A utilização do Canabidiol (CBD) generalizou-se um pouco por todo o mundo, mas será este canabinóide a panaceia para todas as maleitas? Para ajudar a clarificar o que tanto se apregoa sobre o CBD, muitas vezes sem respaldo na ciência, Raphael Mechoulam lançou um livro, em co-autoria com Linda Parker e Erin Rock, da Universidade de Guelph, em Ontário, no Canadá.
Trata-se de uma revisão abrangente da literatura científica sobre os possíveis benefícios do CBD, que descreve os resultados de estudos pré-clínicos e ensaios clínicos em humanos, ajudando a perceber melhor o verdadeiro potencial deste canabinóide. O livro, editado pela MIT Press, aborda várias patologias, desde a Epilepsia à Ansiedade, Psicose ou Esquizofrenia, tem 320 páginas e custa cerca de 30 euros.
Mechoulam começou a estudar os canabinóides ainda nos anos 60, em Israel
Raphael Mechoulam, muitas vezes chamado de “o pai da pesquisa sobre canábis”, é professor de Química Medicinal na Universidade Hebraica de Jerusalém e vencedor de inúmeros prémios, entre os quais o Prémio Harvey de 2019, por contribuições extraordinárias à ciência e tecnologia. Mechoulam colabora há vários anos com a psicóloga e neurocientista Linda A. Parker, que também é professora emérita no Programa de Psicologia e Neurociência Colaborativa da Universidade de Guelph e autora do livro Cannabinoids and the Brain. Parker trabalha em conjunto com Erin M. Rock, bolseira de pós-doutoramento e membro do corpo docente adjunto na Universidade de Guelph. Os autores relatam que a actual moda do CBD tem “alguma base em pesquisas pré-clínicas com animais”, que indicam potenciais efeitos benéficos, mas nem sempre isso significa que se aplique aos humanos. Os estudos clínicos, prejudicados pelos regulamentos que regem a pesquisa com canábis, ficaram para trás da investigação básica com animais.
Os autores examinam o que a investigação demonstra sobre os aspectos químicos e farmacológicos do CBD e a interacção do CBD com o THC, o principal composto psicotrópico encontrado na canábis. Os autores analisaram extensivamente as publicações científicas sobre o canabidiol e apresentam os resultados da literatura científica revista pelos pares. O livro resulta numa revisão compreensiva do estado actual do conhecimento sobre a eficácia do CBD no tratamento de patologias tão diversas como a epilepsia, o cancro, a adicção, a neuroprotecção, a náusea, a dor, a ansiedade, a depressão e o stress pós-traumático, os distúrbios do sono, a psicose e a esquizofrenia, entre outras.
A professora canadiana Linda Parker tem trabalhado de perto com Mechoulam
O CBD (canabidiol), um composto não intoxicante derivado da planta canábis, pode ser encontrado em produtos que vão desde óleos, flores, loções e smoothies até cosméticos, bolachas, gomas e guloseimas para animais de estimação. O canabidiol tem sido promovido – mas nem sempre cientificamente validado – como um tratamento para condições médicas. A obra agora publicada analisa a ciência do CBD e oferece uma revisão abrangente da literatura científica sobre os possíveis benefícios do CBD, descrevendo resultados de estudos clínicos, pré-clínicos e humanos.
Margaret Haney, Directora do Laboratório de Pesquisa de Canábis e Professora de Neurobiologia do Centro Médico Irving da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, disse, a propósito do lançamento do livro, que “o CBD é um tópico cercado de casos anedóticos e exageros, mas este livro oferece uma avaliação acessível, oportuna e imparcial das evidências. Sem exagerar ou empurrar uma agenda específica (problemas que são abundantes no campo da canábis), o livro levanta questões científicas críticas e é uma contribuição importante e interessante para a literatura”.
Também Shawn Hauser, sócio da empresa de cânhamo e canabinóides Vicente Sederberg, referiu que “a ciência dos canabinóides é nova e o mercado cresceu a um ritmo mais rápido do que a pesquisa e a regulamentação. Este livro fornece um resumo abrangente e baseado em factos, que é desesperadamente necessário para consumidores, pacientes, profissionais e formuladores de políticas, para informar para a tomada de decisões importantes”.