Crónica
A ciência por trás do Hashishene e a sua química secreta

Ao longo da história, os seres humanos têm produzido um tipo de haxixe com características químicas únicas, ao isolar os tricomas glandulares das plantas de canábis, comprimindo-os e deixando-os passar por um peculiar processo de cura. Essa prática milenar resulta no que se conhece hoje como hashishene, um produto que muitos apreciadores de canábis consideram possuir qualidades distintas em relação à planta original. Mas o que causa essa transformação específica e como se processa?
Algumas pesquisas sobre o composto raro hashishene trouxeram novos insights sobre a química que sustenta o haxixe. Esse fenómeno químico não apenas diferencia o haxixe da flor de canábis, mas também levanta questões intrigantes sobre os terpenos e a sua influência na química da planta.
O hashishene, cujo nome científico é 5,5-dimetil-1-vinilbiciclo[2.1.1]hexano, é uma molécula única que se forma durante o processo de cura do haxixe. Ela surge quando o mirceno, um terpeno comum da canábis, passa por uma transformação química. Diferentemente de outros terpenos, como o geraniol e o linalol, que aparecem naturalmente em baixas concentrações nas plantas, o hashishene só se consegue encontrar no haxixe envelhecido.
Identificado em 2014 por uma equipa de cientistas, o hashishene exemplifica como condições específicas podem transformar a canábis, destacando o potencial químico singular dessa planta quando trabalhada de maneira tradicional.
Como se forma o hashishene e que efeitos particulares possui?
A criação do hashishene é impulsionada por factores ambientais como a luz, o calor e a pressão ao longo do tempo. Ao contrário de muitos terpenos, que se degradam devido à oxidação quando expostos ao ar, o hashishene segue um caminho único na sua formação.
Ao contrário dos produtos oxidativos, o hashishene é um verdadeiro terpeno composto apenas por átomos de carbono e hidrogénio. Os investigadores referem-se a ele como um produto fotolítico, o que significa que os fotões de luz ajudam a converter o mirceno em hashishene sem que ocorra oxidação. Embora saibamos que a luz, o calor e a pressão desempenham um papel importante, há pouca investigação sobre o tempo exacto que esta transformação demora ou a quantidade de hashishene que se forma.
Actualmente, existem poucos dados sobre os efeitos do hashishene. Embora seja teoricamente possível isolá-lo e testá-lo em ratinhos ou células humanas, estudar os seus efeitos no mundo real, dentro da complexa mistura de terpenos e canabinóides do haxixe, continua a ser um desafio.
Actualmente, não há nenhuma investigação que demonstre como o hashishene interage com o corpo humano, pelo que os seus efeitos são especulativos. No entanto, a sua presença marca uma diferença distinta entre o haxixe e a flor de canábis.
Para os consumidores, a presença de hashishene representa a química única do haxixe, mas não se traduz em efeitos ou benefícios claros para a saúde. Se pretende a experiência tradicional do haxixe envelhecido, garantir a presença de hashishene no produto pode ser vantajoso. No entanto, sem compreender o seu impacto específico, a sua importância permanece pouco clara.
Actualmente, os laboratórios comerciais que realizam testes à canábis não medem rotineiramente o hashishene nos produtos. Os padrões de referência química para o hashishene só recentemente ficaram disponíveis e, até que a procura por parte dos consumidores aumente, os testes para este composto continuarão a ser raros.
Como maximizar os níveis de hashishene?
De acordo com um artigo publicado na The Cannigma, os produtores de extractos que pretendem aumentar os níveis de hashishene deverão começar com material de canábis rico em mirceno. O mirceno serve como molécula precursora que se transforma em hashishene ao longo do tempo.
Para promover a produção de hashishene:
- Minimizar a exposição ao ar: Os métodos tradicionais envolvem pressionar firmemente o haxixe em placas ou bolas e envolvê-las para evitar a oxidação.
- Aplicar pressão e calor: Permitir que o haxixe cure num ambiente ligeiramente quente e vedado ao ar acelera o processo de transformação.
Algumas culturas chegam mesmo a enterrar o haxixe embrulhado para maior protecção, mostrando a importância da pressão e do controlo ambiental na produção de haxixe.
Outras transformações de terpenos no haxixe
O mesmo grupo de investigação que descobriu o hashishene também identificou derivados raros de cariofileno e humuleno em amostras de haxixe envelhecido. Estes compostos não se encontram habitualmente na natureza, o que realça a singularidade do haxixe prensado. Uma vez que o beta-cariofileno e o humuleno (alfa-cariofileno) são abundantes na canábis, o estudo das suas transformações pode revelar marcadores adicionais que permitam diferenciar o haxixe das flores de canábis.
Já o falecido especialista em haxixe. Frenchy Cannoli, tinha liderado a Iniciativa de Investigação de Tricomas, num esforço de colaboração para examinar as alterações químicas no haxixe prensado ao longo de seis meses. Este estudo ofereceu informações valiosas para todos os amantes do haxixe e da canábis, tais como:
- Transformações de canabinóides: Ao longo do tempo, os níveis de THCA no haxixe diminuíram à medida que os níveis de delta-9-THC aumentaram através da descarboxilação. Além disso, as concentrações de THCV e CBC aumentaram, provavelmente devido à descarboxilação contínua dos seus precursores ácidos.
- Estabilidade dos canabinóides totais: Apesar destas alterações, os valores globais de THC total e CBD total mantiveram-se relativamente estáveis.
- Perdas de terpenos: Os monoterpenos como o mirceno, o pineno e o limoneno registaram diminuições significativas, quer devido à evaporação quer à transformação em compostos não medidos.
Embora o estudo não tenha medido especificamente o hashishene, as alterações observadas nas concentrações de mirceno apoiam a ideia de que os terpenos do haxixe sofrem transformações ao longo do tempo.
Porque é que o haxixe provoca uma sensação diferente da flor de canábis?
A singularidade do hash resulta provavelmente de uma combinação de factores, incluindo:
- Transformações de terpenos: Compostos como o hashishene e derivados raros de cariofileno e humuleno formam-se durante a cura.
- Mudanças de canabinóides: A descarboxilação gradual altera o perfil dos canabinóides.
- Complexidade química: O haxixe contém uma mistura dinâmica de terpenos e canabinóides que interagem de forma sinérgica.
Embora o hashishene seja uma descoberta relativamente recente, a sua existência oferece um vislumbre fascinante da complexidade química do haxixe envelhecido. A investigação de Marchini e esforços como a Iniciativa de Investigação de Tricomas de Frenchy Cannoli revelam que o haxixe sofre transformações únicas que o distinguem das flores de canábis e dos extractos modernos como óleos, destilados ou resins/rosins.
À medida que o conhecimento científico aumenta, o haxixe pode ganhar um novo reconhecimento pelas suas qualidades distintas entre os entusiastas e conhecedores de canábis. Com mais investigação, poderemos descobrir mais sobre o hashishene e os muitos outros compostos que contribuem para o atractivo intemporal do haxixe.
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[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
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Com formação profissional em desenho técnico CAD (2D e 3D), João Xabregas é activista e defensor de todos os usos e aplicações da canábis. Encontrou e entrou no mundo canábico ainda durante os seus tempos de juventude, onde ganhou especial interesse pelo cultivo da planta, o que o levou a uma jornada de auto-aprendizagem pelo mundo da canábis que ainda continua nos dias de hoje. As suas aventuras ligadas ao cultivo de canábis iniciaram-se com o mesmo objectivo de muitos outros: poder garantir a qualidade e eliminar quaisquer possíveis riscos para a sua saúde daquilo que consumia, bem como evitar quaisquer tipos de dependências do mercado ilícito. No entanto, rapidamente passou a encarar o mundo da canábis e tudo o que a ela diz respeito com um olhar bastante diferente. Assume a enorme paixão que nutre pela planta mais perseguida do mundo e sobre a qual está sempre disposto a escrever e a ter uma boa conversa.
