Ciência
Revisão sistemática e meta-análise demonstram potencial do CBD na redução da frequência das crises na Epilepsia

A epilepsia, enquanto doença neurológica crónica, afecta um número substancial de indivíduos a nível global, com um subconjunto significativo de doentes a demonstrar uma resposta insatisfatória aos medicamentos antiepilépticos convencionais. A investigação recente tem-se centrado cada vez mais no canabidiol (CBD), um composto não psicotrópico derivado da planta canábis sativa, como uma potencial opção terapêutica para doentes com epilepsia farmacorresistente. A presente revisão sistemática e meta-análise avalia a eficácia do CBD na redução da frequência das crises epilépticas, destacando as principais conclusões, metodologias e futuras direcções para a prática clínica.
A epilepsia é uma patologia caracterizada por crises recorrentes e não provocadas, que podem ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Embora até 80% dos doentes obtenham controlo das crises com monoterapia padrão, cerca de 20% permanecem farmacorresistentes. Estes doentes continuam a sofrer de crises frequentes e imprevisíveis que perturbam as actividades diárias, limitam a capacidade funcional e sobrecarregam os prestadores de cuidados. A procura de tratamentos alternativos levou os médicos e investigadores a investigar as propriedades anticonvulsivantes do canabidiol.
O canabidiol apresenta-se como uma opção terapêutica particularmente promissora, devido aos seus múltiplos benefícios, incluindo efeitos anticonvulsivantes, neuroprotetores e até antidepressivos, sem as propriedades psicoactivas tipicamente associadas a outros compostos derivados da canábis. Considerando as opções de tratamento limitadas para a epilepsia farmacorresistente, o potencial do CBD para reduzir significativamente a frequência das crises está a suscitar um interesse substancial na comunidade médica.
Uma abordagem rigorosa de revisão sistemática
Com o objectivo de determinar a verdadeira eficácia do CBD na redução das convulsões na epilepsia farmacorresistente, os investigadores recorreram a revisões sistemáticas e meta-análises orientadas pelo protocolo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). Esta abordagem metódica garante que os dados compilados em vários estudos são robustos e fiáveis.
Estratégia de pesquisa e selecção de estudos
Procedeu-se à meticulosa pesquisa em várias bases de dados, incluindo o PubMed/MEDLINE, o Google Scholar e o Scielo, utilizando palavras-chave específicas, tais como “Cannabidiol”, “Epilepsia” e “Epilepsia Resistente a Medicamentos”. A pesquisa restringiu-se a publicações em inglês e português num período definido, garantindo a relevância e a actualidade dos dados. Os estudos foram incluídos se:
- Envolveu doentes com epilepsia farmacorresistente.
- Implementação do CBD como uma nova intervenção.
- – Usaram modelos de ensaios clínicos aleatórios e double-blind.
- Relatou dados quantitativos que permitiram o cálculo das alterações da frequência das crises.
Após a remoção de duplicados e a aplicação de critérios de inclusão rigorosos, foram seleccionados alguns estudos de elevada qualidade para uma análise detalhada.
Extracção de dados e análise estatística
Os dados de cada estudo foram extraídos utilizando formulários padronizados. As variáveis-chave incluíram o desenho do estudo, o número de participantes, as variações de dosagem, a frequência das crises antes e depois do tratamento e quaisquer efeitos adversos relatados. Foi utilizado um modelo de efeitos aleatórios para analisar as alterações na frequência das convulsões, fornecendo uma representação abrangente dos dados num gráfico de floresta. O recurso a um software estatístico avançado, como o RevMan® 5.4, facilitou a geração de valores de P fiáveis e assegurou a consistência entre os estudos analisados.
Impacto do canabidiol na frequência das convulsões
Os dados compilados dos estudos seleccionados demonstraram um resultado promissor para os pacientes tratados com CBD. Em média, os sujeitos que receberam canabidiol registaram uma redução de aproximadamente 41% no número de convulsões, em comparação com uma redução de 18% nos grupos de placebo. Este resultado indica uma taxa de resposta 127% superior entre os doentes tratados com CBD.
Comparações de dosagem e eficácia
Foi observada uma resposta dose-dependente ao CBD. Estudos que compararam diferentes dosagens (tipicamente 10 mg/kg/dia versus 20 mg/kg/dia) demonstraram que uma dosagem mais elevada proporcionava, geralmente, uma melhoria de 12% no controlo das crises. Todavia, é imprescindível ponderar os benefícios de uma dose mais elevada em relação ao risco acrescido de efeitos adversos. Os efeitos secundários mais comuns relatados incluíram a elevação das enzimas hepáticas, sedação e diminuição do apetite. Estes efeitos adversos sublinham a necessidade de uma monitorização cuidadosa, especialmente em doentes com problemas hepáticos pré-existentes.
Análises de subgrupos: Síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut
Os estudos analisados centraram-se predominantemente em pacientes com síndrome de Dravet e síndrome de Lennox-Gastaut, duas formas graves de epilepsia que demonstram uma resistência notória aos tratamentos convencionais. Nestes subgrupos, a resposta ao CBD foi estatisticamente significativa, embora tenha sido observada alguma variabilidade nos resultados. Por exemplo, enquanto alguns doentes registaram reduções drásticas na frequência das crises (chegando mesmo a ficar sem crises), outros apresentaram melhorias mínimas ou nulas. Esta heterogeneidade sugere que os factores individuais dos doentes podem influenciar a eficácia do tratamento com CBD.
Equilíbrio entre eficácia e segurança
Embora a eficácia do CBD na redução da frequência das crises seja promissora, há vários aspectos que merecem uma discussão mais aprofundada.
Efeitos adversos e monitorização da segurança
A preocupação predominante associada ao tratamento com CBD reside no seu potencial para induzir efeitos adversos. A revisão sistemática demonstrou que uma proporção significativa de pacientes experimentou efeitos secundários, incluindo sonolência, inapetência e diarreia. A elevação das transaminases séricas, frequentemente até três vezes acima dos níveis basais, indica a necessidade de monitorização contínua da função hepática durante o tratamento com CBD. Os doentes com doenças hepáticas subjacentes podem necessitar de estratégias de gestão alternativas e recomenda-se a monitorização regular das enzimas durante os primeiros meses de tratamento.
Variabilidade na resposta dos doentes
A variabilidade da resposta ao tratamento em doentes com epilepsia farmacorresistente continua a ser uma questão complexa. Alguns doentes, designados “bons respondedores”, apresentaram uma redução da frequência das crises superior a 50%, enquanto outros obtiveram benefícios menos pronunciados. Esta heterogeneidade sublinha a necessidade imperativa de planos de tratamento personalizados e de mais investigação para identificar factores preditivos que possam auxiliar na determinação dos doentes com maior probabilidade de beneficiar da terapia com CBD.
Considerações metodológicas
A similaridade das metodologias de estudo entre os ensaios analisados potencia a fiabilidade da meta-análise. A maioria dos estudos incluiu um período de medição inicial, seguido de uma fase de tratamento estruturada com aumentos de dose controlados e um plano de redução gradual definido. Contudo, a notável redução das crises observada nos grupos de placebo suscita questões sobre a potencial influência do efeito placebo e das expectativas dos doentes. O rigoroso desenho duplo-cego destes estudos destinava-se a mitigar tais enviesamentos, mas os resultados sugerem que métodos adicionais de recolha e análise de dados podem refinar ainda mais a nossa compreensão da eficácia do CBD.
A necessidade de estudos a longo prazo
Todos os estudos analisados decorreram em períodos de tratamento relativamente breves (normalmente, cerca de 12 semanas), o que suscita uma limitação na nossa compreensão da segurança e eficácia a longo prazo do CBD. A investigação futura deve centrar-se em períodos de tratamento alargados para avaliar se os benefícios do CBD se mantêm ao longo do tempo e para compreender melhor quaisquer efeitos adversos cumulativos que possam surgir do uso prolongado.
Implicações clínicas e direcções futuras
Dada a existência de provas convincentes que apoiam o papel do CBD na redução da frequência das crises epilépticas, há fortes argumentos para a sua inclusão em novos protocolos de tratamento da epilepsia farmacorresistente. Contudo, é imperativo enfrentar diversos desafios antes que o CBD possa ser extensamente adoptado na prática clínica.
Integração do CBD nos algoritmos de tratamento
Apesar da sua eficácia promissora, a adopção do CBD nas directrizes de tratamento padrão continua a ser limitada em muitas regiões. Em países como o Brasil, por exemplo, a utilização do CBD é actualmente gerida caso a caso e não está integrada nos algoritmos oficiais de tratamento. Os obstáculos regulamentares e de custo, bem como a necessidade de importação, agravam significativamente a sua implementação. Por conseguinte, as autoridades de saúde devem considerar a possibilidade de investir na investigação local e em reformas políticas para facilitar um acesso mais alargado ao CBD como parte dos sistemas de saúde públicos.
Identificação de marcadores preditivos de resposta
A optimização dos resultados do tratamento depende da identificação de biomarcadores ou indicadores clínicos que prevejam uma resposta positiva ao CBD. A compreensão das diferenças individuais na resposta ao tratamento, que podem ser significativas, pode conduzir ao desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais personalizadas e eficazes.
Melhorar a acessibilidade e reduzir os custos
Os aspectos económicos da terapia com CBD são igualmente determinantes. O elevado custo associado ao CBD, agravado por questões relacionadas com a importação e a aprovação regulamentar, condiciona a sua acessibilidade. Nesse sentido, os sistemas de saúde pública e os decisores políticos devem actuar de forma concertada, de modo a negociar preços mais vantajosos, simplificar os processos regulamentares e, eventualmente, incluir o CBD na lista de medicamentos essenciais, com o objectivo de facilitar o acesso dos doentes.
Uma via promissora para o controlo das convulsões
O actual conjunto de provas sugere que o canabidiol proporciona uma redução significativa da frequência das crises em doentes com epilepsia farmacorresistente. Com uma redução média de mais de 40% na contagem de crises em comparação com o placebo, o CBD destaca-se como um potente tratamento adjuvante. No entanto, o equilíbrio entre eficácia e segurança deve ser cuidadosamente gerido, particularmente à luz dos efeitos adversos dose-dependentes observados.
É necessária mais investigação para alargar estes resultados a períodos de tratamento mais longos e para determinar as estratégias de dosagem ideais que maximizem os benefícios e minimizem os riscos. Além disso, a variabilidade na resposta dos doentes exige uma abordagem personalizada ao tratamento, potencialmente orientada por biomarcadores preditivos.
Em última análise, à medida que mais dados clínicos se tornam disponíveis e as barreiras regulamentares são abordadas, o canabidiol pode emergir como uma pedra angular no tratamento da epilepsia farmacorresistente, oferecendo esperança de uma melhor qualidade de vida para milhões de pacientes em todo o mundo.
Ao sintetizar a investigação mais recente e ao fornecer uma análise exaustiva do potencial do CBD como agente antiepiléptico, esta revisão sistemática e meta-análise realça tanto a promessa como os desafios da integração do canabidiol nos protocolos de tratamento da epilepsia. À medida que avançamos, será essencial um esforço de colaboração entre investigadores, clínicos e decisores políticos para aproveitar plenamente os benefícios do CBD para aqueles que mais precisam dele.
Leia a revisão no documento abaixo:
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Com formação profissional em desenho técnico CAD (2D e 3D), João Xabregas é activista e defensor de todos os usos e aplicações da canábis. Encontrou e entrou no mundo canábico ainda durante os seus tempos de juventude, onde ganhou especial interesse pelo cultivo da planta, o que o levou a uma jornada de auto-aprendizagem pelo mundo da canábis que ainda continua nos dias de hoje. As suas aventuras ligadas ao cultivo de canábis iniciaram-se com o mesmo objectivo de muitos outros: poder garantir a qualidade e eliminar quaisquer possíveis riscos para a sua saúde daquilo que consumia, bem como evitar quaisquer tipos de dependências do mercado ilícito. No entanto, rapidamente passou a encarar o mundo da canábis e tudo o que a ela diz respeito com um olhar bastante diferente. Assume a enorme paixão que nutre pela planta mais perseguida do mundo e sobre a qual está sempre disposto a escrever e a ter uma boa conversa.
