Internacional
Brasil: Marcas exploram marketing da canábis em produtos sem canábis

O mercado da canábis não-medicinal está a reinventar-se cada vez mais no Brasil. Algumas empresas estão a fazer sucesso com cosméticos, outras vendem suplementos de proteína para atletas e a última moda são os bombons em forma de flores de canábis. Tudo isto seria maravilhoso se os produtos realmente tivessem canábis, mas tanto o hidratante como a proteína e os bombons apenas exploram o marketing da planta: os produtos não contêm nada derivado da canábis.
A agência de vigilância sanitária do Brasil, a Anvisa, permite apenas o uso da canábis para fins medicinais e somente através da importação. Plantar canábis também não é, teoricamente, permitido no Brasil. Além disso, a canábis para fins cosméticos, alimentares ou têxteis não está prevista na lei. A legislação, contudo, não reflecte um cenário de ebulição desses produtos em todo o mundo. Para não perder essa onda, os empresários usam a criatividade para aproveitar o momento de crescimento do sector da canábis e todo o apelo que o tema gera nos activistas da causa.
Foi o que fez o farmacêutico e bioquímico Rafael Borges, que se juntou ao empresário Bohumil Bartonicek para fundar a Cannabingredients, cujo principal produto é o Hemp Protein. A empresa processa cânhamo cultivado na China para produção de proteína em pó. O produto é voltado para a suplementação alimentar de atletas.
“Apesar de não ter cânhamo, o produto leva HEMP no nome e a embalagem é ilustrada com folhas de canábis”.
“Quando a gente começou a identificar que os alimentos de cânhamo são muito comuns fora do Brasil e que aqui ficavam num limbo legal, a gente falou ‘pronto é isso que a gente quer’, porque não tem gente explorando isso e a nossa meta é popularizar a canábis, não só na parte medicinal, mas também alimentar. Então por isso a gente escolheu o alimento com a parte macro nutricional que é a proteína”, explicou Bohumil.
Segundo Rafael Borges, o atleta garante uma melhora de carga proteica e recupera o músculo de forma muito mais rápida com a proteína do cânhamo do que com o whey protein e de uma forma muito mais saudável. Porém, os brasileiros não podem vender o produto no país natal. Hoje, o Hemp Protein está disponível nos EUA, Canadá, Equador e Uruguai. No Brasil, a solução foi colocar no mercado o “Like Hemp Protein”, que é a base das proteínas da ervilha, arroz e fava.

Like Hemp Protein, suplemento proteico com nome e folhas de ‘hemp’, mas sem o ‘hemp’
“Eu comecei a pesquisar profundamente os benefícios do cânhamo para a saúde. Mas chamou atenção a quantidade de BCA, que são três aminoácidos essenciais: Leucina, Isoleucina, Valina. E o cânhamo possui uma propriedade desses BCAs muito relevante. Nós testamos mais de 10 proteínas para chegar a um produto que tivesse a mesma concentração e proporção de BCAs”, garante o cientista. Apesar de não ter cânhamo, o produto leva HEMP no nome e a embalagem é ilustrada com folhas de canábis.
Mais audaciosos foram os empresários da Croc Buds, uma marca de bombons que imitam o formato de uma flor de canábis. O produto também é livre de qualquer derivado da planta. O ingrediente mais próximo da canábis que os bombons têm são os terpenos, como o diesel ou o lime kush, porém oriundos de outras plantas. Apesar de não conter canábis, o produto promete experiências relaxantes, revigorantes ou que promovem a criatividade. Mas, para não ficar tão longe do universo canábico, a Croc Buds também comercializa itens para o uso adulto, como piteiras.
À procura de alternativas para a proibição
Além do uso comestível, a canábis também está a ser explorada mundo afora como um produto cosmético, seja pelos seus efeitos calmantes, analgésicos e anti-inflamatórios, seja também pelo seu aroma perfumado. E no Brasil, o quarto maior mercado de produtos cosméticos do mundo, as empresas olham com muito interesse.
Além dos próprios canabinóides, como o CBD e o THC, comuns em produtos medicinais, o óleo da semente do cânhamo também tem propriedades benéficas para a pele.
Mas num cenário de proibição, as empresas têm procurado alternativas para o mercado brasileiro. Nesse sentido, a Beraca, empresa especializada no desenvolvimento de tecnologias e matérias-primas para a indústria de cosméticos e farmacêutica, lançou o que eles chamam de “uma alternativa legal ao canabidiol”, o Beracare Cannabinoid Active System (CBA).
Segundo a empresa, o composto é uma mistura de óleos amazónicos e, assim como o canabidiol, seria um fitocanabinóide responsável pela produção de beta-endorfinas que promovem a sensação de bem-estar, redução da inflamação e melhorias na cicatrização da pele.

Croc Buds, bombons de chocolate no formato de canábis, mas sem qualquer canábis
“Estamos felizes por manter o nosso pioneirismo com o lançamento de um produto 100% natural, brasileiro e legalizado. Embora o nome remeta para o Canabidiol, o Beracare CBA não possui nenhum componente ligado propriamente à canábis sativa na sua fórmula”, afirma Marianna Cyrillo, gerente de Comunicação e Marketing da Beraca.
No entanto, segundo a farmacêutica e bioquímica Luzia Sampaio, pós-doutorada em Fisiologia com ênfase na canábis medicinal, o CBD é basicamente composto por beta-cariofileno, um terpeno bastante presente na canábis e noutras plantas, mas não pode ser chamado de “fitocanabinóide”.
“Eles usam o óleo de copaíba, que é rico em beta-cariofileno, mas nem sequer doseiam os níveis dessa substância. O beta-cariofileno é um terpeno que apresenta, sim, actividade canabi-mimética, mas quando administrado em altas doses. Ele não é um canabinóide e não pode ser tratado como se fosse”, pondera.
Este cenário pode mudar, ainda em 2022, quando for votado pelos parlamentares brasileiros um projecto de lei que legaliza o cultivo de canábis para fins medicinais e também industriais, onde está incluído o uso em alimentos e cosméticos. A proposta já passou numa comissão.
O momento político do Brasil, no entanto, não é favorável à aprovação desse tema, já que o presidente Jair Bolsonaro é um opositor radical da canábis. Os deputados que apoiam o projecto acreditam que apenas em 2023, numa eventual vitória do candidato de oposição, Lula da Silva, o projecto possa ter chance de ser aprovado e finalmente a canábis ser legalizada no Brasil.
___________________________________________________________________
Este artigo foi originalmente publicado na edição #6 da Cannadouro Magazine
____________________________________________________________________________________________________
[Aviso: Por favor, tenha em atenção que este texto foi originalmente escrito em Português e é traduzido para inglês e outros idiomas através de um tradutor automático. Algumas palavras podem diferir do original e podem verificar-se gralhas ou erros noutras línguas.]____________________________________________________________________________________________________
O que fazes com 3€ por mês? Torna-te um dos nossos Patronos! Se acreditas que o Jornalismo independente sobre canábis é necessário, subscreve um dos níveis da nossa conta no Patreon e terás acesso a brindes únicos e conteúdos exclusivos. Se formos muitos, com pouco fazemos a diferença!
