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Saúde

Os canabinóides no tratamento da Doença de Parkinson

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Apesar de ainda serem necessários mais ensaios clínicos para confirmar os benefícios a longo prazo, o CBD (canabidiol) representa uma potencial nova abordagem no tratamento da Doença de Parkinson. Estudos sugerem que os canabinóides podem não apenas aliviar os sintomas motores, mas também proteger os neurónios contra a degeneração, melhorando a qualidade de vida dos pacientes com menos efeitos adversos do que as terapias convencionais.

A Doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa crónica, progressiva, e uma das mais comuns no mundo, caracterizada por sintomas motores como tremores, rigidez e bradicinesia (lentidão dos movimentos). Esta patologia resulta, primariamente, da degeneração das células dopaminérgicas localizadas na substância negra do cérebro, levando a uma redução significativa dos níveis de dopamina, neurotransmissor essencial para o controle motor (Jankovic, 2008).

Estima-se que entre 7 a 10 milhões de pessoas em todo o mundo sejam afectadas por esta condição, sendo particularmente prevalente entre os indivíduos com mais de 60 anos, embora possa ocorrer antes dos 50 anos em cerca de 5% dos casos, como nas formas genéticas da doença (Tysnes & Storstein, 2017).

Sintomas

Os sintomas da Doença de Parkinson variam entre os indivíduos e podem incluir:

  • Bradicinesia/Discinesia: Movimentos involuntários, reduzidos ou excessivos.
  • Tremor de repouso: Tremores que ocorrem quando os músculos estão em repouso e geralmente desaparecem com o movimento.
  • Rigidez muscular: Aumento da resistência ao movimento passivo dos membros e tronco.
  • Instabilidade postural: Dificuldade em manter o equilíbrio, associada à lentidão dos movimentos.
  • Sintomas não motores: Incluem disfunções autonómicas, perturbações do sono, obstipação, disfunções urinárias, e problemas cognitivos como depressão e ansiedade (Kalia & Lang, 2015).

Causas

As causas da Doença de Parkinson ainda não são completamente compreendidas, embora factores genéticos e ambientais estejam implicados. Certas mutações genéticas, como as nos genes LRRK2 e PARK7, foram associadas ao desenvolvimento da doença.

A exposição a toxinas ambientais, como pesticidas, também tem sido correlacionada com um aumento do risco de desenvolver a doença (Kouli et al., 2018). Além disso, o envelhecimento é um factor de risco significativo, pois as funções celulares e neuronais, incluindo a produção de dopamina, declinam com a idade (Jankovic, 2008).

Estudos recentes apontam também a disbiose — ou desequilíbrio da flora intestinal, causado pela redução de espécies de bactérias benéficas na microbiota e acompanhado, muitas vezes, pela proliferação de espécies de bactérias prejudiciais ao nosso bem-estar — como uma das causas deste tipo de doenças.

Tratamento

Actualmente, o tratamento da Doença de Parkinson foca-se no alívio dos sintomas, uma vez que ainda não existe cura para a doença. A terapêutica de primeira linha inclui a administração de levodopa, um precursor da dopamina, que alivia eficazmente os sintomas motores, mas pode levar ao desenvolvimento de discinesias (movimentos involuntários) com o tempo (Olanow et al., 2009).

Nos últimos anos, os canabinóides, particularmente o cannabidiol (CBD), têm sido estudados devido ao seu potencial terapêutico no alívio dos sintomas da Doença de Parkinson. O CBD, um composto não psicotrópico da planta da canábis, demonstrou propriedades neuroprotectoras e antioxidantes que podem ajudar a proteger os neurónios dopaminérgicos da morte celular, retardando a progressão da doença (Garcia et al., 2015).

Um estudo clínico conduzido por Zuardi et al. (2009) investigou os efeitos do CBD em pacientes com DP que apresentavam sintomas psicóticos induzidos pela levodopa. Os resultados mostraram uma redução significativa dos sintomas psicóticos sem impacto negativo na função motora dos pacientes. Posteriormente, um estudo de Chagas et al. (2014) demonstrou que a administração de CBD melhorou significativamente a qualidade de vida e o bem-estar geral dos pacientes com Parkinson. Outros estudos confirmam que o CBD tem o potencial de reduzir a discinesia induzida pela levodopa, além de melhorar a rigidez muscular e proporcionar um melhor controle motor (Müller-Vahl et al., 1999).

Mecanismo de Acção dos Canabinóides na Doença de Parkinson

Os canabinóides actuam nos receptores CB1 e CB2 localizados nos gânglios basais, regiões cerebrais implicadas no controlo motor. Além disso, têm um papel antioxidante, protegendo os neurónios da degeneração (Garcia et al., 2015). Estudos sugerem que, em combinação com os tratamentos convencionais, como a levodopa, os canabinóides podem fornecer uma nova abordagem terapêutica para o tratamento da Doença de Parkinson, reduzindo os efeitos secundários e potencialmente retardando a progressão da doença (Sevcík & Masek, 2000).

Ensaios clínicos continuam a explorar o papel dos canabinóides no tratamento de distúrbios do movimento, com resultados promissores em termos de redução dos tremores e da rigidez, sem os efeitos secundários adversos frequentemente associados aos tratamentos farmacológicos convencionais (Garcia et al., 2015; Müller-Vahl et al., 1999).

Conclusão

Embora o tratamento convencional para a Doença de Parkinson, como a administração de levodopa, continue a ser o pilar da terapêutica, os canabinóides, especialmente o CBD, têm emergido como uma opção complementar promissora. Estudos sugerem que os canabinóides podem não apenas aliviar os sintomas motores, mas também proteger os neurónios contra a degeneração, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Apesar de serem necessários mais ensaios clínicos para confirmar os benefícios a longo prazo, o CBD e outros canabinóides representam uma potencial nova abordagem no tratamento da Doença de Parkinson, com menos efeitos adversos do que as terapias convencionais (Chagas et al., 2014).

Bibliografia

  1. Jankovic, J. (2008). Parkinson’s disease: clinical features and diagnosis. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, 79(4), 368- 376. https://doi.org/10.1136/jnnp.2007.131045
  2. Tysnes, O. B., & Storstein, A. (2017). Epidemiology of Parkinson’s disease. Journal of Neural Transmission, 124(8), 901-905. https://doi.org/10.1007/s00702-017-1686-y
  3. Kalia, L. V., & Lang, A. E. (2015). Parkinson’s disease. The Lancet, 386(9996), 896-

    912. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(14)61393-3

  4. Kouli, A., Torsney, K. M., & Kuan, W. L. (2018). Parkinson’s disease: Etiology,

    neuropathology, and pathogenesis. In Parkinson’s Disease: Pathogenesis and Clinical Aspects (pp. 1-26). Codon Publications. https://doi.org/10.15586/codonpublications.parkinsonsdisease.2018

  1. Garcia, M., Cinquina, V., Palomo-Garo, C., Rábano, A., & Fernández-Ruiz, J. (2015). Identification of CB2 receptors in human nigral neurons that degenerate in Parkinson’s disease. Brain Research, 1605, 1-4. https://doi.org/10.1016/j.brainres.2015.01.017
  2. Zuardi, A. W., Crippa, J. A., Hallak, J. E., et al. (2009). Cannabidiol for the treatment of psychosis in Parkinson’s disease. Journal of Psychopharmacology, 23(8), 979- 983. https://doi.org/10.1177/0269881108096519
  3. Chagas, M. H., Eckeli, A. L., Zuardi, A. W., et al. (2014). Cannabidiol can improve complex sleep-related behaviours associated with rapid eye movement sleep behaviour disorder in Parkinson’s disease patients: A case series. Journal of Clinical Pharmacy and Therapeutics, 39(5), 564-566. https://doi.org/10.1111/jcpt.12179
  4. Müller-Vahl, K. R., Kolbe, H., Schneider, U., & Emrich, H. M. (1999). Cannabis in movement disorders. Forschende Komplementärmedizin, 6(Suppl 3), 23- 27. https://doi.org/10.1159/000021269
 

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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]

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Soraia Tomás, licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra em 2015, desempenhou funções nos cuidados intensivos de cirurgia Cardio-Torácica e transplantação pulmonar em Lisboa. Neste momento trabalha no Spine Center, serviço de cirurgia à coluna e unidade de cuidados intensivos de cirurgia geral no Hospital da Luz em Coimbra, cidade onde reside. Entusiasta na área da Canábis Medicinal, é membro do conselho científico do Observatório Português de Canábis Medicinal, esteve presente em conferências neste âmbito (Portugal Medical Cannabis, Cannabis Europa, CannX, entre outras) e obteve uma pós-graduação em GMP’s para Canábis Medicinal, curso realizado pelo Observatório Português de Canábis Medicinal em parceria com o Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Presidente da Direcção Geral da APCANNA– Associação Portuguesa de Informação sobre Canábis, pretende desenvolver projetos dedicados à divulgação, educação e formação em canábis medicinal a profissionais de saúde e ao público em geral, promovendo desta forma a excelência na prática profissional e o acesso seguro e eficaz a terapias com canabinóides.

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