Como é que a canábis ajuda a sua filha? Que melhorias teve com a canábis em comparação com outros medicamentos?
A minha filha Maia tem sido bastante ajudada pela canábis desde o início de 2014. As suas crises epilépticas refractárias reduziram substancialmente e conseguimos retirá-la de dois dos seus três medicamentos anti-epilépticos. Está mais forte, mais saudável, entende mais e o seu QI emocional melhorou muito. Ela nunca chorava, por nenhum motivo. Agora ela chora, fica com raiva e geralmente é uma pessoa mais feliz. E dormir! As famílias que criam crianças com deficiências complicadas muitas vezes têm uma queixa comum: a falta de sono. Passei anos com uma séria privação de sono e encontrei inúmeras maneiras de tentar administrar algumas horas entre os seus períodos de vigília. Desde a descoberta da canábis, muitas dessas situações são coisa do passado. Não é perfeito, mas certamente é uma melhoria em relação ao que era. Os medicamentos farmacêuticos muitas vezes criaram mais problemas do que resolveram. Começar um novo medicamento pode significar todo um novo conjunto de efeitos colaterais a serem enfrentados, levando a novos medicamentos para lidar com esses problemas. A canábis não resolve o problema, mas traz um melhor equilíbrio a todo o sistema, o que nega a necessidade de polifarmácia.

Que tipo de produtos usa e como os consegue?
Até agora, estivemos completamente dependentes do mercado ilegal. Felizmente, existem canabinóides legais agora disponíveis na Grécia, mas produtos de THC com teor superior a 0,3% não estavam disponíveis até ao mês passado. Eu mesma faço a maioria dos produtos da minha filha com plantas que eu ou amigos cultivamos para ela. A manteiga é um padrão, óleos para uso emergencial e até mesmo material vegetal inteiro. Normalmente compramos CBD no mercado e recentemente decidimos experimentar o Epidyolex, que agora já está disponível mediante receita médica na Grécia.

Como é a situação actual do acesso à canábis medicinal na Grécia?
Temos um acesso muito bom a produtos canabinóides legais de todos os tipos – CBD, CBG, CBN, CBDA, etc. e numa variedade de formas, incluindo flores. No entanto, foi aprovada uma lei em 2021 que proíbe a importação de produtos que contenham mais de 0,3% de THC e, portanto, ficamos à espera, aguardando os produtos cultivados localmente por empresas gregas desde 2017, quando a canábis medicinal foi descriminalizada pela primeira vez. Ainda no mês passado, a primeira flor foi disponibilizada no mercado, um produto equilibrado CBD:THC e muito mais serão disponibilizados nos próximos meses, acreditamos. Foi uma longa espera pelos pacientes.

A Jacqueline faz parte do Conselho de Pacientes da IACM, que está presente, pela primeira vez, na 67ª sessão da Comissão de Estupefacientes (CND) das Nações Unidas (ONU), de 14 a 22 de Março, em Viena, na Áustria. Qual seria o melhor resultado deste encontro, na sua perspectiva e da IACM?
Se a ONU/CND considerasse a desclassificação total da canábis, ou pelo menos para uso medicinal, evitaríamos todas estas estruturas jurídicas complicadas que tiveram de contornar as restrições dos tratados internacionais. Esta planta é, de facto, um botânico terapêutico tradicional utilizado há milénios pelos seres humanos. Os impedimentos legais que dificultam a investigação e o acesso dos pacientes à canábis são um crime que precisa de ser combatido. O reconhecimento e a inclusão da canábis na farmacopeia dos medicamentos fitoterapêuticos beneficiaria toda a humanidade e não apenas as grandes empresas farmacêuticas, que correm para encontrar formas de garantir a exclusividade.

Quais são os maiores desafios que enfrenta como uma mãe que luta pelo acesso à canábis?
O estigma. O facto de as pessoas ouvirem ‘canábis’ e não pensarem num medicamento. Eles pensam apenas nos danos que nos disseram que ela provoca (a maioria dos quais são, na verdade, criados pelo sistema ilegal que leva as pessoas ao mercado negro) e reconhecem apenas o seu uso recreativo, que é uma compreensão unidimensional da planta. Depois, o custo. Para muitos de nós, o custo dos produtos que chegaram ao mercado é inacessível, porque a maioria das famílias não tem cobertura de planos de seguro. Falta de apoio. Os médicos são dolorosamente ignorantes quando se trata de canabinóides e dos seus efeitos no corpo humano. Muitos são até abertamente contra o uso de canábis, especialmente na medicina pediátrica. Isto obriga os pais a terem de tomar sozinhos decisões médicas sérias para os seus filhos, sem o apoio de um médico para os orientar durante o processo e assumir a responsabilidade. Isto pode ter resultados devastadores em famílias que já estão terrivelmente sobrecarregadas, emocional e psicologicamente, muitas vezes levando a experiências traumáticas para os irmãos, acrescentando stress indevido aos relacionamentos e até mesmo conduzindo à dissolução das famílias.

Se pudesse decidir, como resolveria a situação da canábis na Europa?
Numa palavra: regulamentar. Disponibilizar a canábis numa multiplicidade de formas e acesso, legalizando e regulamentando o processo, garantindo que produtos seguros e de qualidade estejam disponíveis para qualquer uso que se decida ser apropriado na vida de cada paciente. Igualmente, fazer com que a canábis esteja disponível para todos os cidadãos europeus, independentemente do país em que residam. A canábis é uma planta que pode oferecer tanto a tantas pessoas que realmente não há necessidade de se preocupar com a amplitude do mercado. Produtos farmacêuticos disponíveis mediante receita médica nas farmácias. Pontos de comercialização especializados, de acesso aberto ao mercado adulto. Associações de canábis onde o cultivo e espaços de cultivo partilhados tornam possível a especificidade e a experimentação que vemos ser frequentemente necessária no uso médico. O incentivo às pequenas indústrias caseiras, que desenvolvem produtos de alta qualidade, enriquecendo as economias locais e proporcionando empregos para jovens e curiosos empreendedores. Isto levaria a uma explosão na investigação e no investimento que, por si só, resolveria muitos dos problemas que enfrentamos. A União Europeia tem no seu cerne a visão de uma Europa onde todos os cidadãos gozem de direitos e benefícios iguais. Só legalizando e regulamentando a canábis em toda a UE poderemos falar de um dia em que todos os pacientes terão direito à terapia da sua escolha.

 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, Laura Ramos tem uma pós-graduação em Fotografia e é Jornalista desde 1998. Vencedora dos Prémios Business of Cannabis na categoria "Jornalista do Ano 2024", Laura foi correspondente do Jornal de Notícias em Roma, Itália, e Assessora de Imprensa no Gabinete da Ministra da Educação do 21º Governo Português. Tem uma certificação internacional em Permacultura (PDC) e criou o arquivo fotográfico de street-art “Say What? Lisbon” @saywhatlisbon. Co-fundadora e Editora do CannaReporter® e coordenadora da PTMC - Portugal Medical Cannabis, Laura realizou o documentário “Pacientes” e integrou o steering group da primeira Pós-Graduação em GxP’s para Canábis Medicinal em Portugal, em parceria com o Laboratório Militar e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

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